Cotidiano
O método é de alta precisão e busca modular regiões do cérebro ligadas ao comportamento emocional e ao sistema de recompensa, como o córtex cingulado e o núcleo accumbens
Apesar do avanço, a ECP para depressão ainda está em fase experimental e não foi aprovada pela FDA, agência regulatória dos Estados Unidos / Freepik
Continua depois da publicidade
A depressão, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um dos maiores males do século, afeta mais de 300 milhões de pessoas no mundo. Embora o tratamento tradicional envolva psicoterapia e antidepressivos, há pacientes que não respondem a nenhuma abordagem, mesmo após tentar alternativas como eletrochoque ou estimulação magnética.
Para esses casos, uma nova técnica experimental pode abrir um caminho promissor: a Cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda (ECP).
Continua depois da publicidade
Em abril deste ano, a Colômbia entrou para a história ao realizar, pela primeira vez, a cirurgia em um paciente com depressão resistente. O procedimento ocorreu no Hospital Internacional da Colômbia, em Bucaramanga, sob comando do neurocirurgião William Omar Contreras e sua equipe.
Conheça também fruta que alivia os sintomas da depressão, segundo pesquisa de Harvard
Continua depois da publicidade
A paciente, Lorena Rodrigues, 34 anos, convivia com depressão severa e ansiedade desde os 17 anos. Após anos de tentativas frustradas com seis tipos diferentes de medicamentos, diversas terapias psicológicas, estimulação magnética e até eletroconvulsoterapia, seu quadro permanecia inalterado.
Selecionada após avaliações rigorosas de psiquiatras, neuropsicólogos e comitês médicos independentes, Lorena foi submetida a uma cirurgia de seis horas, durante a qual precisou permanecer acordada para que os médicos monitorassem, em tempo real, os efeitos da estimulação elétrica em seu cérebro.
Três meses após o procedimento, a paciente já apresenta sinais de melhora no bem-estar emocional, embora os resultados plenos possam levar até dois anos para se consolidar.
Continua depois da publicidade
A Estimulação Cerebral Profunda é um método de alta precisão que busca modular regiões do cérebro ligadas ao comportamento emocional e ao sistema de recompensa, como o córtex cingulado e o núcleo accumbens. Durante a cirurgia, são implantados quatro eletrodos conectados a um dispositivo no tórax, semelhante a um marca-passo, que emite impulsos elétricos capazes de regular emoções como tristeza profunda, culpa e ansiedade.
O gerador tem autonomia de 25 anos, mas precisa ser recarregado a cada três dias. A diferença desse procedimento em relação a experiências anteriores é justamente o uso de quatro eletrodos, ampliando a área de atuação cerebral e, potencialmente, a eficácia no combate aos sintomas.
Apesar do avanço, a ECP para depressão ainda está em fase experimental e não foi aprovada pela FDA, agência regulatória dos Estados Unidos. O método já é aplicado em doenças como o Mal de Parkinson, mas para depressão ainda são necessários mais estudos clínicos.
Continua depois da publicidade
Segundo especialistas, cerca de 400 procedimentos semelhantes já foram realizados em países como Canadá e nações europeias. O caso colombiano, porém, se destaca por sua ousadia e pelos resultados iniciais positivos.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil é o país com maior prevalência de casos de depressão na América Latina. Diante desse cenário, avanços como o realizado na Colômbia representam não apenas um marco para a ciência médica, mas também uma fonte de esperança para milhões de pacientes que vivem há anos sob o peso da doença.