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Modelos de simulação mostram efeitos em cidades, ondas de choque devastadoras e por que a chance disso ocorrer é quase nula
Simulador usa IA para mostrar cometa se aproximando do Brasil / Imagem gerada por IA
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A aproximação do cometa interestelar 3I/ATLAS, que cruza o Sistema Solar em 2025, reacendeu uma velha pergunta: e se um dia um cometa grande resolver mirar a Terra?
Apesar do imaginário de "pedra de gelo assassina" alimentado por filmes de desastre, a realidade é bem menos cinematográfica e bem mais estatística. E, no curto prazo, a notícia é boa: 3I/ATLAS não oferece qualquer risco de impacto. Ele deve passar a centenas de milhões de quilômetros da Terra em dezembro de 2025, mais longe do que a distância que nos separa do Sol.
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A passagem desse visitante de outra estrela, porém, é um ótimo gancho para entender o que aconteceria se um cometa realmente viesse na nossa direção inclusive no cenário de um impacto sobre o Brasil.
3I/ATLAS é apenas o terceiro objeto interestelar já detectado passando pelo nosso "quintal cósmico", depois de 1I/ʻOumuamua (2017) e 2I/Borisov (2019). Ele foi descoberto em 2025 e sua órbita hiperbólica mostra que não nasceu aqui: veio de fora do Sistema Solar, cortando o plano das órbitas dos planetas e já está de saída.
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Os cálculos de órbita feitos por observatórios do mundo inteiro indicam uma rota segura: o cometa passou na vizinhança de outros planetas, agora apenas "cumprimenta" a Terra de longe e segue viagem rumo ao espaço interestelar. Não há nenhum cenário de impacto nas simulações atuais.
Ainda assim, ele serve como lembrete de que cometas existem, são reais e às vezes cruzam a órbita do nosso planeta.
Na prática, quem mais ameaça a Terra hoje não são os grandes cometas, e sim os asteroides próximos: corpos rochosos que circulam pelo Sistema Solar interno e, em alguns casos, cruzam a órbita terrestre. Estudos de risco indicam que impactos por asteroides são muito mais prováveis do que impactos por cometas de longo período.
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Mesmo assim, a probabilidade por objeto é minúscula. Estimativas clássicas apontam que um cometa de longo período, em órbita que cruze a da Terra, tem chance média de impacto da ordem de 1 em bilhões a cada passagem. Em escala de tempo humana, esse risco é praticamente zero; em escala de milhões de anos, é parte da "lotérica" normal do Sistema Solar.
O Brasil já tem, inclusive, um "fantasma" ligado a impactos celestes: o chamado evento do rio Curuçá, no oeste do Amazonas, em 13 de agosto de 1930. Moradores relataram céu avermelhado, poeira, assobios no ar e explosões que balançaram a região.
Décadas depois, pesquisadores sugeriram que poderia ter sido um tipo de "mini-Tunguska", causado por fragmentos de meteorito ou por um pequeno corpo celeste explodindo na atmosfera. Estimativas falam em energia equivalente a dezenas de bombas de Hiroshima, liberadas em área remota e sobre a floresta, o que reduz drasticamente o risco para grandes populações.
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Se algo parecido acontecesse hoje sobre uma grande cidade brasileira, os danos poderiam ser sérios em escala regional: janelas estouradas, estruturas danificadas, risco para pessoas na área de maior efeito da onda de choque. Ainda assim, estaríamos falando de um evento raríssimo e extremamente improvável em qualquer recorte de poucas gerações.
Em vez de contar só com a sorte, a comunidade internacional montou uma espécie de sistema de vigilância de impacto.
A NASA mantém programas dedicados a localizar e acompanhar asteroides e cometas que passem perto da Terra, usando telescópios em solo e no espaço e sistemas automáticos que simulam possíveis órbitas e riscos para os próximos 100 anos.
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Na Europa, a ESA opera um centro de coordenação para objetos próximos da Terra e participa de missões de defesa planetária e de novos telescópios que devem melhorar a detecção de corpos pequenos, escuros ou mal posicionados em relação ao Sol.
A ONU, por meio do escritório para assuntos do espaço, coordena redes internacionais de alerta e grupos que discutem protocolos globais de resposta caso um risco real de impacto seja identificado.
No caso específico de um grande cometa descoberto em rota preocupante, a janela de reação provavelmente seria mais curta do que a de muitos asteroides, porque cometas de longo período costumam ser detectados já relativamente perto do Sol. Por isso, novos telescópios de varredura ampla do céu são considerados peça-chave para ganhar tempo o que pode significar desde evacuações regionais até, no futuro, missões de desvio para corpos potencialmente perigosos.
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Voltando ao cometa da vez: 3I/ATLAS serve muito mais como laboratório científico e espetáculo astronômico do que como ameaça. Ele ajuda a estudar a química de objetos vindos de outras estrelas, a dinâmica de cometas e o funcionamento das redes de monitoramento globais, que acompanham sua passagem em detalhes.
Para quem olha da Terra, a pergunta "e se um cometa caísse aqui?" é compreensível, mas a resposta é menos dramática do que o cinema sugere:
*As informações deste texto se baseiam em dados e documentos de agências espaciais como NASA e ESA, em relatórios da ONU sobre objetos próximos da Terra e defesa planetária, em materiais de divulgação de instituições como a Planetary Society e em estudos científicos sobre riscos de impacto, cometas e eventos como o do rio Curuçá, publicados por pesquisadores que investigam explosões atmosféricas e quedas de corpos celestes.
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