Cultura

História de Cubatão será recontada por grupo de teatro

Por muitos anos, Cubatão - a cidade de origem dos integrantes do Coletivo 302 - foi um não lugar para um sonho compartilhado

Rafaella Martinez

Publicado em 13/08/2018 às 12:50

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História de Cubatão será recontada por grupo de teatro / Rodrigo Montaldi/DL

Na geografia, um não lugar é o oposto de residência: é o termo dado aos espaços públicos de rápida circulação; aos lugares de passagem. Por muitos anos, Cubatão - a cidade de origem dos integrantes do Coletivo 302 - foi um não lugar para um sonho compartilhado: semear cultura e ganhar a vida de forma digna com a arte. Questionar essa ideia, resgatar a identidade do multicultural povo cubatense e estabelecer uma relação de amor e pertencimento com a cidade: esse é o objetivo do grupo recém-contemplado com o ProAC de produção de espetáculo inédito e temporada de teatro.

Único grupo de teatro na cidade contemplado com o edital, o Coletivo 302 deu o pontapé inicial em um projeto de trilogia chamado ‘Zanzalá’ (em alusão a Afonso Schimidt), que fomentará uma pesquisa sobre a construção imagética de Cubatão, com o intuito de discutir memória, identidade e pertencimento. 

“Em nosso primeiro ProAC de produção de primeiras obras onde criamos o espetáculo ‘República’, baseado justamente em nossa saída e retorno à cidade, já tínhamos em mente que queríamos falar sobre Cubatão. Aqui sempre foi uma terra de passagem entre Santos e São Paulo. Mas é preciso ter em mente que esse ‘não lugar’ trouxe muita riqueza para o Brasil e tem uma história rica e que precisa ser contada. Além disso acreditamos e insistimos que podemos sim ganhar a vida com arte na nossa terra, fazendo um teatro que dialogue com o povo daqui”, conta Sander Newton, um dos integrantes do ­Coletivo.

A primeira etapa do processo é conversar com os antigos moradores da extinta Vila Parisi, bairro que ficou conhecido por ser um lugar violento, insalubre e de condições precárias, que contribuiu com o estigma que a cidade carrega de Vale da Morte. Para isso, o grupo tem se baseado na tradição oral e coletado entrevistas com moradores.

‘Você morou na Vila Parisi? Vamos conversar?!’ – o pedido escrito em giz na lousa tem percorrido diversos pontos da cidade e promovendo um intercâmbio de histórias: material bruto para a criação do projeto. “Temos o cuidado de gravar todos os depoimentos pois o principal objetivo é criar um material documental para nossa cidade. Para além do espetáculo, pensar nesse registro com um curta, como um livro... como uma história rica e esquecida”, complementa Matheus Lípari, também ator.

Diversos artistas da cidade irão compor a equipe técnica e a direção será de uma profissional do Teatro da Vertigem, grupo com expressiva pesquisa entre as relações do teatro com a cidade de São Paulo. Após a Vila Parisi, o Coletivo pretende se debruçar na história da Vila Fabril e da Vila Socó.

“Cubatão foi palco de uma das maiores tragédias da história com o incêndio da Vila Socó e parece que ninguém se lembra disso. Muita gente que mora aqui não conhece a sua própria história. Queremos, a partir do Zanzalá, recuperar a memória e reafirmar a ideia e o orgulho de ser Cubatense”, conta a atriz Sandy Andrade.

Ponto de Cultura

O Galpão Cultural de Cubatão, local de experimentos de arte e sede do Coletivo 302 de Teatro, foi reconhecido pelo Ministério da Cultura (MinC)como um Ponto de Cultura, a partir dos critérios estabelecidos na Lei Cultura Viva (13.018/2014).

Em concordância com o Sistema Nacional de Cultura e com o Plano Nacional de Cultura, o MinC comprova que o Coletivo desenvolve e articula atividades culturais em Cubatão e contribui para o acesso, a proteção e a promoção dos direitos da cidadania e da diversidade cultural no Brasil.

“Nossa busca é pelo popular. Não temos o sonho de fazer o teatro da capital e nem o de Santos: queremos fazer o teatro de Cubatão, que dialogue e tenha significado para o seu José e para a dona Maria”, conta Sander.

“E nesse processo buscamos também reforçar a nossa própria identidade: somos os frutos do Teatro do Kaos que estão buscando a sua afirmação como profissionais da arte”, completa Matheus.

“Ainda não conseguimos viver de teatro, mas estamos fazendo o trabalho de formiguinha. Sempre nos questionamos se nossa arte está cumprindo sua função social e muito nos orgulha olhar para trás e ver que sim”, finaliza Sandy.

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