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A Câmara de Guarujá foi palco, ontem, de uma atitude solidária há muito não vista na região. Sob os olhos dos demais colegas de plenário, funcionários da Casa e dezenas de munícipes presentes na sessão, o vereador Mauro Teixeira, o Bispo Mauro (PRB), raspou a cabeça em apoio a auxiliar de serviços gerais Ana Paula Costa Puosso e sua família e em repúdio à falta de atenção do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).
Momentos antes, também chamando a atenção dos presentes à sessão, Ana Paula fez o mesmo no Legislativo, conforme adiantado ontem (24) pelo Diário do Litoral, na matéria 'Casal protesta contra suspensão de benefício em Guarujá'. O marido, Daniel Rodrigues, igualmente acompanhou a esposa que, desde a última segunda-feira, vem protestando na porta do posto do INSS, na Avenida Adhemar de Barros, por conta ter seu benefício (R$ 1.300,00) suspenso pelo órgão.
“Por ser evangélico, sou testemunha que dezenas de pessoas com problemas psiquiátricos e outras enfermidades têm seus pedidos indeferidos pelo INSS. Por isso, em solidariedade à Ana Paula, que conheci hoje aqui na Câmara, resolvi raspar também a cabeça”, disse o vereador, que espera que o protesto sensibilize o órgão federal a avaliar os casos com mais cuidado e justiça.
Além de Bispo Mauro, a ação da família Puosso sensibilizou outros parlamentares, como o vereador Jaime Ferreira de Lima Filho (Jaiminho – PMDB), que é do Perequê (bairro onde mora a auxiliar) e fez questão de expor o problema da munícipe enquanto Ana tinha a cabeça raspada pelo marido.
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Também em solidariedade, o presidente da Câmara, vereador Marcelo Squassoni (PRB), disse que iria providenciar os remédios para Ana e que também providenciaria uma comissão de vereadores para acompanhar o caso da munícipe junto ao INSS.
Após ter o cabelo raspado e momentos antes de se manifestar em plenário, Ana Paula foi irônica em relação à atenção dos governos diante dos anseios da população: “somos todos brasileiros carecas com nariz de palhaço”.
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A doença de Ana Paula
Ana Paula sofre de uma cardiopatia congênita — doença na qual há anormalidade da estrutura ou função do coração, que está presente no nascimento, mesmo que descoberta muito mais tarde. Ela e a família — marido, o filho de sete anos e a sogra — sobrevivem porque se alimentam de comida vencida que pegam no lixo de supermercados.
Em entrevista ao DL, na última segunda-feira, na porta do INSS, Ana Paula revelou seu drama. “Eu tinha uma microempresa que prestava serviços de mão-de-obra na construção civil. Hoje, tenho que apelar para a comida descartada do supermercado. Meu marido não pode trabalhar porque sua mãe, que vive com a gente, teve um acidente vascular cerebral (AVC) e se locomove em uma cadeira de rodas”.
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Ana Paula também sofre problemas psicológicos — depressão, bipolaridade e síndrome de pânico — dependendo de remédios controlados com dosagens altas. Para piorar, ela conta que seus medicamentos estão faltando na rede municipal de saúde. “Há muitas pessoas que estão sem os medicamentos e essa situação é cruel. Eu cheguei a receber R$ 1.300,00 por seis meses do INSS e, em abril último, a perícia resolveu indeferir meu benefício”.
Daniel faz tudo em casa em função da doença de esposa e da mãe. Ele gostaria de trabalhar de madrugada para poder sustentar a família, mas não consegue emprego. “Eu faço qualquer serviço. Se minha esposa estivesse com saúde, ela ficaria com minha mãe, que não consegue ir sequer ao banheiro”, afirma o marido de Ana Paula.
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