Cotidiano
Santos tem recorde de chuva e sofre com lixo e assoreamento. Em outras cidades da Baixada Santista, chuvas causam alagamentos e tensão sem danos graves
Maior parte das cidades da Baixada Santista tiveram problemas com o forte temporal / Renan Lousada/DL
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O Litoral de São Paulo vive, nesta quarta-feira (6), mais um capítulo da já recorrente história de alertas meteorológicos sem prevenção estrutural à altura. O volume intenso de chuvas que atingiu a região durante a madrugada e a manhã trouxe, com maior ou menor intensidade, alagamentos, vias bloqueadas, lixo acumulado e mobilização emergencial dos serviços públicos.
Em Santos, epicentro da tempestade, o cenário foi de caos. Em apenas seis horas, choveu 119,2 mm, quase a totalidade da média histórica do mês de agosto (122,2 mm). O dado, registrado pelo Cemaden no Morro do São Bento, é um dos mais altos do Estado de São Paulo no período.
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A cidade, no entanto, não foi surpreendida — foi sobrecarregada por uma sucessão de eventos que poderiam ter sido mitigados:
Choveu, alagou: Entenda os principais fatores por trás dos alagamentos no litoral de SP.
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Segundo a Prefeitura de Santos, 960 toneladas de areia foram removidas do Canal 3, na Avenida Washington Luís, após a ressaca que atingiu a orla nos últimos dias. Nesta quarta, a Secretaria das Prefeituras Regionais (Sepref) informou que todos os canais da cidade foram desassoreados, com apoio das chuvas, que ajudaram a remover os sedimentos.
Equipes da Prodesan e da Sepref atuaram emergencialmente para garantir que o escoamento fosse restabelecido a tempo de evitar consequências piores. O lixo acumulado nas ruas, porém, teve outro destino: acabou nas grelhas, nos canais e nas sarjetas, tornando ainda mais lenta a drenagem e contribuindo para o volume de alagamentos registrados em vias como os canais 1 a 4, Avenida Nossa Senhora de Fátima, Francisco Manoel e Waldemar Leão.
Trechos foram bloqueados, como a Praça Independência com Rua Galeão Carvalhal (Gonzaga) e a esquina das ruas Bolívar e Colômbia (Boqueirão). O trânsito ficou comprometido, e a Prefeitura precisou suspender atividades esportivas e reorganizar o funcionamento das escolas.
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Nas redes sociais, o prefeito Rogério Santos reconheceu os impactos. A postagem gerou uma série de críticas à sua gestão.
“Pessoal, infelizmente a cidade está sofrendo com os alagamentos. Tivemos a greve dos profissionais da limpeza, o excesso de areia por conta da última ressaca, que acabou obstruindo as galerias, e cerca de 96mm de chuva em poucas horas. Estamos atuando para resolver a situação o quanto antes com nossas equipes, mas queria vir aqui falar com vocês, como sempre faço. Mantenham-se em segurança e longe das áreas de risco. Trarei mais informações. Seguimos acompanhando.”
Cubatão registrou 56 mm de chuva nas últimas 24 horas, segundo a Defesa Civil Municipal. Houve alagamentos em diversos bairros durante a madrugada, como Vale Verde, Ilha Caraguatá, Vila São José, Vila Esperança e Vila Nova.
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A água já escoou na maioria das regiões, restando pontos isolados. As equipes estão em campo avaliando o rescaldo. Não houve vítimas nem ocorrências graves.
Guarujá foi outro município com alto índice: 86,9 mm nas últimas 12 horas. O volume levou a cidade ao estado de atenção. Embora não tenham sido registrados escorregamentos nos morros, várias ruas ficaram alagadas. A Defesa Civil segue monitorando.
Em Praia Grande, a Coordenadoria da Defesa Civil contabilizou 62 mm em 24 horas — o equivalente ao acumulado mensal.
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Apesar dos pontos de acúmulo de água, não houve ocorrências registradas. Segundo a Prefeitura, a drenagem respondeu bem após a diminuição da intensidade da chuva.
O trânsito foi o que mais sofreu na cidade. No início da manhã, a saída de Praia Grande ficou um caos com a chuva forte e gerou um congestionamento quilométrico.
São Vicente teve 23,2 mm de chuva até 6h da manhã. A Defesa Civil não foi acionada para emergências, mas a Secretaria de Mobilidade Urbana apontou vários pontos de alagamento transitável, entre eles:
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A Defesa Civil segue monitorando os trechos mais críticos da cidade.
Itanhaém acumulou 61,17 mm nas últimas 24 horas, mas não registrou ocorrências. O município está em nível de observação.
Já Bertioga, com aproximadamente 25 mm, não registrou impactos, mas mantém a Defesa Civil mobilizada. Chamados podem ser feitos pelo telefone 199.
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Peruíbe teve o menor volume da região: 9,83 mm acumulados nas últimas 72 horas. Não houve danos, desabrigados ou ocorrências registradas.
Com episódios extremos cada vez mais comuns, como ressacas, temporais e calor recorde, a gestão urbana da Baixada Santista segue em ritmo de reação, não de prevenção.
Cidades como Santos, que lidam com a maré, o lixo e a ocupação desordenada, sentem primeiro — e mais intensamente — os efeitos da inércia estrutural e da dependência de medidas emergenciais. O evento desta quarta-feira é mais um lembrete de que o clima mudou — mas os mecanismos de resposta e a infraestrutura continuam ultrapassados.
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