Cotidiano
Antes da era moderna, dormir em duas etapas era comum; entenda como a mudança de rotina e luz elétrica transformou nosso descanso
Segundo especialistas em sono, acordar brevemente durante a noite é natural e acontece nas transições entre as fases do sono / Pexels
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Durante a maior parte da história da humanidade, o costume de dormir oito horas seguidas simplesmente não existia.
Até poucos séculos atrás, as pessoas dormiam em dois turnos por noite, chamados de primeiro sono e segundo sono. Entre eles, havia um período de vigília natural, que durava de uma a duas horas.
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Pesquisas históricas e registros de diversas partes do mundo — como Europa, África e Ásia — mostram que, após o anoitecer, as famílias costumavam dormir cedo, acordar por volta da meia-noite e voltar a repousar até o amanhecer. O intervalo entre os dois sonos era considerado parte normal da rotina noturna.
“O sono contínuo é uma invenção recente da vida moderna. Por milênios, a noite foi dividida em duas partes, e isso moldava até nossa noção de tempo”, explica o portal The Conversation, que reuniu estudos sobre o tema.
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Durante essa pausa, muitos aproveitavam para atiçar o fogo, verificar os animais ou orar. Outros ficavam na cama, refletindo sobre sonhos ou trocando ideias com familiares.
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Há registros de pessoas que liam, escreviam cartas ou até socializavam com vizinhos nesse intervalo. Casais também costumavam usar esse momento de vigília para momentos de intimidade.
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Poetas antigos, como Homero e Virgílio, já mencionavam em suas obras uma “hora que encerra o primeiro sono” — evidência de que o hábito era amplamente reconhecido.
O fim desse ciclo natural começou há cerca de dois séculos, com a chegada da iluminação artificial. As lâmpadas a óleo e, depois, o gás e a luz elétrica tornaram a noite mais produtiva, fazendo as pessoas dormirem mais tarde.
Essa mudança de rotina, somada ao ritmo imposto pela Revolução Industrial, padronizou o descanso em um único bloco de oito horas. As fábricas exigiam horários fixos e contínuos, o que eliminou gradualmente o intervalo noturno.
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Além disso, a exposição à luz forte durante a noite interfere na produção de melatonina, o hormônio do sono, e altera o ritmo circadiano — o que nos torna menos propensos a acordar naturalmente no meio da noite.
Estudos modernos mostram que, em comunidades sem eletricidade — como a de agricultores em Madagascar — o padrão de sono bipartido ainda é comum.
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Em experimentos de laboratório que simulam longas noites de inverno, voluntários também voltam a dormir em dois turnos, com um intervalo calmo de vigília.
Essa pausa natural pode ter ajudado nossos antepassados a enfrentar as longas noites escuras, dando uma sensação de que o tempo passava de forma mais equilibrada.
A luz é o principal regulador do relógio biológico. No inverno, quando os dias são mais curtos e frios, a falta de luz natural torna o corpo mais confuso sobre o tempo de dormir e acordar.
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Pesquisas da Universidade de Keele, no Reino Unido, mostram que ambientes escuros fazem o tempo parecer mais lento, especialmente entre pessoas com humor mais baixo.
Em regiões de inverno extremo, como o Ártico, a ausência do nascer e do pôr do sol pode causar distorções na percepção do tempo, mas populações locais acabam se adaptando melhor por meio de rotinas estáveis e fatores genéticos.
Em seu canal no YouTube, o médico Dráuzio Varella lista quais os melhores hábitos para ter um sono melhor. Anote:
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Segundo especialistas em sono, acordar brevemente durante a noite é natural e acontece nas transições entre as fases do sono, especialmente antes do estágio REM — aquele dos sonhos vívidos.
O que muda é a reação de cada pessoa. Ansiedade, tédio e escuridão podem fazer o tempo parecer mais longo, aumentando a sensação de insônia.
A terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I) recomenda levantar-se após 20 minutos acordado, fazer uma atividade tranquila sob luz fraca, como ler, e voltar à cama apenas quando o sono retornar.
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Outra dica é evitar olhar o relógio — isso reduz a pressão mental sobre o tempo e ajuda o corpo a relaxar.
Aceitar o despertar noturno como algo natural, e não como um problema, pode ser o primeiro passo para recuperar o descanso e entender que o “segundo sono” é parte da nossa história.