Cotidiano
Segundo a teoria, divulgada pelo El País, o fenômeno poderia ser o eco de um evento ocorrido em um universo paralelo, conectado ao nosso por meio de um buraco de minhoca
Se um dia for confirmado que a humanidade captou um sinal vindo de um universo paralelo, as implicações para a física teórica seriam profundas, reforçando a ideia de um multiverso / ImageFX
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Uma hipótese ousada apresentada por pesquisadores chineses voltou a agitar a comunidade científica ao sugerir que um sinal captado em 2019 — a enigmática onda gravitacional GW190521 — pode não ter se originado em nosso próprio universo. Segundo a teoria, divulgada pelo El País, o fenômeno poderia ser o eco de um evento ocorrido em um universo paralelo, conectado ao nosso por meio de um buraco de minhoca.
À primeira vista, a ideia parece saída da ficção científica. No entanto, o sinal foi realmente registrado pelos detectores de ondas gravitacionais LIGO e Virgo, que identificaram, há seis anos, um pulso extremamente breve e de formato incomum.
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Diferente do clássico 'assobio' gradual típico da fusão de dois buracos negros, a GW190521 surgiu como um clarão súbito, fugindo aos padrões conhecidos e levantando questionamentos entre os cientistas.
Ondas gravitacionais costumam apresentar uma assinatura bem definida, resultado da dança espiral de dois buracos negros antes da colisão final. No caso da GW190521, porém, o evento foi curto demais e intenso demais para se encaixar confortavelmente nos modelos tradicionais.
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Esse comportamento atípico abriu espaço para interpretações alternativas. Uma das mais radicais vem de uma equipe da Academia Chinesa de Ciências, liderada pelo físico Qi Lai, que propõe que o sinal não nasceu em nosso universo.
De acordo com o modelo proposto, a onda gravitacional seria resultado da fusão de buracos negros em um universo paralelo. Esse evento extremo teria gerado não apenas ondas gravitacionais, mas também um remanescente capaz de formar um buraco de minhoca efêmero — um túnel no espaço-tempo previsto pela teoria da relatividade geral de Albert Einstein.
Esse buraco de minhoca teria sido estável o suficiente para permitir que parte do sinal atravessasse até o nosso cosmos. A forma curta e incomum da GW190521 poderia, assim, ser interpretada como um 'eco' vindo de além do nosso universo, hipótese que explicaria por que o sinal não se parece com nenhuma fusão convencional já observada.
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Caso confirmada, essa explicação representaria uma evidência indireta da existência de universos paralelos, algo que, até hoje, permanece apenas no campo teórico da física.
Apesar do impacto da proposta, a teoria foi recebida com cautela. Muitos físicos defendem que a GW190521 pode ser explicada por fenômenos astrofísicos ainda pouco compreendidos, como colisões 'não padronizadas' entre objetos extremamente massivos, ou até por limitações nos modelos usados atualmente para interpretar os dados.
Outro ponto sensível é que a existência de buracos de minhoca exigiria matéria exótica com energia negativa, um tipo de substância que nunca foi comprovado experimentalmente.
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Os próprios autores do estudo reconhecem que, embora intrigante, o modelo do universo paralelo não explica os dados de forma mais convincente do que as interpretações tradicionais.
A comunidade científica, portanto, permanece dividida. A possibilidade de sinais vindos de outros universos não é descartada, mas também não é aceita sem evidências mais robustas. Ainda assim, o simples fato de hipóteses desse tipo estarem sendo confrontadas com dados reais marca um avanço significativo na cosmologia moderna.
Se um dia for confirmado que a humanidade captou um sinal vindo de um universo paralelo, as implicações para a física teórica seriam profundas, reforçando a ideia de um multiverso — um conjunto de universos coexistindo simultaneamente.
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Mesmo que a hipótese se revele incorreta, especialistas destacam que explorar essas ideias extremas é parte essencial do progresso científico. Afinal, questionar os limites do que conhecemos sobre o cosmos pode ser tão transformador quanto a própria descoberta.