Idealizador do Ciaes, ator Ernani Sequinel diz que é possível usar o trabalho pedagógico de aprimoramento corporal do teatro físico em vários gêneros teatrais / Rodrigo Montaldi/DL
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“Quando você tem um pensamento, um desejo, uma paixão ou uma ideia e transforma isso em corpo, isso é o teatro físico”. Usar, para além da voz, toda a capacidade corporal para interpretar um personagem no palco: em poucas palavras, esse é o norte do Teatro Físico, segmento da arte que coloca o ator como meio de comunicação para além das falas do texto e da interpretação. Em Santos, a Ciaes Mímica e Teatro, fundada em 2013 pelo ator e mímico Ernani Sequinel, é pioneira em pesquisar a forma como as expressões corporais transmitem informações tanto quanto as falas dos personagens.
“Quase 90% da nossa comunicação no dia a dia é corporal. Lemos mais as intenções, os gestos e isso gera mais efeito para nós do que as palavras. No teatro é a mesma coisa: quando o ator está no palco ele gera leituras visuais o tempo todo e por esse motivo é necessário um aprimoramento físico”, destaca Sequinel.
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Trabalhando há 11 anos como ator, ele buscou o teatro físico após o término da faculdade de Artes Visuais cujo TCC teve como foco a interação entre a Percussão Corporal e o teatro. “Meu orientador me encaminhou para o teatro físico e fui buscar referências no Instituto Luis Louis, em São Paulo. Lá o trabalho ia da comunicação não verbal, passando pela mímica até o teatro físico. Quando voltei para Santos e constatei que aqui não tinha referência desse tipo de trabalho eu fundei a Ciaes, a principio com um trabalho solo que gerou um espetáculo chamado ‘Dentro’ e comecei a dar algumas oficinas”, conta o ator.
No final de 2015 os atores Daniel Sette e Natan Brith se interessaram pela pesquisa e criaram um Núcleo de Pesquisa em Teatro Físico. O trio, através de estudos e treinamentos, vem desenvolvendo pesquisa prática e teórica sobre o tema e suas contribuições para a formação do ator.
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O teatro físico até hoje gera divergência entre os especialistas da área. O termo teria surgido na década de 70, na Inglaterra, quando críticos e jornalistas buscavam uma forma de se referir à arte de Steven Berkoff, que após uma viagem a França – onde conheceu o trabalho de Etienne Decroux, pai da mímica moderna, e Jacques Lecoq – passou a dar ênfase no trabalho corporal de sua companhia.
No entanto, as discussões sobre a arte – e até que ponto o ofício do ator é, por si só, físico – seguem tendo desdobramentos até hoje. “Alguns pensam que teatro físico é uma linguagem estética teatral onde o trabalho visual é muito expressivo, com um hibridismo de dança, musica, circo”, aponta Ernani.
Na visão dele, teatro físico tem como objetivo ser um processo pedagógico de aprimoramento técnico para o ator. “Antigamente o pensamento do teatro era muito focado no texto, como se ele fosse o principal elemento da arte. Com o tempo houve uma mudança no pensamento, onde o ator foi colocado como objeto central, uma vez que houve o entendimento de que o teatro acontece a partir de uma relação entre o ator e a plateia. A partir do momento que o ator está em evidência, alguns teatrólogos passaram a estudar qual ferramenta que o ator utilizava para realizar seu oficio e chegaram a conclusão de que essas ferramentas eram o corpo e voz. É nesse ponto que surge o teatro físico e a importância de um trabalho corporal mais bem elaborado. Isso é que guia a nossa pesquisa”, ressalta.
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Voz em cena
Embora algumas vertentes do teatro físico foquem exclusivamente na postura corporal, Ernani ressalta que dentro do processo de pesquisa do Ciaes a voz é trabalhada como corpo. “Se você parte do principio que cada pessoa tem um tipo físico e que isso interfere na forma da pessoa falar, no timbre vocal, no som e no jeito de falar, então ela é corpo, pois utiliza a musculatura, a respiração, as cordas vocais, tensões e as caixas de ressonância”.
Ele ressalta que a voz, nesse sentido, entra em cena não apenas como um texto, mas como uma poderosa ferramenta de atuação. “No teatro físico, o processo parte do corpo: o ator pensa como esse texto reverbera no corpo para depois reverberar na voz. Não há uma busca por compreender os aspectos psicológicos do personagem. O ator precisa unir os elementos técnicos e sua sensibilidade para que isso reverbere em emoção e sentimento para o público”, conta.
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Ciaes realiza aprimoramento em teatro físico
O Núcleo de Pesquisa em Teatro Físico Ciaes realiza até maio o projeto “Aprimoramento em Teatro Físico”, com uma programação gratuita para os que buscam oportunidade de formação na área de teatro e para os interessados em geral. Grandes nomes do teatro ministrarão oficinas de Máscara Larvária, O Corpo da Voz e Teatro Físico, além de uma palestra-espetáculo sobre Mímica Total.
O projeto teve início no dia 5 de abril, com a oficina de Máscara Neutra ministrada por Cida Almeida, mas ainda dá tempo de participar das próximas atividades. Estudantes de teatro, atores, performers, bailarinos e artistas do corpo em geral poderão se inscrever nas seguintes oficinas: Máscara Larvária, com Sofia Papo, nos dias 11, 12 e 13 de Abril, das 18h às 22h e “O Corpo da Voz”, ministrada por Carlos Simioni, nos dias 3, 4 e 5 de Maio, das 18h às 22h. Já no dia 3 de Junho ocorrerão duas atividades: a primeira é um workshop de Teatro Físico com Luis Louis, das 14:30h às 18:30h. Louis também apresentará a palestra-espetáculo “Mímica Total”, aberta ao público. Toda a programação é gratuita.
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As atividades acontecerão na unidade do Sesc Santos, localizado na Rua Conselheiro Ribas, 136. Outras informações na página do grupo é www.facebook.com/mimicaciaes.
O projeto é realizado pela Ciaes em parceria com o Sesc Santos e Governo do Estado de São Paulo, através do Programa de Ação Cultural.