Cotidiano

Última loja de presépios artesanais da Baixada Santista fecha as portas após 25 anos

No Centro Histórico, as irmãs Márcia e Marília encerram a tradição familiar em meio à queda no interesse pelo artesanato em gesso

Nathalia Alves

Publicado em 19/11/2025 às 15:10

Atualizado em 19/11/2025 às 16:04

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A última loja de artesanato artesanal em gesso da Baixada vai fechar após 25 anos de histórias e milagres natalinos. / Júlia Macedo/DL

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No Centro Histórico de Santos, uma loja de artesanato guarda memórias da cidade por meio de pinturas em gesso. Há 25 anos, as irmãs Márcia e Marília Neves Paeta mantêm o espaço, que nasceu no Natal e se tornou referência na confecção de presépios que já decoraram diversos pontos da cidade.

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Elas são as únicas artesãs da Baixada Santista que ainda realizam pinturas em gesso de maneira totalmente manual. No entanto, o Natal, que antes era a época mais movimentada do ano, vem perdendo seu brilho no negócio.

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“Antigamente vendíamos bem, hoje não. As casas e apartamentos estão menores, e as pessoas não têm mais espaço para montar presépios. Isso fez com que o interesse diminuísse”, explica Márcia.

A ligação das irmãs com o artesanato vem do berço. Na década de 1970, seus pais eram donos de uma grande loja na Rua Martim Afonso, onde cresceram envolvidas com peças, tintas e moldes. 

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Com o tempo, Marília buscou aperfeiçoamento, fazendo vários cursos em São Paulo com diferentes professores, até se especializar no gesso, a técnica que mais a encantou. “Meu pai ficou ali uns 25 anos. Eu tinha 20 quando comecei de verdade a pintar. Hoje tenho 71.”

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O pontapé inicial do próprio negócio aconteceu com a venda acidental de uma peça natalina herdada dos pais. “Uma cliente insistiu tanto que acabei vendendo. Aquele foi o nosso primeiro ‘milagre de Natal’”, lembra Márcia.

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O último Natal

Apesar da trajetória marcante, as irmãs decidiram que 2026 será o último ano de atividades. “É triste ver o interesse diminuir. As pessoas moram em espaços menores e o movimento caiu muito”, reflete Márcia.

“Vendemos apenas um presépio este ano. Antigamente, vendíamos entre oito e dez. Além disso, hoje praticamente pagamos para trabalhar”, complementa Marília.

Outro fator é a transformação do Centro Histórico de Santos.“Anos atrás o Centro era movimentado. Gente indo e vindo o tempo todo. Hoje está parado, praticamente morto”, afirma Márcia.

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Elas também comentam sobre a competição com peças industrializadas. “As pessoas compram coisas prontas, mais baratas. Mas o acabamento é totalmente diferente. A pintura da China não tem comparação com o que fazemos aqui.”

“Espero que antes de dezembro do ano que vem a loja já esteja fechada. Estamos diminuindo o estoque para isso”.

Segundo Márcia, a rotina pesada já não é mais possível e os sinais da idade já se evidenciam. “Hoje fui pegar aquele São Jorge que está lá em cima e não aguentei levantar”. 

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Júlia Macedo/DL
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Júlia Macedo/DL

Memórias de outros Natais

Entre tantas histórias, algumas peças se destacam na memória das irmãs. Uma delas é o presépio de 60 centímetros, concluído em menos de dois dias. “Eu tinha ido a São Paulo. Quando voltei à noite, minha irmã disse: ‘Vendi aquele presépio de 60 cm para depois de amanhã’. Eu falei: ‘Você ficou louca?’ Mas ela já tinha vendido”, lembra Márcia.

O trabalho virou uma corrida contra o tempo.“Lixei, ela pintou. Quando ligamos avisando que estava pronto, montamos um cenário na vitrine para fotografar. Quando o senhor entrou, ficou maravilhado.”

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Outro presépio marcante tinha quase 100 peças e veio de Rio Claro. “Era da mãe de uma senhora que já tinha falecido. Ela queria alguém que pintasse, porque não conhecia ninguém. Um primo nosso, dentista no interior, indicou a gente”, conta.

Ao longo dos anos, as irmãs pintaram para clientes de toda a região. “Já pintamos para muita gente. Os presépios da Santa Casa e da Beneficência estão entre os maiores que lembramos.”

Cursos de pintura

Para atrair novos públicos, as irmãs passaram a oferecer um curso prático de pintura em gesso, com duração de um dia. O participante compra a peça em branco e os materiais na loja e, sob orientação das irmãs, aprende a pintar do zero.

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A iniciativa criou uma comunidade de entusiastas que valorizam a experiência de criar com as mãos e levar para casa uma peça única. Ainda assim, não foi suficiente para sustentar o negócio.

“Espero que a loja esteja fechada antes de dezembro do ano que vem. O tempo mudou, nosso corpo também. Estamos nos despedindo”, conclui Márcia.

 

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