Ambulância do Samu prestou primeiros socorros e encaminhou Derival Santos para atendimento hospitalar / Rodrigo Montaldi/DL
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Com ambas as pernas inchadas, confusão mental e uma ferida profunda, quase expondo o osso da perna direita, Derival Santos, de 54 anos, precisou aguardar por mais de uma hora, debaixo do sol forte desta segunda-feira (30), pela chegada da ambulância do Serviço Móvel de Urgência (Samu) na Praça 22 de Janeiro de São Vicente.
O tempo está muito além do padrão de referência aceito por parâmetros internacionais, que varia de 10 a 12 minutos. Mas a demora no atendimento não é novidade para ele, que há alguns meses vive em situação de rua e testemunha quase que diariamente o descaso e a falta de atenção com quem está à margem.
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A reportagem do Diário do Litoral encontrou Derival no caminho de uma reportagem. Alegando muita dor e ‘pontadas’ na perna, ele pediu para que entrássemos em contato com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Centro POP), que presta serviços de apoio às pessoas em situação de rua. Ligamos para a unidade que fica na Praça Bernardino de Campos e fomos informados que a unidade cuida apenas da ressocialização e amparo. Para questões de saúde e atendimento médico deveríamos procurar diretamente o Samu. Esse seria, de acordo com a atendente, o procedimento que até mesmo as equipes de abordagens precisam fazer.
Foram necessárias quatro ligações para o Samu e duas para o Centro POP para que o morador fosse atendido. Na primeira chamada para o Serviço de Urgência, fomos informados que a viatura estava a caminho. Meia hora depois, em novo contato telefônico, a informação dada foi que casos mais urgentes estavam sendo atendidos. Na terceira chamada, 45 minutos depois, a atendente informou que apenas cinco viaturas estavam operando em toda a cidade e que a quantidade era insuficiente. Na quarta e última ligação, uma hora e dez minutos depois do primeiro contato, nos identificamos como equipe de reportagem. A viatura chegou em quatro minutos.
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A situação é recorrente no local, que abriga dezenas de pessoas em situação de rua. De acordo com o microempreendedor Alberto Scrafani, morador de um prédio na Praça 22 de Janeiro, um homem faleceu na região na última sexta-feira (27). O SAMU foi acionado e não compareceu ao local.
“Não adianta. Quando ligamos e falamos que a ocorrência é na Praça ninguém aparece. Dizem que sabem que se trata de pessoas de rua e não compensa vir até aqui, porque os problemas são causados por conta de bebida e droga. Na maioria das vezes conseguimos algum carro e levamos até o CREI, mas chegando lá a recepção é a mesma. Falta respeito com essas pessoas”, desabafa.
O Serviço Móvel de Urgência (Samu) integra a Rede de Atenção às Urgências e Emergências. De acordo com o Ministério da Saúde, a média deve ser de uma ambulância para cada 50 mil habitantes. De acordo com a projeção para 2016 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), São Vicente possui em média 357.989 habitantes, carecendo dessa forma de ao menos sete ambulâncias para atendimento.
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Atendimento não tem distinção, afirma Prefeitura
Em nota, a coordenadoria do SAMU afirma que no momento em que a reportagem solicitou atendimento ao morador de rua, as cinco ambulâncias estavam em atendimento, seja em demandas de rua, seja em transferências inter-hospitalares. A demanda – que teve início às 12h11 – foi oficializada apenas 13h02 para prestar socorro ao munícipe.
Em relação ao critério de prioridade, o SAMU informou que a definição é feita pelo médico regulador durante triagem médica. O atendimento a pessoas em situação de rua é feito pelo telefone 192, como ocorre com qualquer outro cidadão. O paciente nestas condições é encaminhado à unidade de pronto-atendimento mais próxima.
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A saga de um resgate
12h07 – Reportagem do Diário do Litoral entra em contato com o Centro POP de São Vicente, pedindo apoio para Derival Santos. Fomos orientados a entrar em contato com o Samu.
12h11 – Reportagem entrou em contato com o Samu.
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12h37 – Segunda ligação para o Samu. Fomos informados de que casos mais urgentes estavam sendo atendidos.
12h58 – Terceira ligação para o Samu. Derival começa a apresentar confusão mental e passar mal por conta do sol forte na cabeça. A atendente afirma que há apenas cinco ambulâncias em operação (três para atender a região central e duas para a área continental da cidade) e que não havia prazo para a viatura chegar.
13h02 – Entramos novamente em contato com o Centro POP. A atendente reclama da falta de integração entre os serviços da Prefeitura. Destaca que a demora é a mesma quando eles acionam o serviço.
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13h16 – Quarta ligação para o Samu. Dessa vez nos identificamos como equipe de reportagem.
13h20 – Resgate chega, morador recebe os primeiros cuidados e é encaminhado para o Hospital Regional de São Vicente.