Cotidiano

Primeiro 'fóssil de raio' do país foi achado no coração da Amazônia e surpreende cientistas

Gravada às margens do Rio Negro, a produção une ciência, cinema e jornalismo para investigar o poder das tempestades na região com maior incidência de raios do planeta

Ana Clara Durazzo

Publicado em 07/11/2025 às 10:30

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Durante um mês de expedição, os caçadores de tempestades monitoraram o céu amazônico com radares, sensores e câmeras de cinema / Ivars Utināns/Unsplash

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Às margens do Rio Negro, uma equipe formada por cientistas, cineastas e jornalistas passou dias em alerta, perseguindo tempestades em uma das regiões mais elétricas do planeta: a Amazônia.

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O Brasil, recordista mundial em incidência de raios, com cerca de 50 milhões de descargas por ano, é o cenário da série 'Caça Tempestades', que estreia nesta sexta-feira (7) no canal History.

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A produção é assinada pela cineasta Iara Cardoso, em parceria com o físico Osmar Pinto Júnior, referência mundial no estudo de raios e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e o jornalista Ernesto Paglia. Juntos, eles criam um híbrido entre documentário, reality e investigação científica, unindo jornalismo, ciência e cinema em uma jornada inédita pelos céus da floresta.

Primeiro fulgurito amazônico: o 'fóssil de raio'

Durante as filmagens, a equipe fez uma das descobertas mais raras da ciência atmosférica: o primeiro fulgurito amazônico — uma estrutura natural formada quando um raio atinge o solo rico em sílica, fundindo a areia em uma escultura cristalina.

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'Encontrar um fulgurito é como achar uma agulha no palheiro', explica o físico Osmar Pinto Júnior. 'Escavamos com pincéis de pintor para não quebrar nada.'

Essas formações, verdadeiros 'fósseis de raio', revelam como os raios moldam a Terra há milhões de anos e podem conter fósforo, elemento essencial à origem da vida. 'Os raios podem ter sido fundamentais na formação dos primeiros aminoácidos e compostos orgânicos', explica Osmar. 'Eles podem ter ajudado a iniciar a biologia como conhecemos.'

A floresta das tempestades curtas e intensas

Durante um mês de expedição, os caçadores de tempestades monitoraram o céu amazônico com radares, sensores e câmeras de cinema. O resultado surpreendeu: as tempestades da floresta são menores e mais breves, mas muito mais frequentes que as do Sul do país.

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'Às vezes, quando chegávamos ao ponto indicado, a tempestade já tinha morrido', relata Osmar. 'Mas a frequência era tão alta que registramos dezenas delas — inclusive um super-raio, até seis vezes mais potente que o comum.'

Ao todo, a equipe registrou 88 mil raios durante as gravações. 'Não era só filmar um raio em qualquer lugar. Queríamos uma imagem cinematográfica — uma tempestade com alma', explica a diretora Iara Cardoso.

O cinema como ferramenta científica

A diretora destaca que o projeto busca traduzir ciência em emoção.

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'O audiovisual tem um poder único: chega ao coração das pessoas”, diz Iara. 'Estamos vivendo uma crise climática, e o cinema pode inspirar mudança.'

A ideia nasceu de um reencontro com Paglia e Osmar Pinto Júnior, parceiros de longa data da série País dos Raios, exibida no Fantástico. Desta vez, a proposta foi criar um formato híbrido, entre documentário e reality, que mostrasse o risco e a emoção da ciência em tempo real.

Iara brinca que o projeto é uma versão brasileira de Twister: 'Enquanto os americanos caçam tornados, nós corremos atrás de raios na Amazônia'.

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Entre ciência e sobrevivência

O Brasil registra cerca de 100 mortes por raios por ano, segundo o Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat/Inpe). Embora o número tenha diminuído desde os anos 2000, o físico alerta que a educação ainda é o verdadeiro para-raios social.

'Precisamos ensinar isso nas escolas. Falar de tempestades e enchentes não é para assustar, mas para proteger', afirma Osmar.

Ele também lamenta a falta de recursos para pesquisa: “A ciência precisa de estrutura. Não dá para estudar o céu com papel e caneta. Precisamos de equipamentos, e isso custa caro.”

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O fim — ou o começo — da caça

No encerramento da jornada, entre o Encontro das Águas e o Rio Negro, a equipe entendeu que caçar tempestades é também compreender o planeta e a nós mesmos.

'A natureza vive em equilíbrio, e precisamos manter essa balança', diz Iara. 'As tempestades se conectam de forma única. Acredito nesse milagre científico — e que o cinema pode fazer a diferença pelo nosso amanhã.'

A série 'Caça Tempestades' também levará painéis à COP30, em Belém, para discutir a importância do monitoramento climático na Amazônia e o papel do audiovisual na educação ambiental e científica.

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