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África está se partindo em duas e pode dar origem a um novo oceano

Processo geológico iniciado há milhões de anos avança pelo Rift Africano Oriental e revela como forças internas da Terra estão, lentamente, redesenhando o continente

Júlia Morgado

Publicado em 23/12/2025 às 23:00

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O Vale do Rift Africano marca uma das transformações geológicas mais profundas em curso no continente / Reprodução X/@geologyBits

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A África passa por um processo geológico lento, porém contínuo, que vem redesenhando o continente ao longo de milhões de anos. Estudos recentes apontam que a grande placa africana está se fragmentando em duas partes desiguais, a placa somali, menor, e a placa núbia, maior. Esse movimento pode, em um futuro distante, deve resultar na formação de um novo mar entre essas duas massas de terra.

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De acordo com pesquisas científicas, essa separação é impulsionada por forças internas da Terra. A dinâmica do manto e o deslocamento de rochas parcialmente fundidas sob a crosta provocam o afastamento gradual das placas, um fenômeno típico das zonas tectônicas ativas do planeta.

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A ruptura está diretamente associada ao Sistema do Rift Africano Oriental, uma das maiores fraturas geológicas do mundo. Essa imensa fissura se estende por milhares de quilômetros e atravessa diversos países africanos, como Etiópia, Quênia, República Democrática do Congo, Uganda, Ruanda, Burundi, Zâmbia, Tanzânia, Maláui e Moçambique.

Mapa tectônico mostra o traçado do Grande Vale do Rift e o limite entre as placas africana, somali e núbia/ Furado/Wikimedia Commons
Mapa tectônico mostra o traçado do Grande Vale do Rift e o limite entre as placas africana, somali e núbia/ Furado/Wikimedia Commons
Visualização do Rift Africano Oriental destaca a área onde a crosta do continente está sob maior tensão geológica/ En rouge/Wikimedia Commons
Visualização do Rift Africano Oriental destaca a área onde a crosta do continente está sob maior tensão geológica/ En rouge/Wikimedia Commons
Imagem de satélite da depressão de Afar, um dos pontos mais ativos do processo de separação do continente africano/ NASA/GSFC/METI/ERSDAC/JAROS, and U.S./Japan ASTER Science Team
Imagem de satélite da depressão de Afar, um dos pontos mais ativos do processo de separação do continente africano/ NASA/GSFC/METI/ERSDAC/JAROS, and U.S./Japan ASTER Science Team

Um estudo publicado em 2023 no Journal of Geophysical Research ajudou a esclarecer parte dos mistérios que cercam o crescimento do Rift Africano Oriental, analisando os fatores que favorecem a expansão dessa fratura tectônica ao longo do tempo.

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As evidências indicam que o processo teve início na região de Afar, no norte da Etiópia, há cerca de 30 milhões de anos, e desde então avança lentamente em direção ao sul, rumo ao Zimbábue, a uma taxa média de 2,5 a 5 centímetros por ano.

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A geóloga Lucia Pérez Díaz, integrante do Grupo de Pesquisa de Falhas Dinâmicas do Royal Holloway, explicou em uma matéria ao site científico sem fins lucrativos The Conversation, que o vale do Rift Africano Oriental se estende por mais de 3 mil quilômetros, desde o Golfo de Áden, ao norte, até o sul do continente.

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Segundo ela, a atividade ao longo do ramo oriental do sistema, que atravessa Etiópia, Quênia e Tanzânia, tornou-se mais evidente após o surgimento repentino de uma grande fissura no sudoeste do Quênia, episódio que chamou a atenção da comunidade científica internacional

O continente africano está assentado sobre essa extensa zona tectônica ativa conhecida como Grande Vale do Rift, uma região rebaixada que se forma justamente onde as placas tectônicas se afastam. Estruturas semelhantes existem tanto em áreas continentais quanto no fundo dos oceanos.

Quando a separação atingir um estágio mais avançado, explicam os especialistas, um novo oceano começará a se formar. Ao longo de dezenas de milhões de anos, o fundo marinho deverá avançar progressivamente por toda a extensão da fissura, transformando de vez a geografia da região.

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Um estudo conduzido em 2020 por pesquisadores da Virginia Tech sugere que esse processo pode ocorrer primeiro na porção norte do Rift. Segundo a geocientista D. Sarah Stamps, o ritmo de afastamento das placas é mais acelerado nessa área, o que aumenta a probabilidade de surgimento inicial de novos oceanos nessa região.

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Entre os episódios mais marcantes desse fenômeno está o ocorrido em 2005, quando uma fenda de cerca de 60 quilômetros se abriu de forma abrupta no oeste da Etiópia. Em poucos minutos, o solo se deslocou aproximadamente dois metros, uma mudança que, em condições normais, levaria séculos para acontecer. O evento intensificou o debate científico sobre a possibilidade de aceleração desse processo no futuro.

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Embora imperceptível na escala do cotidiano humano, a fragmentação da África é mais uma evidência de que a Terra está em constante transformação. Assim como o avanço dos desertos e o derretimento das geleiras, esse rompimento continental revela que mudanças profundas continuam em curso sob a superfície do planeta, e, na escala geológica, já representam um caminho sem volta.

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