Ler e escrever sempre foram os grandes amores de Jocelia Lemos, 69 anos / Divulgação/PMSV
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Ler e escrever sempre foram os grandes amores de Jocelia Lemos, 69 anos. Quando pequena participava dos concursos de redação na escola e ganhava. Abandonou os estudos aos 14 anos para dar prioridade aos irmãos mais velhos, que se formaram em Direito. Todas as vezes que passava em frente a uma escola as lágrimas evidenciavam o desejo de voltar a estudar e concretizar o sonho de cursar Letras. Pensava: “um dia vou me formar e darei aula”.
Mas seguir sonhando não foi fácil para a moradora da Área Continental de São Vicente. Jocelia deixou o desejo de menina para trás novamente, dessa vez para dar oportunidade aos filhos. “Casei aos 20 anos, fiquei viúva e criei meus quatros filhos. O que não pude para mim passei para meus filhos: os estudos. Todos os quatros são formados em duas faculdades”, conta com muito orgulho.
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Realizada com a maternidade foi então que Jocelia deu vazão ao sonho de menina. Decidiu que era seu momento, após completar seis décadas de vida. Iniciou então sua a jornada na vida acadêmica. Ingressou na Educação de Jovens e Adultos (EJA), mas ao concluir o curso achou que era tarde demais para ingressar na faculdade.
“Quando fiz 60 anos e casei a última filha decidi voltar aos estudos. Achava que não conseguiria por causa da idade, mas meu filho mais velho me incentivou”, lembra Jocelia.
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O filho Lauro Lemos lembra o apoio que deu à mãe. “Disse, mãe, quando a senhora vai estudar? E ela respondeu que quando Deus preparasse. Foi quando mostrei a inscrição na faculdade em São Vicente. Ensinei minha mãe a consultar os livros, fazer pesquisa na internet, dei um norte pra ela e ela se virou sozinha”.
Quando faltavam dois meses para completar 66 anos, a universitária recém-formada entrou no mercado de trabalho, provando que todo esforço do passado não foi em vão. Jocelia Lemos concretizou, então, o sonho de menina: se tornar professora de Língua Portuguesa. Ela se emociona ao descrever a sensação que teve ao dar sua primeira aula. A alegria de entrar em uma sala repleta de alunos a deixou completa. “Nunca tive dificuldade em dar aula. Sou respeitada em todas as salas. Quando alguém tenta fazer graça falo ‘se sua avó fica sentada no sofá o problema dela estou aqui para ensinar”, diz ela que leciona na Escola Estadual (EE) Luiz D’Áurea, no bairro Nova São Vicente, na Área Continental.
A idade nunca foi problema para Jocelia, que segue determinada como aquela menina que um dia sonhou com o lugar onde está. “A idade não é a que a gente tem no documento é a que a gente sente. Se a pessoa tem 50 e pensa que tem 30 ela leva uma vida normal. Quando me dizem que sou idosa eu digo que sou maior de idade. Dou risada e assumo que sou uma pessoa que ama a vida e amo meus alunos. O importante é a pessoa vencer. Mulheres de 30 ou 40 anos e todas que se acham velhas, velha é a estrada. Somos jovens e temos que contribuir animando uma as outras a realizar seus sonhos. Somos poderosas e felizes”.
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