VENCEDOR DIVULGADO

Rodoanel de SP: Consórcio Via Appia FIP vence leilão do trecho norte

Foi oferecido um desconto de 23,1% sobre o valor previsto como aporte público para a conclusão das obras, que poderia chegar até R$ 1,4 bilhão

LUCAS BOMBANA - Folhapress

Publicado em 14/03/2023 às 17:33

Atualizado em 14/03/2023 às 17:35

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Trecho norte do Rodoanel Mário Covas / Deividi Correa/Folhapress

O consórcio Via Appia Fundo de Investimento em Participações foi o vencedor do leilão para a conclusão das obras do trecho norte do Rodoanel, realizado na tarde desta terça-feira (14) na sede da B3, em São Paulo.

Foi oferecido um desconto de 23,1% sobre o valor previsto para ser pago pelo governo do Estado de São Paulo, como aporte público para a conclusão das obras, que poderia chegar até R$ 1,4 bilhão.

Como o valor do pedágio não deve ser suficiente para remunerar adequadamente a concessionária, o governo se comprometeu a fazer pagamentos em prestações para compensar as despesas do consórcio vencedor.

Assim, o modelo da PPP (Parceria Público Privada) previa como critério para decidir como vencedor do leilão o consórcio que oferecesse o maior desconto sobre estas prestações anuais, previstas em R$ 51,4 milhões por ano.

Duas participantes, contudo, ofereceram propostas que previam a compensação integral do valor desta contraprestação -além da Via Appia FIP, também propôs desconto de 100% o consórcio Infraestrutura SP, formado pelas empresas EPR 2 Participações e Voyager Participações.

Com isso, a disputa passou para uma segunda fase, que levou em conta o maior desconto sobre o aporte público previsto para finalizar a obra, outro pagamento a ser feito pelo governo. O Via Appia propôs abater 23,1%, e superou o Infraestrutura SP, que descontaria 5,11%.

Também concorreram no leilão o consórcio SP Flow, liderado pela XP, e a Acciona, mas que ofereceram descontos sobre a contraprestação de 60,03% e 12,90%, respectivamente, e não passaram para a segunda fase da disputa.

O certame chegou a ser suspenso pela Justiça às vésperas da data marcada, mas o governo paulista conseguiu derrubar a liminar. A decisão foi do presidente do TJ-SP (Tribunal de Justiça), desembargador Ricardo Anafe.

As condições anunciadas preveem prazo da concessão de 31 anos, com um valor estimado em investimentos de aproximadamente R$ 3,4 bilhões, segundo o edital publicado em agosto do ano passado.

Desse montante, cerca de R$ 2 bilhões devem ser destinados à conclusão das obras, com o restante usado na operação e manutenção da rodovia, que terá a supervisão da Artesp (Agência de Transportes do Estado de São Paulo).

A vencedora da disputa terá cerca de três anos para concluir os trabalhos, com a previsão de entrega das obras em junho de 2026. O governo prevê que, com o trecho Norte em operação, haverá uma redução de 30 mil caminhões e 54 mil automóveis na Marginal Tietê. A última etapa que falta do anel viário tem 44 km, abrangendo os municípios de Arujá, Guarulhos e São Paulo.

Um leilão do trecho Norte do Rodoanel chegou a ser agendado pelo governo anterior de Rodrigo Garcia (PSDB) para o mês de abril de 2022, mas foi suspenso um dia antes da data prevista.

Segundo o governo à época, a decisão se deu devido às "incertezas geradas pelo cenário macroeconômico interno e externo e alta de preços de insumos, responsáveis pela maior inflação da construção civil das últimas duas décadas no Brasil".

Para aumentar o interesse pelo projeto e evitar uma nova suspensão do leilão, o governo aumentou a taxa interna de retorno oferecida aos investidores, de 8,93% para 9,99% ao ano.

"Houve um amadurecimento grande das condições do negócio, e o governo cedeu bastante porque precisa garantir interessados", diz Ricardo Levy, sócio da área de infraestrutura do escritório de advocacia Pinheiro Neto.

Levy acrescenta que, em um cenário de juros altos como o atual, é ainda mais desafiador o trabalho de convencimento para atrair empresas interessadas em participar de um negócio de longuíssimo prazo que necessita de investimentos bilionários.

"O governo não fez nada para favorecer as empresas, mas simplesmente para conseguir criar atratividade para o negócio", diz o sócio do Pinheiro Neto.

Segundo Levy, aspectos relacionados ao equilíbrio econômico-financeiro durante os 30 anos do projeto, bem como a respeito de eventuais -e prováveis- divergências entre o setor privado e o poder público sobre o estado das obras e a necessidade de investimentos foram endereçados de modo a derrubar as resistências e atrair interessados ao leilão.

A prorrogação dos prazos estabelecidos inicialmente para a entrega faseada das obras, e até a rescisão contratual, estão previstos no modelo da PPP, aponta o especialista.

Benini preferiu não cravar o quanto de obras ainda faltam para concluir o trecho norte do Rodoanel, mas estimativas no momento da interrupção dos trabalhos há cinco anos apontavam para um percentual em torno de 85% dos trabalhos já concluídos.

A construção do trecho norte do Rodoanel foi iniciada em meados de 2013 e está paralisada desde 2018. A última vez em que o Rodoanel ficou tanto tempo sem avanços foi entre 2002 e 2007, um hiato entre as construções dos trechos Oeste e Sul.

A obra referente ao trecho Norte foi orçada inicialmente em R$ 4,3 bilhões, mas, até 2019, já tinha consumido cerca de R$ 6,85 bilhões, tendo se tornado alvo de investigação por suspeitas de superfaturamento e corrupção.

As empreiteiras que integravam os consórcios, como Coesa (ex-OAS) e Mendes Júnior, foram fortemente atingidas financeiramente pela Lava Jato, entrando em recuperação judicial e sendo declaradas como inidôneas pela União.

Na sexta-feira (10), a Coesa chegou a apresentar um mandado de segurança para tentar suspender o leilão, mas teve o pedido negado pela Justiça. A empresa ainda tentou suspender o leilão por meio de um pedido de impugnação no TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo), mas que também foi negado. A incorporadora alega que tem direito a indenização devida pelo estado por investimentos que realizou na obra.

"A indenização [à Coesa] pela construção do Rodoanel ainda está em discussão judicial", afirmou Benini. A Coesa "está tentando confundir as coisas", acrescenta o secretário.

De acordo com o modelo projetado, o trecho norte do Rodoanel não terá praças de pedágio, com a cobrança se dando por meio de sensores que calculam o valor devido com base na quilometragem de cada veículo. A previsão inicial é que o valor da tarifa seja de R$ 0,15 por quilômetro rodado. "É o primeiro projeto que nasce sem previsão de praça de pedágio no Brasil", diz o secretário.

Para os motoristas com o dispositivo tag, a cobrança do pedágio se dará pelo próprio aparelho. Para aqueles que não possuem o dispositivo, será necessário acessar o site da concessionária para fazer o pagamento, em um prazo de até 15 dias após o tráfego pela rodovia. Passado esse intervalo, será enviado ao motorista um boleto para que o débito seja quitado. Se o pagamento não for realizado no prazo, será emitida uma multa por evasão do pedágio.

Ao todo, o rodoanel tem cerca de 176 quilômetros de extensão. O primeiro trecho inaugurado foi o Oeste, em 2002, seguido pelo Sul, em 2010, e pelo Leste, em 2014.

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