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Cultura

Videolocadora resiste à pirataria e ao streaming e completa 28 anos em Santos

"Tenho esta locadora porque luto pela cultura e pela arte. Lá fora, por exemplo, o próprio povo tem mais boa vontade de combater o mercado negro. Aqui a gente não vê isso", desabafa Marcelo Rosendo Datoguêa, dono da Vídeo Paradiso.

Jeferson Marques

Publicado em 31/08/2019 às 07:05

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A Vídeo Paradiso chega ao seu 28º aniversário e resiste à pirataria. / NAIR BUENO/DIÁRIO DO LITORAL

Hoje, 31 de agosto, a Vídeo Paradiso comemora 28 anos de existência em Santos. Instalada no número 60 da Rua Nabuco de Araújo, no Boqueirão, ela é a única locadora de grande porte que ainda resiste ao tempo, aos serviços de streaming e, principalmente, à pirataria. Este, aliás, tem sido o grande vilão de Marcelo Rosendo Datoguêa, dono do local, e que agora lida também com a falta de interesse das produtoras em lançar os filmes em mídias físicas.

"A pirataria sempre foi o nosso principal problema, mesmo com os streaming. É lógico que, hoje, estes serviços me tiraram um pouco do público. Porém, o que tem me preocupado muito neste ano é a falta de interesse das produtoras em lançarem os seus filmes em mídias físicas", destaca.

A Vídeo Paradiso tem um acervo de respeito: ele vai desde VHS até o Blu-Ray, com sucessos contemporâneos, artísticos, clássicos e filmes europeus que, na maioria dos casos, não são disponibilizados nas plataformas de streaming mais utilizadas pelo público. Todavia, Datoguêa afirma que, sem a possibilidade de encontrar filmes em mídias físicas para comprar, a situação da sua locadora fica preocupante.

"Não posso te afirmar que vou fechar as portas. É claro que o meu lucro, hoje, está reduzido. E o público que vem aqui ainda procura pelas novidades. Se eu não tiver a possibilidade de comprar filmes novos para oferecer, sinceramente, não sei como se desenhará este cenário. Estou bastante preocupado", conta.

Datoguêa disse que uma das maiores produtoras de filmes, a California, está perdendo o interesse em vender seus filmes em mídia física pela baixa procura. "Por telefone eles me disseram que um dos seus filmes, que estava no cinema, não chegou a ter cem pedidos de mídia física. Ou seja, pra eles não era viável", diz.

Perguntado se as pessoas que consumiam esse tipo de mídia estavam migrando para plataformas mais modernas de locação - via controle remoto, por exemplo -, Datoguêa surpreendeu na resposta. "Não. As pessoas estão deixando de assistir. Essa é a análise que eu faço. O foco das pessoas cresceu muito em séries e novelas. Fora que, mesmo as pessoas que tem assinatura de serviços de streaming, muitas delas baixam o filme antes mesmo de ele chegar lá. Como falei: a pirataria é o grande problema", reflete.

CINÉFILOS?

"Sem querer ofender as pessoas, mas Santos está cheio de cinéfilos de meia-tigela. Digo isso porque nem as pessoas que se dizem conhecedoras do assunto tem visto as locadoras como grande referência. Muitas pessoas que estão neste segmento deveriam visitar mais as locadoras", desabafa Datoguêa.

Falando sobre o público que ainda frequenta a Vídeo Paradiso, Datoguêa diz que existem aqueles que locam muitos filmes e os que aparecem de forma casual. Todos em um volume muito menor do que em anos anteriores. Boa parte é de pessoas mais velhas, mas ele lembra que muitos jovens também aparecem por lá. "É o que me dá esperança, ver os jovens que ainda vem aqui, pois eles não assistem mais filmes desta maneira", comenta.

Outro fator interessante destacado por Datoguêa é sobre a ligação do seu público com os filmes de terror.

Apesar de confessar não preferir este tipo de gênero, ele salienta que muitas pessoas que ainda vão até a Paradiso gostam do gênero. E essa é uma informação curiosa já que, na opinião dele, "muitos filmes de terror são ruins, mal produzidos e mesmo assim ainda são consumidos".

A ÍNDOLE DAS PESSOAS

Datoguêa não mediu palavras para mostrar o seu descontentamento com a índole das pessoas em relação à pirataria. "Tenho esta locadora porque luto pela cultura e pela arte. Lá fora, por exemplo, o próprio povo tem mais boa vontade de combater o mercado negro. Aqui a gente não vê isso, pois o brasileiro está pouco se importando se é pirata ou não. Ele quer simplesmente assistir", lembra Datoguêa.

Ainda sobre a pirataria, Datoguêa diz que alguns de seus clientes chegam dizendo que acabaram de ver um filme que estava no cinema há poucos dias. Quando perguntados sobre como assistiram, pois o filme ainda não estava disponível na Netflix, por exemplo, eles respondem: ah, baixei na internet.

Depois de apontar tantos problemas e preocupações em ainda manter a Vídeo Paradiso aberta nestes 28 anos, Datoguêa finaliza dizendo que faz seu trabalho com amor e que ainda enxerga possibilidades das locadoras voltarem a ter alguma sobrevida. Mesmo acreditando que isso é muito difícil, mas não impossível.

"Eu amo o que eu faço. E acredito que o mercado dos streamings sofrerá algumas mudanças, pois estão chegando concorrentes com exclusividade de produções e isso deve pulverizar as assinaturas. Hoje quem assina apenas a Netflix poderá ter que assinar mais duas ou três plataformas, se realmente quiser ter boas opções. E, fazendo as contas, voltar às locadoras pode ser mais barato do que ter várias mensalidades de streaming", finaliza.

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