O fator econômico será determinante para a resiliência as mudanças climáticas / Reprodução: YouTube
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Capacidade adaptativa é a chave para compreender como os municípios brasileiros estão preparados para os desafios impostos pelas mudanças climáticas.
O Urban Adaptation Index (UAI), desenvolvido por pesquisadores da USP com parceiros nacionais e internacionais, trouxe um retrato inédito da situação institucional das cidades, analisando de que forma políticas de habitação, mobilidade, gestão ambiental, sistemas alimentares e estratégias de redução de riscos estão presentes nos territórios.
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Segundo matéria publicada no Jornal da USP, a aplicação do índice em mais de 5,5 mil municípios e no Distrito Federal revelou que a maior parte das cidades carece de instrumentos básicos para lidar com eventos climáticos extremos.
Isso significa que milhões de pessoas permanecem vulneráveis a enchentes, deslizamentos, secas e ondas de calor. Mesmo em capitais que tiveram bom desempenho, como Brasília e São Paulo, há desigualdades internas que fragilizam a real eficácia das políticas.
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Grande parte dos municípios não possui planos específicos para prevenir desastres, como cartas geotécnicas e programas de redução de riscos.
A ausência desses mecanismos compromete a capacidade de mapear áreas frágeis, resultando em ocupações em encostas e margens de rios, onde tragédias climáticas se repetem todos os anos.
Além disso, a falta de regulação territorial amplia os impactos quando ocorrem chuvas intensas ou estiagens prolongadas. Sem planos que orientem a ocupação e o uso do solo, as cidades ficam presas a respostas emergenciais, atuando apenas após a ocorrência dos desastres em vez de preveni-los de forma estruturada.
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Mas, não são apenas os municípios que precisam tomar cuidado. O canal DW Brasil postou um vídeo que mostra como os seres humanos sofrem com este problema:
Cidades como Brasília e Curitiba obtiveram boas notas no índice, mas isso não significa que todas as suas populações estejam protegidas. Em bairros periféricos e regiões de maior vulnerabilidade social, a falta de infraestrutura adequada ainda expõe moradores a riscos constantes.
Esse contraste entre a pontuação global da cidade e a realidade local mostra que a capacidade adaptativa não pode ser medida apenas pela existência formal de políticas. É necessário considerar como essas medidas são implementadas e se chegam de fato às comunidades mais afetadas.
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Menos de 40% dos municípios brasileiros possuem planos de habitação atualizados, enquanto pouco mais de 13% contam com planos de redução de riscos. Esses dados evidenciam uma fragilidade estrutural que torna as cidades mais vulneráveis, especialmente em regiões com poucos recursos financeiros e técnicos.
Esse déficit revela que a maior parte dos gestores locais atua de forma reativa, sem condições de planejar a longo prazo. O resultado é a perpetuação de ciclos de vulnerabilidade, em que a cada novo evento climático extremo, vidas humanas e patrimônios são perdidos.
A coordenadora do estudo, professora Gabriela Di Giulio, ressalta que ter uma política ou um plano não garante eficácia. Muitas vezes, esses documentos existem apenas no papel, sem aplicação prática que beneficie os grupos mais expostos aos impactos do clima.
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Assim, a capacidade adaptativa deve ser entendida não só como presença institucional, mas como efetiva capacidade de transformar políticas em proteção concreta. Isso exige olhar para as desigualdades locais e direcionar esforços para quem mais precisa.