Cotidiano

Zeladoria, segurança e futuro: o que está no radar da Câmara de Santos

Presidente da Câmara Municipal, Adilson Júnior, destaca desafios e avanços na cidade, e defende ações práticas e integradas para melhorar a vida da população

Luana Fernandes Domingos

Publicado em 19/05/2025 às 07:00

Atualizado em 19/05/2025 às 09:13

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Presidente da Câmara de Santos, Adilson Júnior, este na redação do Diário do Litoral / Renan Lousada/DL

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Com cinco mandatos consecutivos na Câmara de Santos e atualmente em seu terceiro biênio como presidente da Casa, o vereador Adilson Júnior (PP) tem se destacado por uma atuação marcada pela presença constante nas ruas e pela cobrança firme da Prefeitura em questões fundamentais para o dia a dia da população.

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Em 2023 e em 2025, foi apontado em pesquisa Badra como o parlamentar com melhor desempenho da cidade — reconhecimento que ele atribui à escuta ativa, à proximidade com a população e ao trabalho coletivo.

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À frente da presidência do Legislativo santista, Adilson lidera uma Casa que busca maior autonomia e protagonismo, especialmente na fiscalização de obras, na destinação de emendas parlamentares e na revisão de legislações antigas, como o Código de Posturas. Um dos focos principais de sua atuação tem sido a zeladoria da cidade, tema que, segundo ele, ainda carece de respostas mais rápidas e eficientes por parte do Executivo.

Confira a entrevista completa cedido ao Diário do Litoral na última segunda-feira (12):

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Diário do Litoral - Recentemente a Prefeitura retomou o programa Viva Bairro. Você acha que essa ação é suficiente para cuidar da zeladoria de toda a cidade?

Adilson Júnior - Depende. Se o Viva Bairro for um instrumento para ouvir a população e entender suas demandas - e se isso vier acompanhado de soluções concretas e rápidas -, aí sim, acho que é um bom instrumento. O problema é quando se limita a escutar, sem oferecer uma resposta prática. Ou seja, se eu vou até o bairro, escuto as necessidades da população e consigo, com agilidade, entregar uma solução, o programa cumpre seu papel. Caso contrário, vira só uma escuta sem efetividade.

DL - E o que a Câmara tem feito para cobrar essa zeladoria? O que vocês estão planejando para que a Prefeitura atue de fato?

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Adilson - O vereador já é, por natureza, uma espécie de ouvidoria. Somos 21, e cada um circula por toda a cidade, ouvindo diretamente as pessoas. As demandas que apresentamos - como pedido de poda de árvore, tapa-buracos, melhorias na saúde ou educação - não vêm da nossa cabeça. São reclamações trazidas pela população. A frustração acontece quando as respostas não vêm na velocidade e forma que as pessoas esperam.

Nos últimos tempos, a Câmara tem usado as emendas parlamentares como instrumento para atender essas demandas. Ou seja, transformamos as reclamações em orçamento direcionado para o Executivo resolver. Mas claro que isso ainda está aquém do necessário, porque muitas dessas ações dependem exclusivamente da Prefeitura.

DL - Você percorre bastante a cidade. Qual tem sido hoje a maior reclamação da população de Santos?

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Adilson - Sem dúvida, segurança. Mesmo não sendo uma responsabilidade direta do poder municipal, é o que mais aflige as pessoas. A sensação de insegurança atinge todos: dos bairros mais humildes aos mais nobres. O município vem tentando contribuir, principalmente por meio da Guarda Municipal. Antes voltada apenas para a zeladoria e proteção dos próprios públicos, ela vem gradualmente assumindo um papel mais ativo na segurança, em parceria com as polícias Civil e Militar.

Hoje, a Guarda de Santos está sendo armada. Mas isso é um processo lento, principalmente por causa do perfil dos guardas mais antigos, que não foram formados com esse propósito. A mudança está vindo com os novos concursos, onde os guardas já entram com essa nova função em mente.

DL - E sobre as crateras que se abriram na cidade, resultado das chuvas e de construções problemáticas, como a Câmara tem atuado?

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Adilson - Temos trabalhado através das comissões de fiscalização de obras, especialmente cobrando concessionárias. Um exemplo é a SABESP. A Câmara aprovou uma lei que obriga a concessionária a recapear uma área maior quando faz uma obra. Antes, eles mexiam num ponto, tampavam e pronto. Isso gerava outro buraco em pouco tempo.

Outro problema são algumas construtoras que não entendem as características do solo de Santos. Já houve casos de empresas que repetidamente cometeram erros técnicos, resultando em crateras. Uma delas, inclusive, foi multada três vezes pela Prefeitura. A Câmara vem cobrando a Prefeitura para que responsabilize essas empresas e ampliando a legislação para exigir obras de melhor qualidade.

DL - A população em situação de rua é uma preocupação constante. O que tem sido feito?

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Adilson - A primeira coisa é separar dois universos: população em situação de rua e pessoas em drogadição. A população tende a ver tudo como uma coisa só, mas não é. Para os que estão em situação de rua por questões sociais, temos apostado em um conceito chamado housing first, que é tirar a pessoa da rua oferecendo moradia primeiro — antes de exigir contrapartidas.

Tentamos implementar isso em Santos por meio de uma legislação para buscar recursos do governo federal. A ideia é alugar imóveis e colocar essas pessoas sob acompanhamento.

Além disso, temos o Programa Fênix, que aprovamos na Câmara. Ele prevê que, ao tirar a pessoa da rua e colocá-la em abrigo, ela receba apoio financeiro - equivalente a um salário mínimo - para trabalhar meio período para o município. Também ampliamos os abrigos, tornando-os mais atrativos. Por exemplo, hoje muitos aceitam pessoas acompanhadas de seus animais de estimação.

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DL - A proposta de abrigo que gerou polêmica foi mal comunicada?

Adilson - Com certeza. O maior erro foi na comunicação. A proposta foi mal explicada, e as pessoas não entenderam. O princípio da comunicação falhou. Por isso, gerou tanta resistência. Há uma intenção de retomar a ideia em outro formato, mas ainda está em avaliação.

DL - A Câmara pretende atualizar o Código de Posturas da cidade. O que precisa mudar com urgência?

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Adilson - Muita coisa está completamente ultrapassada. Algumas regras são tão desatualizadas que, na prática, já nem são respeitadas. O código precisa ser adequado à realidade atual da cidade.

Um exemplo concreto: as escolas. Não há sinalização adequada, nem lombadas que obriguem os motoristas a reduzir a velocidade. Existe uma lei do vereador Zequinha prevendo lombadas em frente às escolas, mas nem sempre isso é suficiente.

Mais do que leis, precisamos de educação para o trânsito. Em Santos, muitos motoristas não respeitam a faixa de pedestres. Em cidades como Caraguá, Ubatuba ou até Bertioga, o motorista para quando vê o pedestre se aproximando. Aqui, infelizmente, isso ainda não acontece.

DL - A pesquisa Badra apontou o senhor como o melhor vereador de Santos. O que acredita que levou a esse reconhecimento?

Adilson - Recebi com muita satisfação. Sempre que um indicador te coloca numa posição de destaque, é motivo de gratidão — ainda que, sinceramente, eu não me prenda a estar em primeiro ou segundo lugar. O importante é exercer a função pública com dedicação.

No nosso caso, há uma busca constante por reciclagem, por estarmos presentes na vida das pessoas. Essa foi a eleição em que tive minha maior votação. A vida pública é cíclica. As demandas de dez anos atrás não são as de hoje. Estar atento às necessidades e saber respondê-las é essencial.

E acho que minha formação na comunicação também ajuda. Mesmo vindo do rádio, onde a gente mais ouvia do que falava, ainda mantenho essa escuta ativa — inclusive com um programa semanal na TV. Isso aproxima.

DL - O que os seus eleitores podem esperar dos projetos para 2025?

Adilson - A frase que me guia é: faça o melhor com aquilo que te oferecem, até que te ofereçam algo melhor, e aí você faça ainda mais. O mandato precisa estar cada vez mais presente - não só fisicamente, mas com sensibilidade.

Precisamos de soluções simples, mas eficazes, que realmente mudem a vida das pessoas. A ideia é pensar a cidade não só para o presente, mas também para o futuro - com ações que fiquem de pé.

DL - Santos é reconhecida pela qualidade de vida, mas isso nem sempre se reflete na Zona Noroeste. O que falta?

Adilson - Falta tratá-las como prioridade de verdade, não apenas em discurso. Um bom exemplo é o projeto “Ponta da Praia para Todos”, que inclui ações integradas em áreas degradadas: saneamento, infraestrutura, oferta de água potável e habitação digna.

Mais importante: mantendo as pessoas em seus territórios, respeitando seu modo de viver. Não adianta construir 1.100 casas no Tancredo Neves e tirar quem vive no Dique da Vila Gilda. Ações integradas como essa são o caminho.

DL - Como está hoje a relação entre Câmara e Prefeitura?

Adilson - Toda mudança institucional demanda tempo. Tivemos uma renovação significativa tanto na Câmara quanto no secretariado da Prefeitura. Esse “ajuste fino” é natural. Mas vejo que estamos entrando agora numa fase de maior harmonia, respeitando a independência dos poderes, mas atuando de forma cooperativa.

DL - A revitalização do Centro está no caminho certo?

Adilson - Eu acho que já começou a dar certo. A integração com a nova passarela vai melhorar o acesso, e a Câmara também tem contribuído - por exemplo, com isenção de IPTU por cinco anos para quem construir na região e com leis que incentivam o retrofit.

Só vamos revitalizar de fato o Centro quando trouxermos as pessoas de volta para viver lá. Precisamos pensar: o que será o Centro do futuro? E isso passa por moradia, cultura e serviços.

DL - Há muitas reclamações sobre a CET e os gargalos da Cidade, como a entrada de Santos, por exemplo. Como a Câmara tem atuado?

Adilson - Nossos instrumentos são requerimentos, indicações, sugestões. Já propusemos corredores exclusivos para motos e semáforos inteligentes. Mas nossa geografia é desafiadora. Santos tem poucos acessos, é uma cidade portuária, cercada por morros, rios e o mar. É um desafio técnico e estrutural.

DL - Qual serão os projetos que terão atenção máxima e destaque este ano na Câmara?

Adilson - Sim, a revisão do Código de Posturas, ajustes na Lei de Ocupação do Solo e a Lei de Ocupação da Área Continental. Com ela, poderemos permitir, por exemplo, a chegada de indústrias nessa região - algo que pode ser transformador.

DL - O senhor defende mais estrutura para a fiscalização legislativa. Por quê?

Adilson - O vereador é um agente fiscalizador, assim como um fiscal da vigilância sanitária, da Receita ou do meio ambiente. Mas, diferente deles, o vereador não tem estrutura para se deslocar até os locais. Nem todos têm carro ou carteira de motorista. Estamos estudando formas de garantir instrumentos, como um veículo institucional, para que os vereadores possam cumprir melhor seu papel. É uma necessidade real - especialmente numa cidade extensa como Santos.

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