Para a ciência, o achado representa uma oportunidade única de estudar interações entre biologia e desastres vulcânicos / Guido Giordano/Reprodução/ND
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Um achado sem precedentes acaba de entrar para a história da ciência. Pela primeira vez, arqueólogos identificaram um cérebro humano transformado em vidro, resultado raro da erupção do vulcão Vesúvio em 79 d.C., que devastou as cidades romanas de Pompeia e Herculano.
O material foi encontrado em Herculano, no edifício Collegium, onde o corpo de um jovem de cerca de 20 anos foi descoberto deitado em uma cama. Fragmentos de coloração preta, com tamanhos que variam de milímetros a 2 centímetros, chamaram a atenção dos pesquisadores.
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Os restos foram inicialmente interpretados como tecido cerebral fossilizado. Porém, um estudo publicado neste ano na revista Scientific Reports comprovou que a matéria passou por um processo de vitrificação. O fenômeno ocorreu quando uma nuvem de cinzas vulcânicas atingiu temperaturas próximas de 510 °C, envolvendo o corpo da vítima, seguida por um resfriamento abrupto — combinação extremamente rara na natureza.
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Segundo o professor Guido Giordano, da Universidade Roma Tre, o cenário que possibilitou o fenômeno é praticamente impossível de reproduzir em condições normais.
'As circunstâncias muito específicas que levaram à vitrificação do cérebro tornam improvável que existam outros casos semelhantes, embora não seja impossível', explicou à BBC.
Curiosamente, apenas o cérebro sofreu a transformação. Ossos e outros órgãos foram destruídos pelo calor intenso antes que pudessem se resfriar na velocidade necessária.
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A erupção do Vesúvio em 79 d.C. é considerada uma das mais devastadoras da história. Estima-se que 20 mil pessoas viviam em Pompeia e Herculano na época. Em Herculano, as vítimas foram surpreendidas primeiro por uma nuvem de cinzas superaquecidas, que causou mortes instantâneas, seguida de um fluxo piroclástico — mistura mortal de gases, cinzas e fragmentos de rocha — que sepultou a cidade.
No caso do jovem do Collegium, pesquisadores acreditam que o crânio funcionou como barreira parcial contra o calor extremo, permitindo que o cérebro atingisse a temperatura necessária para vitrificação e fosse resfriado rapidamente antes de se decompor.
A vitrificação é o processo no qual um material líquido é resfriado tão rápido que não há tempo para cristalização, preservando-se em estado sólido amorfo, semelhante ao vidro. No caso do cérebro, a alta concentração de líquidos facilitou o fenômeno.
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Para a ciência, o achado representa uma oportunidade única de estudar interações entre biologia e desastres vulcânicos, além de oferecer novas perspectivas sobre a preservação de tecidos humanos em condições extremas.