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Cotidiano

Prefeitura de Guarujá resgata vínculos familiares de morador de rua e faz recâmbio para terra de origem

A Prefeitura faz um trabalho constante de rondas com educadores de rua, Guarda Civil Municipal e assistentes sociais

Publicado em 18/06/2014 às 16:10

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“Quando alguém dá valor, o coração fica contente”. A frase é do ex-morador de rua guarujaense, Genildo Marques da Silva, de 52 anos, que após 21 anos em situação de extrema vulnerabilidade social por causa do alcoolismo e de problemas mentais, teve sua vida transformada. A história de Genildo tomou novo rumo após a Prefeitura de Guarujá reestabelecer o vínculo entre ele e seu pai, Assis da Silva, e fazer o recâmbio para a atual cidade da família, no município de Cabedelo, na Paraíba. O Governo Municipal pagou passagens de avião para Genildo, seu pai e de um cuidador social da rede municipal.

Guarujá é a única cidade da Baixada Santista que faz recâmbio, comprando a passagem de volta para os moradores de ruas que vêm de outras cidades. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social faz o contato com os familiares, compra a passagem e encaminha o usuário.

A assistente social e coordenadora do Albergue Municipal José Calherani, Bruna Silva Alves, relata que o primeiro registro de passagem de Genildo pelo serviço de atendimento à população de rua é de 1993. “O pai dele foi para a Paraíba quando ele ainda era criança. Seu histórico era de dependência química desde os 16 anos. Na sua ficha de atendimento no Caps, consta demência alcoólica, epilepsia e alteração do comportamento secundário à condição orgânica, além de ter uma mão atrofiada. Nesses anos todos, tinha como referência a casa da mãe, em Vicente de Carvalho, às vezes ficava lá, outras na rua, entrava e saía do Albergue. Até que sua mãe faleceu em 1998 e ele foi para a rua mais vezes. Em 2010, já debilitado, veio para o Albergue de vez. Não saiu mais”, contou.

No mesmo ano, seu pai foi informado que invadiram a casa e veio da Paraíba, quando soube as condições do filho. “O pai dele veio visitá-lo e, como ficou morando aqui em Guarujá de favor até resolver a situação jurídica da casa, não pode levá-lo, mas visitava com frequência e decidiu entrar com um pedido de curatela (encargo atribuído pelo juiz a um adulto capaz, para que proteja, guarde, responsabilize-se e administre os bens de pessoas declaradas incapazes) e acompanhava as consultas médicas”, explicou Bruna.

Foram quatros anos de luta, até o pai conseguir, juridicamente, a curatela definitiva e poder levar o filho para morar em sua casa. A equipe do Albergue o levava às consultas médicas necessárias e, no ano passado, conquistou o seu Benefício de Prestação Continuada (BPC), equivalente a um salário mínimo. Para Bruna, o que mais chamou atenção nesta história foi o fato “do pai ter assumido uma pessoa debilitada, que requer cuidados. Geralmente a família não assume”, considerou.

Lembranças – A Bíblia na mão, o olhar distante, a vontade de tomar muito café e os poucos momentos de consciência com mensagens positivas, assim como os repentinos ataques em que jogava longe o prato de comida, são as principais lembranças que a auxiliar de cuidadora, Joyce Vieira Carvalho Neves, guarda de Genildo.

“Às vezes eu tinha que dar comida na boca e em outras ele jogava a caneca de café e o prato de comida, mas na maioria das vezes era tranquilo. Ele conversava, mas de forma aleatória. Gostava de falar coisas boas, tendo só uma ou duas reações conscientes na semana. Quando aconteceia, ele dizia assim: 'Nessa vida nós não somos nada. Temos que ser educados' ou 'Quando alguém dá valor, o coração fica contente'.”, finalizou.

Enfrentamento às desigualdades é meta do Governo Municipal

A redução das desigualdades sociais, que marcam a história de Guarujá, é uma das prioridades da prefeita Maria Antonieta de Brito. Por conta disso, o Governo Municipal prioriza ações de fomento ao desenvolvimento econômico e a oferta de qualificação profissional gratuita aos munícipes, para que eles tenham condições de ocupar os postos de trabalho que estão surgindo. Além disso, em 2013, a Prefeitura aumentou o orçamento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social em 49%, subindo de R$ 28 milhões para R$ 42 milhões.

Com o novo recurso, foi possível contratar 94 novos funcionários via concurso público para atuar na pasta, inclusive no atendimento à população de rua. Além disso, nos últimos quatro anos, a Prefeitura reformou o Albergue Municipal José Calherani e criou o Centro Pop, ambos no Jardim Boa Esperança.

Atendimento – Atualmente, a Cidade possui cerca de 400 moradores de rua. Diversos fatores levam as pessoas a esta condição, como rompimento dos vínculos familiares e dependênia química. Periodicamente, são realizadas rondas da Força-tarefa, com assistentes sociais, educadores de rua e Guarda Civil Municipal, que fazem um trabalho de convencimento para encaminhar os moradores de rua para o atendimento no Albergue e Centro Pop, já que o poder público não pode obrigar as pessoas a saírem das ruas.

O Albergue Municipal tem capacidade para 70 pessoas. Já o Centro Pop atende diariamente, das 8 às 17 horas, 40 pessoas, que fazem refeições, tomam banho, recebem roupas limpas e fazem cursos no local. Já no início deste ano, a Prefeitura conquistou junto ao Governo Federal o Consultório de Rua do Programa “Crack, é possível vencer”, com atendimento prioritário aos moradores de rua.

Não dê esmola!

A Secretaria orienta ainda os munícipes e instituições a não darem esmolas e nem darem comida aos moradores de rua, porque estes atos não colaboram para a mudança de conduta dessas pessoas. A recomendação é encaminhá-los aos serviços da rede municipal ou das entidades assistenciais.

Serviço

Albergue Municipal José Calherani – Rua Manoel Otelo Rodrigues, 389 – Jardim Boa Esperança – Telefone: 3387 – 6016

Centro Pop – Avenida Adriano Dias dos Santos, 303 – Jardim Boa Esperança – Telefone: 3384-2756

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