13 de Outubro de 2024 • 00:50
Além da luta contra a corrupção e o descontentamento com o governo Dilma Rousseff, os protestos populares vistos na sexta-feira, 20, têm forte correlação com a situação econômica. A avaliação é do economista para o Brasil do espanhol BBVA Research, Enestor dos Santos. Para o analista, as manifestações do domingo e de junho de 2013 têm uma coincidência: acontecem em meio ao pico da inflação. O problema atual, diz Santos, é que o espaço político e econômico para o governo reagir é muito menor que o visto há dois anos.
"Esses protestos têm muita correlação com a questão econômica. Em 2013, tivemos um momento de inflação muito alta e o aumento de tarifas de transporte acelerou os movimentos populares. Agora temos uma situação parecida. A inflação está quase em 8%, há aumento da eletricidade, dos juros, dos transportes públicos e a elevação dos impostos. Ao mesmo tempo, o governo corta gastos. Essa é uma razão prática que também leva as pessoas às ruas", diz o economista em Madri.
Santos nota que a inflação acumulada em 12 meses pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 6,7% em junho de 2013, quando os protestos populares tomaram as ruas naquele ano. "Agora, estamos com IPCA de 7,7% e a inflação deve aumentar ainda mais em março para 7,8%. Junho de 2013 foi o pico do movimento de alta dos preços daquela época e o mesmo fenômeno deve acontecer com a inflação de março de 2015. Estamos novamente em um momento de pico dos preços", diz.
"Mas há uma diferença importante entre 2013 e 2015: o espaço para reação do governo atualmente é menor. Há menos força política e econômica", diz o economista. Santos explica que no campo político Dilma Rousseff está diante de uma base de apoio fragmentada e que já deu demonstrações de enfrentamento com o Palácio do Planalto. Na área econômica, os juros já sobem há vários trimestres e não existe folga fiscal.
Em outras palavras, a caixa de ferramentas do governo para reagir à situação de insatisfação popular está praticamente vazia. Por isso, o economista do BBVA reforça a defesa de um ajuste fiscal para que o governo volte a ter dinheiro em caixa e assim, possa ser restabelecida a confiança entre empresas, consumidores e investidores.
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