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Cotidiano

Três anos após adoção de gêmeos, casal lembra trajetória e realização

No dia nacional da adoção, Elaine e Rogério recontam trajetória para a chegada de Cássio e Camilo à casa.

LG Rodrigues

Publicado em 25/05/2019 às 11:19

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Garotos gêmeos deixaram um passado de fome e dificuldades para trás em Minas Gerais após terem sido adotados. / DIVULGAÇÃO/ARQUIVO PESSOAL

A sala de estar da casa dos professores Elaine Vidal e Rogério Ramos Vidal hoje está mais apertada e mais decorada do que estava há três anos, e um quadro, que fica posicionado logo acima da televisão, mostra o porquê. Foi em 2016 que o casal finalmente conseguiu aumentar a família, que até então já contava com pai, mãe e duas filhas, mas ficou completo com a chegada dos novos bebês Cássio e Camilo. "Nascidos" já com oito anos de idade, os gêmeos deixaram um passado de fome e dificuldades para trás em Minas Gerais após terem sido adotados e recebidos em sua nova moradia, em Santos.

A trajetória da chegada de Cássio e Camilo na casa dos professores virou história nas redes sociais muito antes deles descobrirem que ganhariam pais caiçaras. O desejo de adotar ficou famoso depois que Elaine e Rogério decidiram fazer um ensaio de gestante para o filho ainda desconhecido que pretendiam tornar parte da família.

"Sempre foi um desejo nosso, desde que nos conhecemos, de ter dois filhos e logo em seguida adotar uma criança. E nossas filhas gostam de ver minhas fotos de quando eu ainda estava grávida delas e aí me veio o momento em que percebi que nosso filho adotivo não teria esse prazer. Foi quando decidimos fazer o ensaio de gestante adotiva", explica Elaine.

A espera para poder adotar foi longa e recheada de ansiedade para as duas filhas do casal. Bia, hoje com 17 anos, e a pequena Isa, hoje com dez, apoiaram completamente a decisão dos pais, muito embora e caçula confesse que tenha sentido certo receio de perder o posto de filha mais nova da família.

"No começo eu não queria, mas minha mãe disse que eles iam brincar comigo, o que foi bom, já que a minha irmã é adolescente e já tá chata, ela não brinca mais comigo. E foi legal porque eles são mais velhos do que eu, então ainda sou a mais nova", diz.

Inicialmente decididos a adotar uma criança de até oito anos de idade, independentemente de gênero ou cor de pele, os professores dizem que a notícia de que dois irmãos gêmeos estavam à espera de adoção chegou como um sinal e não tiveram dúvidas de que a família passaria a contar com seis membros.

"Quando me disseram que eram gêmeos, a minha sensação foi de como uma mulher que vai fazer ultrassom e descobre na hora que vai ter dois filhos. Meu marido ficou muito emocionado, foi como pedir um presente a Deus e receber em dobro".

A chegada de Cássio e Camilo comoveu a família, mas não foi algo que ocorreu sem algumas demonstrações de receio e até mesmo preconceito de pessoas de fora do círculo familiar dos professores.

"Existiu, claro, a questão do fato de que ambos são negros. Nós sempre fomos ativistas de tudo que você possa imaginar e o movimento pelos direitos dos negros sempre foi algo muito presente pra gente. Nós sempre tivemos noção de que o racismo é real, existe e é uma questão presente, mas não fazíamos ideia do quão grave era a situação até eles chegarem e também sabemos que nunca saberemos o quão grande é o problema quanto os próprios meninos", diz.

Apesar de todas as barreiras que surgiram, a família afirma que o processo de aproximação foi mais do que suficiente para dar a certeza, tanto para o casal, quanto para as crianças, que o encontro de Elaine, Rogério, Cássio e Camilo estava predestinado.

Os irmãos estavam em Minas Gerais quando se encontraram com os futuros pais pela primeira vez e dizem que não imaginavam que a vida de ambos estava para ter uma virada. De uma família composta por outros cinco irmãos, eles relatam as dificuldades que foram obrigados a enfrentar antes de serem adotados.

"A gente ficou muito feliz porque estávamos para adoção desde nossos seis anos e a gente passava fome e eles decidiram nos acolher na família. Muita gente passa fome, não recebe amor de pai, nem de mãe, mas eles decidiram adotar a gente".

"Nós conhecemos outras pessoas e foi muito bacana porque aqui nossa mãe e nosso pai nos levaram pra praia até. No começo eu não gostei muito não, mas agora quero ser surfista", dizem.

Depois de três anos de já terem se integrado à família, os meninos se revelam perfeitamente adaptados à nova realidade e os pais dizem que a adoção foi uma das melhores decisões tomadas por eles desde que se conheceram.

"Eu vejo a adoção como uma outra forma de ter filhos. As pessoas ficam muito no papo de 'ato de caridade' ou vêm com discurso de 'vocês salvaram uma vida'. Eu e meu marido não salvamos ninguém de nada. Quer nos dar parabéns, tudo bem, mas não tente nos tornar em algo que não somos, a adoção é outra forma de ter filhos".

Rogério e Elaine explicam que o fato da adoção ter sido tardia trouxe dificuldades extras e dizem que a construção do vínculo é um período que traz muitas dúvidas e dificuldades que acabaram os tornando em pessoas melhores. E quem pretende adotar o recado é o mesmo.

"O mundo da adoção não é perfeito, não vai acontecer tudo como você imagina de forma perfeita então a informação é tudo e hoje temos certeza: Não fomos nós que os ajudamos, eles é que nos ajudaram".

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