Cotidiano

Sumiço de crustáceo revela sinais de alerta sobre a saúde das praias, indica estudo

Os tatuís desempenham um papel fundamental na cadeia alimentar costeira e são considerados bioindicadores ambientais, ou seja, sua presença ou ausência revela muito sobre a saúde do ecossistema

Ana Clara Durazzo

Publicado em 28/07/2025 às 11:30

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Apesar de sua aparência inofensiva, os tatuís desempenham um papel fundamental na cadeia alimentar costeira e são considerados bioindicadores ambientais / Divulgação / Rayane Abude

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Pequenos, discretos e essenciais para o equilíbrio ecológico das praias, os tatuís, crustáceos da espécie Emerita brasiliensis,vêm desaparecendo de várias faixas de areia ao redor do mundo. No Brasil, especialmente no litoral do Rio de Janeiro, pesquisadores têm observado uma queda acentuada na população desses animais, que vivem enterrados na zona de espraiamento, onde as ondas recuam. As informações são do portal The Conversation.

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Apesar de sua aparência inofensiva, os tatuís desempenham um papel fundamental na cadeia alimentar costeira e são considerados bioindicadores ambientais, ou seja, sua presença ou ausência revela muito sobre a saúde do ecossistema. Sensíveis a poluição, alterações climáticas e impactos diretos na areia, eles têm se tornado cada vez mais raros em praias frequentadas por banhistas.

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Um grupo de pesquisa formado por cientistas da UERJ, UNIRIO e Fundação Oswaldo Cruz vem investigando a situação desses animais no estado. A partir de uma revisão de 61 estudos globais publicados entre 1974 e 2023, os especialistas identificaram seis principais fatores de ameaça aos tatuís: contaminação por toxinas, presença de microplásticos, pressão mecânica na areia (como pisoteio e limpeza excessiva), variações de temperatura, alterações na descarga de água doce (inclusive por esgoto tratado) e obras de engenharia costeira.

Sumidouros e praias-fonte

Segundo os pesquisadores, o desaparecimento momentâneo dos tatuís nem sempre significa extinção local. Isso porque o ciclo de vida desses crustáceos inclui uma fase larval que dura até 90 dias e depende de correntes marinhas para transportar os indivíduos entre praias, um modelo conhecido na ecologia como metapopulação.

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Algumas praias atuam como "fontes", abrigando populações reprodutivas, enquanto outras funcionam como "sumidouros", onde os animais chegam, mas não conseguem se estabelecer. No Rio de Janeiro, a Praia de Fora, localizada em área militar na Urca, é uma das poucas que mantém populações estáveis e reprodutivas desde 1993, embora também tenha registrado declínio ao longo dos anos. A Restinga da Marambaia é outro local apontado como potencial fonte de tatuís.

Por outro lado, em praias como Copacabana e Praia Vermelha, frequentadas intensamente por turistas, os tatuís são raramente avistados. Nessas regiões, a ação humana parece ser determinante para a dificuldade de fixação e crescimento das populações.

Turismo afeta chegada e sobrevivência dos jovens tatuís

Um dos principais períodos para o assentamento dos tatuís nas praias cariocas ocorre entre dezembro e março, exatamente quando há maior movimento turístico. Os jovens tatuís, extremamente frágeis até passarem pela primeira muda, são facilmente afetados pelo pisoteio, pela compactação da areia e pela poluição.

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Nas praias mais impactadas, a maioria dos indivíduos encontrados está em estágios juvenis, com pouca chance de alcançar a vida adulta.

Mesmo nas praias-fonte, os pesquisadores alertam para um alto índice de mortalidade nos primeiros estágios de vida. Na Praia de Fora, por exemplo, foram contabilizados mais de um milhão de ovos em fêmeas coletadas ao longo de um ano, mas menos de 1% resultaram em novos indivíduos. As perdas ocorrem tanto por causas naturais quanto por interferências humanas no habitat.

Conservação e futuro da espécie

O estudo ainda está em andamento, mas os dados preliminares já permitem aos cientistas avaliar a necessidade de ações de manejo e conservação específicas para a espécie. Entre as medidas propostas, estão a proteção de áreas reprodutivas, a regulamentação do uso intensivo das faixas de areia e a conscientização da população sobre a importância ecológica desses pequenos crustáceos.

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Preservar os tatuís é garantir não apenas a sobrevivência de uma espécie, mas também a integridade de um ecossistema costeiro complexo, onde eles atuam como elo entre o mundo microscópico e grandes predadores marinhos e costeiros. Para os especialistas, praias saudáveis são sinônimo de equilíbrio ambiental, e os tatuís, mais do que nunca, estão no centro dessa equação.

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