Cotidiano
O Ambroxol, utilizado como expectorante, apresentou resultados animadores em um estudo publicado nesta segunda-feira (30) na revista JAMA Neurology
O novo estudo indica que o Ambroxol pode ajudar a estabilizar os sintomas cognitivos em pessoas com Parkinson / Freepik
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Um medicamento comum nas farmácias brasileiras, conhecido por aliviar a tosse, pode estar prestes a ganhar uma nova e promissora função na medicina neurológica. O Ambroxol, utilizado como expectorante, apresentou resultados animadores em um estudo publicado nesta segunda-feira (30) na revista JAMA Neurology, sugerindo que a substância pode proteger o cérebro contra os efeitos do Parkinson e retardar o avanço da demência.
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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 200 mil brasileiros vivem com a Doença de Parkinson, condição neurológica degenerativa que compromete os movimentos e pode evoluir para declínio cognitivo. Estima-se que um terço dos pacientes desenvolve demência, de acordo com a Alzheimer’s Society.
O novo estudo indica que o Ambroxol pode ajudar a estabilizar os sintomas cognitivos em pessoas com Parkinson, especialmente aquelas com sinais iniciais a moderados de demência.
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A neurologista Mariana Moscovich, especialista no tratamento da doença, explica que o Ambroxol atua estimulando a produção de uma enzima chamada GCase, responsável por eliminar proteínas anormais no cérebro, como a alfa-sinucleína, fortemente associada ao Parkinson.
“O Ambroxol, que normalmente é um xarope para tosse, aumenta os níveis de GCase, ajudando na limpeza cerebral de resíduos tóxicos que comprometem as células nervosas”, destaca Moscovich.
O estudo de fase 2 demonstrou que o medicamento conseguiu atingir o cérebro e foi bem tolerado pelos pacientes. Agora, a pesquisa avança para a fase 3, com 330 participantes em diversos países, etapa crucial para confirmar a eficácia do tratamento.
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O estudo acompanhou 55 voluntários com mais de 50 anos, diagnosticados com Parkinson há pelo menos um ano e que já apresentavam sinais iniciais de demência. Os participantes receberam doses diárias de Ambroxol (entre 525 mg e 1.050 mg) ou placebo, e foram avaliados quanto às funções cognitivas, sintomas psiquiátricos e marcadores cerebrais como a proteína GFAP.
Os resultados mostraram que os pacientes do grupo placebo apresentaram piora significativa, enquanto os que tomaram Ambroxol mantiveram estabilidade nos sintomas.
Além disso, o medicamento teve efeito mais evidente em indivíduos com mutações no gene GBA1, um dos fatores genéticos associados ao risco de demência no Parkinson — nesses casos, o desempenho cognitivo chegou a melhorar.
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Para o coordenador da pesquisa, o neurologista cognitivo Dr. Stephen Pasternak, o objetivo vai além de controlar os sintomas.
“As terapias atuais apenas aliviam os sintomas. Nós queremos interromper a progressão da doença. O Ambroxol nos dá uma base sólida para estudos mais amplos e pode representar uma nova esperança para os pacientes”, afirma Pasternak.
Com o início da fase 3, a eficácia do Ambroxol como possível tratamento modificador do Parkinson será testada em maior escala. Se os resultados forem confirmados, o medicamento poderá ser incorporado aos protocolos clínicos, representando uma revolução no cuidado com pacientes que enfrentam a progressão da doença.
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“Estamos esperançosos”, reforça Mariana Moscovich. “Se os estudos confirmarem os benefícios, o Ambroxol pode se tornar um aliado importante contra os efeitos do Parkinson.”