X

Cotidiano

Pressão por escola cívico-militar gera perseguição e repúdio em São Vicente

Perseguição à educadora vicentina movimenta alunos, sindicato, APEOESP, vereadora santista e Fórum Social da Baixada

Carlos Ratton

Publicado em 04/07/2021 às 08:21

Atualizado em 04/07/2021 às 20:49

Comentar:

Compartilhe:

A-

A+

Estudantes colocam faixa no momento que Coimbra falava sobre Escola Cívico Militar, deixando clara a insatisfação pela iniciativa. / Divulgação

A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Prefeito Jorge Bierrenbach Senra, no Jardim Rio Branco, foi alvo de manifestação, na última quinta-feira (1), no meio de uma reunião visando a transformação da unidade em escola cívico-militar. Segundo informado à Reportagem, a diretora da escola, professora Sonia Laide Lacerda Neves, não estava mas, por ser contra a iniciativa, estaria sendo perseguida pelo deputado Tenente Coimbra (PSL) e seus seguidores virtuais.

Procurada, a diretora Sonia Laide conta que soube por sua supervisora que a reunião foi autorizada pela Secretaria de Educação (Seduc) de São Vicente. "Eu não participei porque já havia feito uma reunião com pais para explicar, detalhadamente, o manual com decretos e portarias do projeto. Nela, 199 dos 302 pais que têm filhos na escola, ou seja 2/3 (maioria), reprovaram escola cívico-militar. Tenho tudo documentado, com assinatura deles", revela.

A diretora acredita que, por conta da atitude, passou a ser perseguida. "Tenho 27 anos de Magistério e todos nessa escola. Passei em concurso público. A escola cívico-militar é excludente, repleta de autoritarismo, como transferência compulsória, punição para quem esquecer material, padronização de corte de cabelo, entre outras medidas", revela.

SINDICATO

O caso da diretora Sonia Laide ultrapassou os limites do Município e chegou também ao conhecimento do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Santos (SINDSERV-Santos), que repudiou a iniciativa do deputado e declara total apoio à direção e à comunidade da escola vicentina, "alvos da inaceitável tentativa do governo de São Vicente e parlamentares alinhados ao que há de pior na política nacional de transformar a unidade num projeto-piloto do programa de escolas cívico-militares".

O Sindicato avalia que a escola será laboratório para instalação de um modelo de ensino calcado em práticas pedagógicas "antidemocráticas e reacionárias e com o claro objetivo de abrigar na educação mais centros de clientelismo e aparelhamento para militares reformados que nada têm a ver com as práticas educacionais de qualidade".

Para o SINDSERV, o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, instituído por decreto pelo presidente Jair Bolsonaro, sem discussão com a sociedade e especialistas, tem o claro interesse de boicotar a educação pública gratuita e de qualidade e, ao mesmo tempo, disseminar valores conservadores, reacionários e negacionistas.

O Sindicato lembra que qualificar a educação pública para todos, investindo em formação e valorização dos profissionais do magistério, mais concursos na educação, aumento do acesso aos estudantes e melhoria da infraestrutura dentro e fora das salas de aula são tarefas dos governos e direitos básicos das comunidades escolares.

VEREADORA

Em seu perfil no Facebook, a vereadora santista Débora Camilo (Psol) está cobrando do prefeito de São Vicente, Kayo Amado, uma posição clara sobre a questão e a defesa da professora de seu município. "Sonia Laide vem sendo duramente atacada e assediada, tanto pelo deputado bolsonarista Tenente Coimbra, quanto por seus seguidores (virtuais) e membros da própria administração. No último dia 16, durante a audiência pública sobre a implantação da escola cívico-militar, em Santos, Coimbra chegou a atacar abertamente a educadora", dispara.

APEOESP

A Reportagem ouviu a secretária de Organização para o Interior (Baixada Santista) do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), Sônia Maria Maciel. Segundo Sônia, foi feita uma audiência pública em São Vicente anterior à reunião, promovida também pelo deputado, em que o projeto só foi explanado, mas não foi à votação.

"Essa reunião de quinta-feira foi organizada pelas redes sociais sem o consentimento da diretora, que passou a ser perseguida", alerta Sonia Maciel, enfatizando que a intenção é implantar o projeto em 95 escolas do Interior de São Paulo "goela abaixo', sem discussão ampla com pais, alunos e professores.

ESTUDANTES

Pelo Instagram, o presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES), Hector Batista, também denunciou a reunião.

"Foram convidados apenas pais favoráveis ao projeto. Nosso representante, que foi até a escola acompanhar a reunião e colocar nosso posicionamento contrário, foi silenciado. Homens favoráveis ao projeto causaram tumulto contra quem denunciava o autoritarismo e a falta de democracia naquele espaço. No meio da confusão, fomos ameaçados e agredidos verbalmente. Se é assim que eles tratam os estudantes e professores, imagine quando a escola for implantada!", revelou o representante da Upes.

PREFEITURA E COIMBRA

A Secretaria de Educação (Seduc) de São Vicente informa que não recebeu nenhum comunicado e desconhece uma eventual perseguição imposta à diretora. No entanto, enviará um ofício ao sindicato que representa os professores para eventuais esclarecimentos, uma vez que preza por todos os funcionários da Educação.

Revela que a reunião foi solicitada e a supervisão escolar informou à diretora, atestado em ata. Também que o projeto das escolas cívico-militares recebeu uma audiência pública por meio de trâmites legais. "A atual fase dos processos de implantação é documental, tendo em vista a espera do Ministério da Educação e Cultura (MEC) sobre os documentos oficiais suscitados na audiência".

Por fim, garante que haverá uma consulta pública para que familiares, alunos e docentes da unidade decidam democraticamente pela implantação, ou não, do projeto.

COIMBRA

O deputado Tenente Coimbra não respondeu sobre a perseguição denunciada, mas ratificou as informações da Prefeitura quanto aos trâmites do processo, que deverá seguir para consulta pública. Disse que a diretora marcou reuniões com os pais para tratar de volta as aulas e material escolar e os surpreendeu com o assunto não seguindo as regras da consulta pública, que solicita divulgação prévia e ampla para a comunidade escolar.

"A própria fala da diretora constata a má intenção, pois já foi esclarecido pelo coordenador geral do programa que não existe nenhum tipo de transferência compulsória, punição e padronização de corte de cabelo. E a Seduc me procurou para fazer uma reunião com os pais que haviam enviado e-mail. Prontamente atendemos pois julgamos extremamente importante quebrar os mitos e mentiras que giram em torno do Programa de Escolas Cívico Militar", revela Coimbra.

Apoie o Diário do Litoral
A sua ajuda é fundamental para nós do Diário do Litoral. Por meio do seu apoio conseguiremos elaborar mais reportagens investigativas e produzir matérias especiais mais aprofundadas.

O jornalismo independente e investigativo é o alicerce de uma sociedade mais justa. Nós do Diário do Litoral temos esse compromisso com você, leitor, mantendo nossas notícias e plataformas acessíveis a todos de forma gratuita. Acreditamos que todo cidadão tem o direito a informações verdadeiras para se manter atualizado no mundo em que vivemos.

Para o Diário do Litoral continuar esse trabalho vital, contamos com a generosidade daqueles que têm a capacidade de contribuir. Se você puder, ajude-nos com uma doação mensal ou única, a partir de apenas R$ 5. Leva menos de um minuto para você mostrar o seu apoio.

Obrigado por fazer parte do nosso compromisso com o jornalismo verdadeiro.

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Variedades

'Tardezinha' sempre on! Thiaguinho lança "Em Busca da Minha Sorte" com Billy SP

Billy SP ficou nacionalmente conhecido por fazer parte do Grupo Samprazer

Nacional

Brasil tem 1.680 acidentes em ambiente de trabalho por dia

Marca chega a 70 a cada hora

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter