Cotidiano
Pesquisa internacional mostrou que uma nova técnica com nanopartículas reduziu em até 45% as proteínas tóxicas associadas ao Alzheimer em testes com camundongos
O resultado foi uma melhora expressiva na memória e no aprendizado espacial dos camundongos tratados, que atingiram níveis de desempenho semelhantes aos de animais saudáveis / Freepik
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Um grupo de pesquisadores da China e da Espanha desenvolveu uma nova estratégia terapêutica que pode abrir caminho para o tratamento do mal de Alzheimer, uma das doenças neurodegenerativas mais desafiadoras da atualidade.
O estudo, publicado na revista científica Signal Transduction and Targeted Therapy, apresentou resultados promissores em camundongos, com melhora significativa da função cognitiva e redução de até 45% nos níveis de proteína amiloide, principal responsável pela formação de placas no cérebro.
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O Alzheimer é caracterizado pelo acúmulo anormal de proteínas, como a beta-amiloide, que forma placas tóxicas entre os neurônios, comprometendo a comunicação cerebral.
A pesquisa propõe uma abordagem inovadora: em vez de atacar diretamente a amiloide, os cientistas focaram em restaurar a barreira hematoencefálica (BBB) — estrutura que protege o cérebro e controla a passagem de substâncias entre o sangue e o sistema nervoso central.
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Usando nanopartículas direcionadas a uma proteína chamada LRP1, localizada na barreira hematoencefálica, os pesquisadores conseguiram estimular um mecanismo natural de limpeza cerebral, favorecendo a remoção da amiloide acumulada.
O resultado foi uma melhora expressiva na memória e no aprendizado espacial dos camundongos tratados, que atingiram níveis de desempenho semelhantes aos de animais saudáveis. Segundo o estudo, os efeitos benéficos persistiram por até seis meses após o tratamento.
“Este trabalho inaugura um novo paradigma no design de medicamentos”, afirmaram os autores do estudo.
“Ele reafirma o papel crítico da barreira hematoencefálica no Alzheimer e demonstra que seu reparo pode tornar as intervenções terapêuticas significativamente mais eficazes.”
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Pesquisadores independentes elogiaram a originalidade da abordagem, mas alertaram que ainda é cedo para falar em aplicação em humanos.
A doutora Julia Dudley, chefe de pesquisa da Alzheimer’s Research UK, destacou a importância da descoberta, mas reforçou a necessidade de novos estudos:
“A barreira hematoencefálica pode se tornar menos eficaz no Alzheimer, e este trabalho mostra que restaurá-la pode ajudar a remover amiloide do cérebro. No entanto, o estudo foi feito em camundongos. Ainda não sabemos se o mesmo efeito será observado em pessoas.”
Ela acrescentou que, com mais de 1 milhão de pessoas vivendo com demência no Reino Unido, é urgente encontrar novas abordagens.
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“Se quisermos tratar o Alzheimer no futuro, precisaremos de diferentes terapias que atuem em múltiplos aspectos da doença. Pesquisas como esta — ainda em fase inicial — são cruciais para nos aproximar de uma cura.”
O professor Francesco Aprile, do Imperial College London, explicou que a inovação do estudo está em “reprogramar” uma via natural de exportação do cérebro para eliminar resíduos:
“Em vez de tentar empurrar drogas para dentro do cérebro, os cientistas aprimoraram um mecanismo natural de limpeza, permitindo remover proteínas tóxicas de forma mais eficiente.”
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Já a professora Tara Spires-Jones, da Universidade de Edimburgo, ressaltou que, embora os resultados sejam encorajadores, ainda há um longo caminho até a aplicação clínica:
“Os achados precisam ser reproduzidos e testados em humanos. Estamos longe de um tratamento viável, mas o conceito é interessante e merece ser explorado.”
A descoberta reforça um campo emergente da neurociência: o uso de nanotecnologia e terapias de reparo cerebral para combater doenças neurodegenerativas.
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Se confirmada em humanos, essa técnica pode abrir uma nova frente na luta contra o Alzheimer, que atualmente afeta mais de 55 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Enquanto os testes clínicos não avançam, o estudo reacende a esperança de que entender e restaurar os mecanismos naturais do cérebro seja a chave para finalmente frear o avanço da doença que mais desafia a ciência moderna.