Luzes desciam durante a noite e atacavam moradores; ciência não explica / Imagem gerada por IA/DL
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No fim de 1977, uma pequena cidade do interior do Pará virou sinônimo de medo, boatos e histórias que até hoje dividem pesquisadores. Na Ilha de Colares, na região do nordeste paraense, moradores passaram meses relatando luzes misteriosas que desciam do céu, perseguiam pessoas e deixavam marcas no corpo. O fenômeno, apelidado de chupa-chupa, assustou tanto a população que a Força Aérea Brasileira (FAB) montou uma operação militar para investigar o caso. Quase meio século depois, a temporada de terror ainda não tem uma explicação consensual.
Colares era — e continua sendo — um município pequeno, cercado de rios e manguezais. Em 1977, as noites da ilha começaram a ser cortadas por pontos luminosos que surgiam em silêncio sobre o céu escuro. Testemunhas descreviam objetos em forma de esfera ou de cilindro que pairavam sobre casas e árvores e, de repente, disparavam feixes de luz em direção ao chão.
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Quem dizia ter sido atingido relatava sensação de calor intenso, paralisia momentânea, tontura, mal-estar e fraqueza. Algumas pessoas apareceram no posto de saúde com pequenas marcas arredondadas na pele e um quadro de palidez e queda de pressão, como se tivessem perdido sangue. Era o suficiente para alimentar a ideia de que as luzes “sugavam” algo das vítimas — daí o apelido chupa-chupa.
O medo espalhou-se rápido. Famílias passaram a dormir em grupo, com redes estendidas em uma mesma sala, janelas fechadas e fogueiras acesas do lado de fora na tentativa de espantar o fenômeno. Procissões religiosas percorriam as ruas pedindo proteção, enquanto a imprensa paraense estampava manchetes sobre “luzes misteriosas” e “aparelhos que queimam pessoas”.
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Diante do pânico generalizado e da repercussão dos casos em jornais locais, autoridades municipais pressionaram por uma resposta. Em outubro de 1977, a Força Aérea Brasileira enviou à região uma equipe de militares e técnicos do 1º Comando Aéreo Regional, sediado em Belém. A missão recebeu o codinome Operação Prato.
Os militares montaram base em Colares e em outras localidades do litoral paraense. Armados não com armas, mas com câmeras fotográficas, filmadoras, binóculos e equipamentos de medição, eles passaram semanas fazendo vigílias noturnas, registrando depoimentos e produzindo relatórios. Parte desses documentos, hoje disponíveis no Arquivo Nacional, descreve a observação de “corpos luminosos” realizando movimentos bruscos no céu, mudando de cor e de direção, aparecendo e desaparecendo sem explicação.
Relatórios internos da Aeronáutica também registram depoimentos de moradores que relatavam paralisia, queimaduras leves e tremores após supostamente serem atingidos pelos feixes de luz. Médicos militares chegaram a examinar vítimas e a anotar alterações físicas, embora sem conseguir associá-las de forma conclusiva a uma causa conhecida. Oficialmente, a Operação Prato foi encerrada no fim de 1977, sem que a FAB apontasse a origem do fenômeno.
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O fim da missão militar não encerrou o mistério. Nos anos seguintes, ufólogos passaram a apontar Colares como um dos casos mais impressionantes de supostos ataques de objetos voadores não identificados no mundo, citando os documentos da Aeronáutica como prova de que “algo fora do comum” aconteceu na região.
Pesquisadores de ciências humanas, por sua vez, mergulharam na memória dos moradores para entender como medo, religião, boatos e experiência cotidiana se misturaram na construção do chupa-chupa. Entrevistas de história oral mostram uma população pobre, pouco assistida pelo Estado e fortemente ligada a crenças populares, tentando dar sentido a um fenômeno que parecia escapar a qualquer referência conhecida. Ao mesmo tempo, esses estudos reconhecem que o volume de relatos, a chegada dos militares e os registros oficiais de queimaduras e mal-estar mantêm aberta a pergunta sobre o que, de fato, foi observado.
Do lado da ciência “dura”, não há consenso. Algumas hipóteses levantadas ao longo das décadas falam em descargas elétricas atmosféricas raras, plasmas luminosos, ilusões óticas potencializadas por condições específicas de umidade e temperatura, ou ainda em uma combinação de fenômenos naturais com pânico coletivo. Nenhuma delas, porém, foi demonstrada de forma definitiva a partir de dados de campo — em parte porque o fenômeno não voltou a se manifestar com a mesma intensidade e porque a investigação sistemática na época foi limitada.
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Hoje, Colares leva uma vida relativamente tranquila, mas ainda convive com a fama de “ilha das luzes” entre ufólogos, curiosos e pesquisadores. Histórias de 1977 seguem sendo recontadas em rodas de conversa, reportagens especiais, documentários e podcasts. Boa parte dos protagonistas envelheceu ou já morreu, mas filhos e netos guardam relatos de noites em que a população dormia vestida, com medo de ser surpreendida por um clarão que vinha do céu.
Quase cinquenta anos depois, o episódio permanece em uma zona cinzenta: bem documentado demais para ser descartado como lenda, mas cheio de lacunas para ser explicado com segurança pela ciência. Entre arquivos militares, memórias de moradores e análises acadêmicas, Colares continua ocupando um lugar raro no mapa do Brasil — o de uma cidade onde um fenômeno luminoso deixou marcas físicas, psicológicas e históricas, sem que ninguém, até hoje, tenha conseguido dizer com certeza o que realmente aconteceu.