Cotidiano

Sumiço de ave ameaçada de extinção preocupa e pode ter ligação com gripe aviária

Segundo especialista, espécie, antes comum na época reprodutiva, agora tem avistamentos e números cada vez mais raros

Márcio Ribeiro, de Peruíbe, para o Diário do Litoral

Publicado em 13/08/2025 às 10:00

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Espécie, antes comum na época reprodutiva, agora tem avistamentos e números cada vez mais raros / Marcio Ribeiro/DL

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Uma expedição organizada para observar aves marinhas entre Itanhaém e a Ilha Queimada Grande preocupou os especialistas: foi a primeira vez em que nenhuma espécie de trinta-réis foi avistada. Estudos futuros são necessários para esclarecer os motivos do desaparecimento desses animais, e uma das hipóteses aponta para a gripe aviária.

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Os trinta-réis ausentes são principalmente o de bico vermelho (Sterna hirundinacea), o de bando (Thalasseus acuflavidus) e o real (Thalasseus maximus); todos considerados ameaçados de extinção no estado de São Paulo, sendo que este último tem sua única população nidificante no Brasil, na costa paulista.

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Como foi feita a expedição

A expedição foi organizada por Elen Dias e pelo biólogo Fábio Barata, ambos do Mochileiros Pousada e Observação de Aves, localizada em Peruíbe, que opera este tipo de atividade com aves marinhas desde 2014 no estado de São Paulo. Entre os participantes, estava Fábio Olmos, biólogo e observador de aves, que falou a respeito de uma das hipóteses do sumiço.

“É muito provável que esses trinta-réis, especialmente os reais, sejam vítimas da gripe aviária, como provam os cadáveres encontrados nas praias, e temo a sua ausência em uma área onde deveriam ser comuns nesta época do ano. Infelizmente, não há monitoramento das colônias reprodutivas pelos órgãos gestores das ilhas onde os trinta-réis nidificam, ou seja, não sabemos o que está acontecendo.”

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Foi a primeira vez em que nenhuma espécie de trinta-réis foi avistada / Crédito: Márcio Ribeiro/DL
Foi a primeira vez em que nenhuma espécie de trinta-réis foi avistada / Crédito: Márcio Ribeiro/DL
Estudos futuros são necessários para esclarecer os motivos do desaparecimento desses animais / Crédito: Márcio Ribeiro/DL
Estudos futuros são necessários para esclarecer os motivos do desaparecimento desses animais / Crédito: Márcio Ribeiro/DL

Ele disse que fez a ligação dessa hipótese com as notícias que tem ouvido a respeito das aves mortas por gripe aviária e declínios em outros lugares, relatados, inclusive, pelos pesquisadores Márcio Motta e Edison Barbieri.

Márcio Motta, biólogo, pesquisador do Projeto Trinta-réis e diretor do VIVA Instituto Verde e Azul, que faz monitoramento desde 2019, disse que está notando um padrão diferente na ocorrência e a diminuição dos números de indivíduos dessa espécie a partir de 2023. Segundo ele, era normal ver uma determinada quantidade dessa ave, principalmente na época reprodutiva, mas os números e relatos de avistamentos estão cada vez mais escassos.

Para obter dados mais precisos e tentar entender os motivos, Motta criou uma rede de pessoas onde é possível compartilhar os registros das observações feitas em diversos pontos do litoral.

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“Pensamos em fazer um monitoramento em conjunto em áreas de descanso, porque as ilhas são muito mais custosas em termos de logística e de grana, enfim, algo que pudéssemos monitorar com certa frequência diversos pontos do litoral paulista. Então, estamos organizando um grupo e chamando algumas pessoas que já têm experiência na observação e que já estão em pontos estratégicos para ajudar.”

A importância do monitoramento

De acordo com o especialista, esse monitoramento é importante porque esses bichos voam e podem ter um deslocamento migratório considerado, fazendo com que algumas populações se juntem com outras; por exemplo, os indivíduos que estão no nordeste do país podem se juntar com os que vivem na América do Norte, enquanto as populações do Sudeste podem se conectar com grupos que vivem na Argentina.

A respeito da gripe aviária, ele falou:

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“Entendemos que a gripe aviária tem causado um impacto muito grande nas populações desse bicho. É possível avaliar os indivíduos que chegam mortos nas praias, mas não sabemos a quantidade de animais impactados pela gripe que podem morrer longe da costa e que não é quantificada. Há um grande esforço de pesquisa e estão saindo trabalhos científicos relacionados, mas há uma forte suspeita de que, desde 2023, ela vem impactando consideravelmente essas populações de trinta-réis.”

Avaliação exige cautela

Edison Barbieri, doutor em oceanografia pela USP e pesquisador do Instituto de Pesca, que também faz trabalhos com as aves, foi na mesma linha dos pesquisadores e disse que é preciso estudos para saber se é mesmo a gripe aviária a culpada pelo desaparecimento dos trinta-réis ou se é outra coisa:

“Se eu monitoro aves com regularidade, saio a campo uma vez e não encontro nada, não quer dizer que sumiu, pois elas podem estar em outro lugar. Sem dados, não dá para falar, pois não é ciência, é achismo.”

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Barbieri também tem notado a diminuição do número de trinta-réis nas praias paulistas e ele defende que é preciso ter uma frequência semanal ou mensal para se ter uma ideia mais precisa. De acordo com ele, é preciso estudos com métodos científicos.

O Jornal O Diário do Litoral ficará atento aos novos resultados que chegarem e, qualquer novidade, essa matéria poderá ser atualizada.

Gripe aviária pode ser próxima pandemia

De acordo com a BBC Brasil, agências de saúde e pesquisadores de todo o mundo aumentaram o nível de alerta sobre a doença e seu potencial pandêmico.

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