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Cotidiano

Projeto registra a dura vida nas ruas em Santos

Santos Invisível conta histórias de vida de quem mora na rua

Vanessa Pimentel

Publicado em 02/05/2021 às 08:24

Atualizado em 02/05/2021 às 14:06

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Na página, Thalita traz entrevistas com algumas pessoas que aceitaram contar um pouco da sua história enquanto moram pelas ruas. / Nair Bueno/DL

A página Santos Invisível (@santosinvisível), criada no Instagram pela artista Thalita Martino, em 2014, surgiu com a intenção de contar as histórias de quem mora na rua e questionar o poder público sobre as medidas existentes para esse público.

Nas publicações, além de indagações sobre os motivos que levam alguém a morar na rua, Thalita traz pequenas entrevistas feitas com algumas pessoas que aceitaram contar um pouco da sua história.

Uma delas é a senhora Maria, cadeirante, que teve seu relato publicado em 2014. Na época, ela disse que morava na rua por dificuldades pessoais, usava o banheiro dos shoppings quando precisava, tomava banho nas duchas da praia e era ajudada por "anjos de Deus" com doações.

O sonho dela, segundo o depoimento, era dormir em uma cama, assistindo à TV e ver um show do Calypso, "sou louca pela Joelma", dizia.

Outro relato, também em 2014, é sobre a vida de um homem que se entregou ao alcoolismo após se separar da esposa. De Jundiaí, ele veio para Santos onde estava há dois anos ao lado do seu cachorro, o Negro.

De acordo com ele, a vontade era voltar para a cidade natal, mas nenhum transporte levaria junto o seu companheiro. "Seria muito fácil eu deixar ele amarrado em um poste e sair fora mas não posso fazer isso, porque o pão que o diabo amassou e comi ele também comeu".

Thalita explica que, por serem andarilhos, é muito difícil manter contato com quem mora na rua e que atualmente não sabe mais por onde andam os entrevistados.

"Eu mudei para São Paulo com 18 anos e sempre andei muito a pé. Não me conformava com a quantidade de gente dormindo na rua e as pessoas passando do lado como se elas não existissem. Quando voltei pra Santos, 10 anos depois, percebi o mesmo problema aqui e comecei a conversar para saber a história de cada um. A ideia de publicar essas histórias é para, quem sabe, sensibilizar mais pessoas a ajudar quem está nesta situação, mas sem julgamentos", diz ela.

Thalita fala que percebe o quanto quem não tem onde morar é criticado pelos munícipes e que são poucos os que se interessam em procurar saber os motivos que levam alguém a se sujeitar à calçadas e camas de papelão.

"Alguns estão na rua por problemas com drogas, bebida, outros simplesmente porque perderam o emprego e não têm mais como se sustentar. Agora, com a pandemia, tem gente que tá cheio de pertences que ainda carregam da antiga casa. Não dá pra gente ignorar que os problemas deles são nossos também", analisa.

PROJETO

Com a página, Thalita pretende mapear o número de pessoas sem teto na cidade, pensar em soluções junto à ONGs e à prefeitura.

"As campanhas pontuais, como entrega de sopão e marmitas, ou ações nas festas de fim de ano são muito importantes, mas não resolvem o problema. No dia seguinte, as pessoas vão precisar comer de novo. Então quero buscar soluções de verdade para esse público".

Para isso, ela está pesquisando o número de abrigos que existem em Santos, quantos aceitam cachorros, já que a maioria dos moradores de rua tem cães como companhia, quais as políticas públicas existentes que visam reintegrar essas pessoas na sociedade, com documentos, cursos e, posteriormente, um emprego.

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