Cotidiano
Entre lendas, milagres e história, o santo que salvou fiéis de uma epidemia tornou-se ícone da cultura cervejeira e segue celebrado até hoje
Arnulfo nasceu na região da atual Áustria, em pleno território conhecido pela produção de cervejas há mais de mil anos / Reprodução Paróquia Nossa Senhora do Carmo
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No universo da cerveja, um nome atravessa fronteiras, séculos e tradições: Santo Arnulfo de Metz, o bispo medieval que se tornou oficialmente o padroeiro dos cervejeiros.
Nascido por volta de 582, em uma Europa que ainda buscava se reerguer após o declínio romano, Arnulfo ficou marcado tanto por sua liderança religiosa quanto pelo legado curioso que o ligou para sempre à bebida mais querida do mundo.
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Arnulfo nasceu na região da atual Áustria, em pleno território conhecido pela produção de cervejas há mais de mil anos. Desde jovem, sentiu o chamado religioso e ingressou em um monastério beneditino. Sua inteligência e capacidade de liderança o levaram ao cargo de abade e, pouco depois, ao de bispo de Metz, no nordeste da França, aos 32 anos.
Além de sua atuação política e espiritual no início da dinastia carolíngia, Arnulfo dedicou-se a orientar e proteger sua comunidade — inclusive no que dizia respeito à saúde pública.
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A ligação de Arnulfo com a cerveja nasceu durante uma terrível peste que assolou Metz no século VII. A água da região estava contaminada, causando adoecimento e mortes. Foi então que o bispo passou a incentivar os fiéis a beberem cerveja — uma alternativa muito mais segura.
Isso porque, no processo de fabricação da bebida, a água era fervida e 'purificada pelo fogo', eliminando impurezas e microrganismos.
'Tomar cerveja ou morrer', ensinava Arnulfo, em uma tentativa de proteger sua população. A estratégia funcionou, e a história rapidamente se espalhou.
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Segundo a tradição cristã, após a morte do bispo, em 640, o povo de Metz pediu que seu corpo fosse levado de volta à cidade para ser sepultado na igreja local. Durante o trajeto, os fiéis, exaustos, pararam em uma taberna para beber cerveja — mas só havia uma única garrafa disponível.
O inesperado aconteceu: a garrafa não esvaziava. Todos puderam beber até saciar a sede.
O episódio ficou conhecido como o 'milagre da cerveja inesgotável', consolidando Arnulfo como patrono daqueles que produzem e celebram a bebida.
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Embora Arnulfo de Metz seja o mais conhecido, outro santo também ganhou notoriedade no mundo cervejeiro: Arnold de Soissons, monge belga do século XI. A ele é atribuído o milagre de proteger o estoque de cerveja de uma abadia cujo teto havia desabado.
Em algumas regiões da Bélgica, Arnold é celebrado como padroeiro paralelo dos cervejeiros.
Apesar do mito popular, a Igreja Católica não considera o consumo moderado de cerveja um pecado. Pelo contrário, existe até um rito em latim para abençoar a bebida, reforçando sua relação histórica com a cultura monástica europeia.
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O problema, segundo a doutrina, está no consumo irresponsável, e não na bebida em si.
Santo Arnulfo de Metz é venerado pela Igreja Católica e pela Ortodoxa, e sua festa litúrgica é celebrada em 18 de julho. Em diversos países cervejeiros — como Alemanha, Áustria, França e Bélgica — confrarias, fábricas artesanais e festivais organizam eventos em sua homenagem.
Para os amantes da bebida, Arnulfo representa não apenas fé, mas também cultura, tradição e o elo histórico entre monastérios e a fabricação de cerveja na Europa medieval.
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