Usando os dados de GPS, os cientistas conseguiram identificar corretamente em 82% dos casos / Freepik
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Motoristas mais velhos costumam diminuir a quilometragem, evitar dirigir à noite e optar por percursos já conhecidos.
Essas adaptações são comuns, mas uma pesquisa de longo prazo conduzida pela Academia Americana de Neurologia aponta que esses ajustes aparentemente simples do dia a dia podem estar associados a fases iniciais de declínio mental, mesmo antes da confirmação de um quadro de comprometimento cognitivo leve.
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Para chegar a essa conclusão, os cientistas monitoraram o padrão de direção de idosos por meio de dispositivos GPS instalados nos veículos, registrando dados durante um período de até 40 meses. Esses registros foram comparados a avaliações clínicas e de memória realizadas todos os anos.
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Os pesquisadores, liderados por Ganesh M. Babulal, da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, acompanharam 298 condutores idosos ao longo de mais de três anos.
Os voluntários tinham, em média, 75 anos, dirigiam ao menos uma vez por semana e continuavam ativos ao volante no início da investigação.
Entre eles, 56 já apresentavam comprometimento cognitivo leve, enquanto os outros 242 eram considerados cognitivamente saudáveis.
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Cada veículo recebeu um registrador de dados GPS que monitorava automaticamente todas as viagens, do momento da partida até a chegada.
O sistema também registrava informações como extensão do percurso, duração da viagem, horário, velocidade, frenagens e eventuais desvios da rota. Além disso, os participantes realizavam periodicamente testes de memória e avaliações cognitivas.
A análise também considerou fatores genéticos, incluindo a presença do gene associado ao risco de Alzheimer.
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No começo do estudo, as diferenças entre os grupos praticamente não existiam. Com o passar do tempo, porém, os participantes com comprometimento cognitivo leve começaram a dirigir menos, reduziram as distâncias percorridas e passaram a evitar caminhos novos.
A condução no período noturno também diminuiu de forma evidente, enquanto as rotas habituais permaneceram quase sempre as mesmas.
Usando os dados de GPS, os cientistas conseguiram identificar corretamente, em 82% dos casos, se um participante havia desenvolvido comprometimento cognitivo leve.
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Quando essas informações eram combinadas com idade, resultados de testes e dados genéticos, a precisão subia para 87%. Sem o apoio dos registros de direção, a taxa ficava em 76%. Babulal destacou:
“Utilizando um dispositivo de rastreamento de dados GPS, conseguimos determinar com mais precisão quem havia desenvolvido problemas cognitivos do que apenas com a idade, testes de memória ou fatores genéticos”, contou em entrevista divulgada pelo portal Chip.
O estudo indica que transformações discretas na rotina de direção podem servir como um alerta precoce de declínio cognitivo – muito antes de os primeiros lapsos de memória se tornarem evidentes no cotidiano.
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Menor diversidade de rotas: escolhas espontâneas ou percursos alternativos tornaram-se menos frequentes.
"Observar o comportamento diário ao volante é uma forma relativamente simples e discreta de avaliar as habilidades cognitivas", afirma Babulal.
Esse acompanhamento permite identificar motoristas em risco de forma antecipada, antes que ocorram acidentes ou quase colisões, situações mais comuns em estágios mais avançados.
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Os especialistas reforçam que detectar precocemente motoristas em risco também é essencial para a saúde pública, pois possibilita intervenções que garantam segurança e autonomia pelo maior tempo possível.
Ao mesmo tempo, eles alertam para a importância da responsabilidade no uso das informações coletadas.
"Devemos respeitar a autonomia, a privacidade e a capacidade de tomada de decisão informada das pessoas, e garantir que os padrões éticos sejam mantidos", afirma Babulal.
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