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Cotidiano

Santos FC estuda expulsar sócio acusado de apologia ao nazismo

Reclamação extrajudicial contra o homem foi apresentada pelo advogado Flávio Viana e três advogados

Carlos Ratton

Publicado em 01/06/2020 às 17:50

Atualizado em 01/06/2020 às 18:04

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Os advogados se baseiam em um vídeo de G. M. B., em reportagens e no relato de A Voz Santista, que exige sua expulsão do clube / Reprodução

A Diretoria do Santos Futebol Clube está analisando a reclamação extrajudicial apresentada contra o sócio G. M. B., pelo advogado Flávio Viana e mais três outros. Ele é acusado de usar uma carreata pelo fim da quarentena, reabertura do comércio e a favor do governo do presidente Jair Bolsonaro, para ameaçar de morte comunistas e pessoas de diferentes posições, destilando preconceito contra os pobres e ostentando uma imitação de arma de fogo, um canivete e simbologia nazista. O homem pode ser expulso do clube.

Os advogados se baseiam em um vídeo, em reportagens e no relato da página A Voz Santista, mantida por torcedores do Peixe, em que a torcida santista exige a expulsão imediata de G. M. B. do quadro associativo do clube, pois a conduta seria incompatível com as origens do Santos.

"O cidadão exibe um simulacro de arma de fogo, um canivete e faz ameaças de morte aos comunistas, faz ameaças racistas e antissemitas através do uso de símbolos e saudações nazistas. Profere palavrões, injúrias raciais e ofensas a pessoas que discordam de seus pensamentos e sua ideologia", informam os advogados.

AI-5

Flávio Viana ainda revela que G. M. B. estimulava quem participava ou apoiava a carreata, além de internautas, a exortar torturadores do período da ditadura militar brasileira e entoar gritos de palavras de ordem pela volta do AI-5, fechamento do Congresso Nacional e do STF, bem como a cassação dos mandatos dos deputados federais e senadores que não apoiam o atual governo, em crime contra a democracia.

"Ainda incitou preconceito e a discriminação racial, de classe social e contra os cidadãos que viam o protesto ilegal e não estavam apoiando o evento não autorizado pela municipalidade, que fechou parte do transito, impedindo o direito de ir e vir dos demais cidadãos e, ainda, traziam à baila incitações ao terrorismo, ao preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional ou regional, bem como a violência", completa a denúncia.

À Reportagem, o advogado Flávio Viana disse que pessoas como G. M. B. passaram a ter voz por conta do mau exemplo do atual presidente da República, Jair Bolsonaro. "Tivemos que tomar a iniciativa em relação a sua expulsão para que sirva de exemplo. A qualificação que deveria ocorrer foi quebrada na Delegacia. Ele deveria estar preso pelo crime de racismo ou nazismo, como também por indução à violência, disseminação de ideologia nazista, simulação de arma de fogo, enfim", afirma o advogado.

A Voz

A Página A Voz Santista revela que G. M. B., "após mostrar a arma e o próprio rosto, escreveu "88" enquanto exibia o canivete, numa demonstração clara de saudação nazista e com tom ameaçador". A Voz alerta que diversas denúncias de torcedores do Santos confirmaram o perfil preconceituoso de G. M. B., além da sua simpatia pela extrema-direita. "O número 88 é um código usado entre grupos neonazistas. Os números se referem à posição das letras no alfabeto. Nesse caso, a oitava letra é o H, com o significado de Heil Hitler", completa.

SFC e defesa

Em nota, o Departamento Jurídico do Santos informa que o associado foi intimado e apresentou defesa. Está sendo elaborado um parecer, juntando todos os documentos, que será oportunamente encaminhado para deliberação do Comitê de Gestão do clube.

O advogado de G. M. B., Armando de Mattos Júnior, resumiu enfatizando que tudo ainda está sendo apurado por intermédio de um inquérito policial e pelo Santos Futebol Clube. "Esses dois procedimentos correm sob total sigilo, portanto, não posso me manifestar", resumiu.

Polícia

Na ocasião do vídeo, ele foi conduzido ao 3º Distrito Policial e liberado horas depois. A Polícia Civil de Santos, por sua Assessoria, confirmou as informações da Reportagem e revela que G. M. B. alegou que postou o vídeo em um grupo fechado no aplicativo "Instagram" e que um outro indivíduo, o qual já havia tido uma desavença, "printou" a tela e publicou em grupos de "Whatsapp", ocasião em que o vídeo acabou sendo propagado. Afirmou que não sabia explicar o motivo pelo qual exibiu a arma e o canivete, confessando ter agido de forma impensada e que estava arrependido.

Ainda segundo a Polícia, a pistola era de pressão usada na prática desportiva conhecida como "airsoft" e que não opera com munição real, portanto isenta de letalidade. Ela e o canivete foram apreendidos. "Afastada a hipótese de prisão em flagrante, o autor responderá pela prática de contravenção penal de porte ilegal de arma branca além de ser investigado através de inquérito policial para apurar a eventual prática de crime de preconceito", finaliza nota.

Entidades

A atitude dos advogados sobre o vídeo gravado e exposto por G. M. B. também gerou manifestação pública da Coordenadoria de Igualdade Racial de Santos, do Conselho Municipal da Comunidade Negra de Santos. Ambas assinam nota de repúdio publicada no Diário Oficial do Município.

Vale acrescentar que a Comissão de Igualdade Racial da Subseção de Santos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) já preparou e deve apresentar nota de repúdio esta semana.

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