Prefeito César Nascimento, de Cubatão, liderou uma comitiva em Brasília na última semana / Divulgação/PMC
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A possibilidade de fechamento da principal entrada da Vila dos Pescadores, em Cubatão, conhecida como “Frentona”, mobilizou o poder público municipal. A passagem de nível sobre os trilhos da linha férrea — que conecta diretamente o centro do bairro à Marginal da Via Anchieta — está ameaçada de bloqueio definitivo pela concessionária MRS Logística, responsável pela ferrovia.
O temor é que o bairro, com cerca de 19 mil moradores, fique isolado, já que não há atualmente outra rota de acesso com condições adequadas para o tráfego de veículos, especialmente de emergência.
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Diante da iminência do bloqueio, o prefeito de Cubatão, César Nascimento, liderou uma comitiva em Brasília na última semana, com o objetivo de evitar a interdição da passagem. Ele participou de reuniões com o Ministério dos Transportes e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), órgãos responsáveis pela política e fiscalização das concessões ferroviárias no país.
“Fechar a ‘Frentona’ agora é colocar em risco toda uma população. Sem este acesso, como as ambulâncias, carros de bombeiros e transporte escolar entrarão no bairro? Seria uma irresponsabilidade enorme”, declarou o prefeito, destacando que as obras de ampliação da Avenida Ferroviária, que ligaria o bairro ao novo viaduto construído pela MRS, ainda estão em fase de licitação.
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As autoridades federais se mostraram receptivas ao apelo. Luis Fellipe Arrussul, diretor de Outorgas Ferroviárias do Ministério dos Transportes, prometeu analisar a situação. Na ANTT, técnicos também demonstraram apoio à manutenção provisória do acesso. “Acredito que conseguimos atingir nosso objetivo. Deixei claro que o meu lado sempre será o da população. Se algo é bom para os moradores da minha cidade, eu apoio. Se for prejudicá-los, sempre serei contra”, afirmou Nascimento.
Antes mesmo da ida da comitiva a Brasília, moradores da Vila dos Pescadores já haviam se organizado e falaram com a reportagem do Diário do Litoral. Lideranças comunitárias lançaram o “Movimento Não Fechem a Frentona” e iniciaram um abaixo-assinado para pressionar pela permanência da passagem. A iniciativa surgiu após a comunidade ser informada — sem consulta prévia — de que a via seria fechada a partir de maio.
Ana Lúcia Roberto, presidente da Associação de Melhoramentos da Vila dos Pescadores, contestou o argumento de segurança utilizado pela concessionária. “A MRS fez o viaduto e quer fechar a nossa única entrada, por onde ambulâncias e bombeiros chegam mais rápido. O viaduto fica no começo do bairro e a nossa entrada no meio. Não houve consulta pública”, criticou.
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O líder comunitário Leandro Silva de Araújo também se manifestou contra a medida, apontando o histórico de emergências no bairro. “Um minuto a mais para a chegada dos bombeiros pode significar a vida ou a morte de dezenas de pessoas. Tivemos incêndios grandes em 2023 e 2024, atingindo centenas de famílias”, relatou.
Natália Cristine da Silva Alberto, outra liderança local, questionou a lógica da concessionária. “São poucos os acidentes e geralmente por desatenção de pedestres. Vão manter uma passagem para pedestres, mas fechar para veículos. Isso não resolve o problema de segurança e pode piorar o fluxo.”
Casos como o de Daiane Paz Silva ilustram o impacto direto da medida. Ela contou que sua filha, com problemas cardíacos, foi salva graças à rapidez de uma ambulância que utilizou a “Frentona”. “Se fosse pelo viaduto, talvez ela não tivesse sobrevivido”, afirmou.
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A Prefeitura de Cubatão reforça que o viaduto da Vila dos Pescadores, inaugurado em parceria com a MRS ao custo de R$ 65 milhões, é uma obra estratégica para a mobilidade urbana e segurança viária do bairro. Com 375 metros de extensão e mão dupla, o elevado foi concebido para garantir o tráfego mesmo durante a passagem dos trens, além de incluir melhorias urbanísticas como paisagismo, escultura do guará vermelho e acesso a novos equipamentos públicos.
O viaduto integra um projeto mais amplo de urbanização da Vila, que prevê mais de R$ 150 milhões em investimentos na primeira etapa, com construção de moradias, unidades de saúde e assistência social, além de uma escola e um píer no Rio Casqueiro.
Ainda assim, a população afirma que o novo viaduto não substitui a funcionalidade e centralidade da “Frentona”, que conecta diretamente o coração do bairro a vias principais. Até que outras obras sejam concluídas, o fechamento da passagem representa, para muitos moradores, uma ameaça real à segurança e ao direito de ir e vir.
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Com o apoio popular e a articulação política em Brasília, a decisão agora está nas mãos do governo federal e da concessionária. A comunidade aguarda os próximos desdobramentos, com esperança de manter aberta a via que há décadas é símbolo de acesso e sobrevivência para a Vila dos Pescadores.