Cotidiano

O que é e como funciona o uso de órgãos de porco

Uma visão geral sobre a definição, o mecanismo, os desafios e o status atual da pesquisa com transplantes entre espécies

Isabella Fernandes

Publicado em 14/08/2025 às 13:45

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O principal objetivo desta área de pesquisa é criar uma fonte sustentável de órgãos para suprir a demanda que não é atendida por doadores humanos. / Freepik e Divulgação

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O xenotransplante é um procedimento médico experimental que representa uma das fronteiras mais promissoras da ciência para solucionar a crise global de escassez de órgãos. Diante de longas filas de espera por um transplante, pesquisadores investigam a possibilidade de usar órgãos de animais, especialmente de porcos, como uma alternativa viável.

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O Diário oferece informações gerais sobre o que é o xenotransplante, como a tecnologia funciona, os principais desafios científicos e o estágio atual das pesquisas, com foco em fatos estabelecidos e no conhecimento científico.

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As informações aqui apresentadas são de caráter educativo e não substituem a orientação de um profissional de saúde.

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O que é xenotransplante?

Xenotransplante é o termo técnico para qualquer procedimento que envolve o transplante, implantação ou infusão de células, tecidos ou órgãos de uma espécie para outra. O nome deriva do grego xenos, que significa "estranho" ou "estrangeiro".

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O principal objetivo desta área de pesquisa é criar uma fonte sustentável de órgãos para suprir a demanda que não é atendida por doadores humanos.

Embora o conceito não seja novo, avanços recentes em engenharia genética renovaram o interesse e a viabilidade da prática. Os porcos são considerados os animais doadores mais adequados para humanos por diversas razões, incluindo:

  • Tamanho dos órgãos: O coração, os rins e o fígado de um porco são anatomicamente semelhantes em tamanho e função aos de um ser humano adulto.
  • Fisiologia similar: Existem muitas semelhanças fisiológicas entre as duas espécies.
  • Criação em larga escala: Porcos podem ser criados em grande número, em ambientes controlados e livres de patógenos.
  • Ciclo reprodutivo rápido: A gestação curta e as ninhadas grandes permitem a disponibilidade de doadores em um ritmo acelerado.

Como funciona o processo e quais os desafios?

O maior obstáculo para o sucesso de um xenotransplante é a rejeição do órgão pelo sistema imunológico do receptor. O corpo humano é programado para identificar e atacar violentamente qualquer tecido reconhecido como "não próprio", um processo que no xenotransplante ocorre de forma quase imediata e agressiva, conhecido como rejeição hiperaguda.

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Para superar essa barreira, cientistas utilizam técnicas avançadas de edição genética, como o CRISPR-Cas9. O processo envolve a modificação do DNA do porco doador para tornar seus órgãos mais compatíveis com o corpo humano.

Os principais desafios e etapas são:

  • Edição genética do doador: Genes suínos que codificam açúcares na superfície das células, responsáveis por desencadear a rejeição imediata, são "desligados" ou removidos. Em alguns casos, genes humanos são inseridos no genoma do porco para ajudar o sistema imunológico humano a reconhecer o órgão como mais familiar.
  • Prevenção de infecções: O DNA dos porcos contém retrovírus endógenos suínos (PERVs), que são sequências virais integradas ao genoma. Embora possam ser inofensivos para os porcos, existe uma preocupação teórica de que possam se tornar ativos e causar doenças em humanos. Por isso, a edição genética também é usada para inativar esses PERVs.
  • Controle da rejeição a longo prazo: Mesmo com as modificações genéticas, o risco de rejeição crônica (mais lenta) ainda existe. Pacientes que recebessem um xenotransplante provavelmente precisariam de medicamentos imunossupressores potentes para evitar que seu corpo ataque o novo órgão ao longo do tempo.
  • Compatibilidade fisiológica: É fundamental garantir que o órgão do porco não apenas sobreviva, mas também funcione adequadamente no corpo humano, regulando processos metabólicos e fisiológicos de forma correta.

Quando transplantes de porco podem se tornar realidade?

Atualmente, o xenotransplante ainda está em fase de pesquisa e desenvolvimento e não é um procedimento clínico padrão. No entanto, marcos significativos foram alcançados nos últimos anos, indicando um progresso acelerado.

Cirurgiões já realizaram com sucesso transplantes experimentais de rins e corações de porcos geneticamente modificados em pacientes com morte cerebral, que foram mantidos vivos por aparelhos.

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Guia sobre os transplantes de órgãos mais comuns no Brasil

Esses estudos permitiram observar o funcionamento dos órgãos em um corpo humano por um curto período, sem rejeição imediata. Também ocorreram os primeiros procedimentos em pacientes vivos, sob protocolos de uso compassivo, cujos resultados a longo prazo ainda estão sendo rigorosamente avaliados pela comunidade científica.

O caminho para que o xenotransplante se torne uma realidade clínica envolve:

  • Ensaios clínicos formais: O próximo passo crucial é a realização de ensaios clínicos controlados e aprovados por agências reguladoras, como a Anvisa no Brasil ou a FDA nos Estados Unidos, para avaliar a segurança e a eficácia do procedimento em um grupo maior de pacientes.
  • Resultados de longo prazo: Os pesquisadores precisam demonstrar que os órgãos transplantados podem funcionar de forma segura e eficaz por anos, não apenas dias ou meses.
  • Questões éticas e regulatórias: Um amplo debate sobre as implicações éticas, sociais e regulatórias do uso de animais como fonte de órgãos precisa acompanhar o avanço científico.

Ainda não há um cronograma definido para a ampla disponibilidade do xenotransplante. A maioria dos especialistas concorda que, se os ensaios clínicos forem bem-sucedidos, a técnica poderá se tornar uma opção terapêutica nos próximos anos ou na próxima década, mas a cautela e o rigor científico são fundamentais em cada etapa.

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Este artigo tem caráter estritamente informativo e se baseia em informações científicas disponíveis até a data de sua publicação. Ele não substitui a consulta, o diagnóstico ou o tratamento médico.

A pesquisa em xenotransplante está em constante evolução. Para informações detalhadas e atualizadas, ou para discutir sua condição de saúde, consulte sempre um médico ou profissional de saúde qualificado.

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