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Cultura

Maracatu Quiloa e o legado de etnias em solo santista

Dança folclórica de origem afro-brasileira é uma das manifestações típicas do Carnaval

Rafaella Martinez

Publicado em 05/02/2017 às 11:00

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Quiloa frequenta há 11 anos o Carnaval de Recife. Lá, o grupo integra a centenária Nação Porto Rico e a Nação Encanto do Pina - primeira e única a ter uma mestra / Rogério Santana

“A gente começa a não entender mais o maracatu quando o tambor começa a tocar. Eu sei que alguma coisa acontece com o corpo e a alma quando o tambor toca, mas não sei explicar o que é. O maracatu é indescritível, pois seu cortejo e sua vivência tem um significado único para cada um”. A fala é de Felipe Romano, que há 13 anos vive e coordena o batuque do tradicional ritmo nordestino do Maracatu, dança de origem afro-brasileira que integra o cortejo carnavalesco típico do Estado do Pernambuco. 

Em Santos, a tradição centenária se mescla com a cultura local e ressignifica espaços públicos do Centro Histórico, local de ensaio e sede da Associação Cultural Quiloa, primeiro grupo de Maracatu da Baixada Santista e o primeiro fora do Estado de Pernambuco a participar do Carnaval Multicultural de Recife.

No ambiente – que está sendo reformado pelos próprios integrantes do coletivo – as salas estão sendo preparadas para a ocupação cultural que tem como principal objetivo democratizar a cultura popular por meio da economia criativa e vivências culturais em linguagens artísticas.

No espaço, o branco que está sendo pintado nas paredes contrasta com o colorido dos tambores, bandeiras e alfaias - instrumentos que fazem parte do cortejo.

“Sentar, refletir, estudar, pesquisar e transmitir o que a gente tem de vivência na cultura do Maracatu. Esse espaço serve para a gente manter essa tradição. A gente traz os mestres para cá e também vamos até lá. Bebemos na fonte e trazemos as pessoas para regar aqui nosso espaço”, afirma Romano.

Uma das principais manifestações do Carnaval de Recife, Romano destaca que o Maracatu não é tão difundido por questões mercadológicas e preconceitos.

“O Maracatu não entrou em um processo de industrialização. Ele é feito por comunidades, como o samba, mas ainda é muito ligado às tradições dos terreiros. Como a sociedade ainda tem muito preconceito, ele não entrou no círculo industrializado. Quando o Maracatu desfila, prioriza alguns personagens que caracterizam as histórias daquele grupo específico comum” aponta Romano.

Na visão de Carol Real, manter viva a tradição do Maracatu é um ato de resistência. “Não é igual uma escola de samba e não consegue chegar na massa por não ter tanto apoio ou tanto apelo midiático. O foco sempre será a comunidade: com suas diferenças e suas contradições. As mulheres que resistem no samba, por exemplo, são bem diferentes das que brilham nos carnavais televisivos”, destaca Carol.

Cultura

O Maracatu é uma manifestação brasileira de matrizes africanas do Estado do Pernambuco que surgiu em meados do século XVIII, a partir da miscigenação musical das culturas portuguesa, indígena e africana.

No cortejo são encenados os elementos da corte: o rei e a rainha, que simbolizam, na nação nagô, o rei Xangô e a rainha Iansã. Eles se apresentam com roupagem da corte portuguesa, pois como naquela época não era possível manter as tradições africanas. O cortejo aparentemente tinha o intuito de alegrar, quando na verdade era um grito velado em defesa da tradição.

O Maracatu Quiloa frequenta há 11 anos o Carnaval de Recife. Lá, o grupo integra duas nações: a centenária Nação Porto Rico e a Nação Encanto do Pina (primeira e única nação a ter uma mestra na regência).

Cortejo propõe reflexão sobre identidade e resistência

Colorindo e musicalizando desde 2005 as ruas do Centro, o 12º Cortejo desfilará no próximo domingo, dia 12 de fevereiro. A passeata acontece simultaneamente com na 5ª – Mostra de Arte Maracatu Quiloa. 

Durante a semana diversas atividades estão programadas para auxiliar na difusão da arte e promover uma reflexão sobre identidade, resistência e tradição. 

A abertura oficial fica a cargo do cantor Antônio Nóbrega, no dia 9 de fevereiro, às 21h no Sesc Santos, com o Show Semba. Pernambucano militante e freveiro ativista, Nóbrega trata para Santos a força tradicional do gênero centenário e formas de samba oficiais. 

A Mostra faz uma homenagem às mulheres, Naná Vasconcelos e ao encontro de maracatu de Itu de 2003. “Se pegarmos uma analise histórica sobre fortalecimento das manifestações de cultura popular, não só Maracatu, todas passam por uma resistência que vem do papel da mulher. Então a figura feminina, principalmente nas manifestações que tem o berço em religiões de matrizes africanas, a figura feminina é central. Ao longo da história as mulheres trazem esse papel de reerguer a comunidade e trabalhar com a identidade e vínculos da comunidade”, aponta a agbê Hellen Neves.

Carol Real acrescenta que as mulheres precisam ocupar o papel de protagonista. “A mulher só podia participar se ela tivesse dançando. A partir mais ou menos dos anos 2000 a mulher começou a ocupar o espaço do batuque. No Quiloa formamos o Baque Mulher, regido pela mestra Joana”, finaliza.

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