Cotidiano

Pesquisadores alertam sobre como mudanças climáticas podem acordar vulcões

As pesquisas realizadas na Islândia coincidem com erupções recentes no Havaí e na Etiópia e preocupam estudiosos

Luna Almeida

Publicado em 24/11/2025 às 21:55

Atualizado em 24/11/2025 às 22:09

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Essa hipótese ganha força em um momento em que diferentes regiões do mundo registram atividades eruptivas / Pexels

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O aquecimento global tem provocado consequências visíveis em diversas partes do planeta, mas cientistas alertam para um efeito ainda pouco discutido: o possível despertar de vulcões adormecidos. Na Islândia, país com cerca de 130 vulcões potencialmente ativos, pesquisadores investigam como o derretimento acelerado das geleiras pode interferir diretamente nos sistemas magmáticos. 

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A preocupação cresce à medida que a cobertura de gelo diminui, removendo parte da pressão exercida sobre câmaras vulcânicas que permaneceram estáveis por séculos.

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Essa hipótese ganha força em um momento em que diferentes regiões do mundo registram atividades eruptivas expressivas. Em entrevista à Rádio France Internacional, especialistas lembram que o Fagradalsfjall, no vale de Reykjanes, entrou em erupção após 800 anos de silêncio. 

O episódio, registrado em agosto passado, ocorreu em um período de forte atividade sísmica, com milhares de tremores em pouco mais de dois dias. 

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Para o vulcanólogo Jacques-Marie Bardintzeff, as transformações climáticas podem estar influenciando o aumento dessa instabilidade, embora a relação ainda esteja em estudo.

Erupções recentes reforçam preocupação global

Especialistas lembram que o Fagradalsfjall, no vale de Reykjanes, entrou em erupção após 800 anos de silêncio / Wikimedia Commons/Berserkur
Especialistas lembram que o Fagradalsfjall, no vale de Reykjanes, entrou em erupção após 800 anos de silêncio / Wikimedia Commons/Berserkur
O Kilauea  considerado um dos vulcões mais ativos do planeta  registrou sua 37ª erupção desde dezembro de 2024 / Reprodução/Youtube
O Kilauea considerado um dos vulcões mais ativos do planeta registrou sua 37ª erupção desde dezembro de 2024 / Reprodução/Youtube
O Hayli Gubbi entrou em erupção depois de cerca de 12 mil anos sem sinais de atividade / Reprodução/Redes Sociais
O Hayli Gubbi entrou em erupção depois de cerca de 12 mil anos sem sinais de atividade / Reprodução/Redes Sociais
O risco não está apenas nas erupções em si, mas na soma de impactos que elas provocam / Reprodução/Redes Sociais
O risco não está apenas nas erupções em si, mas na soma de impactos que elas provocam / Reprodução/Redes Sociais

Enquanto pesquisadores europeus examinam como o clima pode interferir no comportamento dos vulcões islandeses, outros acontecimentos chamam a atenção. 

No Havaí, o Kilauea – considerado um dos vulcões mais ativos do planeta – registrou sua 37ª erupção desde dezembro de 2024. Jatos de lava avançaram pela Ilha Grande, criando rios incandescentes que voltaram a iluminar a paisagem havaiana. 

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A fluidez da lava é característica do Kilauea, que mantém atividade quase contínua há quatro décadas.

Já no nordeste da Etiópia, o cenário é ainda mais simbólico para os especialistas. O Hayli Gubbi entrou em erupção depois de cerca de 12 mil anos sem sinais de atividade. A explosão lançou colunas de cinzas que chegaram a 14 quilômetros de altitude e se dispersaram rapidamente até o Oriente Médio e o sul da Ásia. 

O evento, registrado por observatórios internacionais, ocorreu em uma das regiões geologicamente mais instáveis do planeta, o Rift Africano, responsável pela separação progressiva das placas tectônicas da África, Arábia e Somália.

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Como o clima pode influenciar sistemas vulcânicos

Na Islândia, a combinação de gelo espesso e intensa atividade geotérmica cria condições únicas de instabilidade. Bardintzeff explica que geleiras como Vatnajökull, com até dois quilômetros de espessura, funcionam como tampas naturais sobre grandes sistemas vulcânicos. 

À medida que a temperatura média global sobe, essas camadas de gelo derretem e reduzem a pressão na superfície, o que pode facilitar a ascensão do magma.

Entender essa relação é o foco de estudos conduzidos por cientistas ligados ao IPCC, o painel global da ONU sobre clima. 

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Nos cenários mais pessimistas, com aumento de até 4°C até o fim do século, apenas 30% das geleiras islandesas seriam preservadas. 

Se o gelo recuar mais rapidamente, a formação de bolsões de água entre vulcões e geleiras pode gerar fluxos gigantescos, semelhantes ao volume do rio Amazonas, capazes de arrastar blocos de gelo do tamanho de caminhões.

Um alerta para o futuro

O risco não está apenas nas erupções em si, mas na soma de impactos que elas provocam. Atividades explosivas podem lançar cinzas e gases tóxicos até a estratosfera, alterar padrões climáticos e agravar fenômenos extremos. 

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Episódios históricos reforçam essa ligação: a erupção do Laki, em 1783, gerou meses de más colheitas na Europa e contribuiu para crises alimentares.

Enquanto isso, vulcões como o Kilauea e o Hayli Gubbi ilustram que sistemas geológicos antes estáveis continuam respondendo a um planeta em transformação. Mesmo que a conexão entre clima e atividade vulcânica ainda não seja totalmente compreendida, pesquisadores defendem que o tema deve ganhar urgência.

Os próximos anos serão determinantes para medir até que ponto as mudanças climáticas interferem na dinâmica das profundezas da Terra. 

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A ciência avança, mas o consenso entre especialistas é claro: monitorar esses sistemas será fundamental em um século que já demonstra sua instabilidade.

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