A avaliação da toxicidade da nova formulação foi realizada inicialmente em larvas de Galleria mellonella / Pexels
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Uma nova formulação anti-inflamatória para o tratamento de cães com osteoartrite foi criada por pesquisadoras da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP.
A inovação utiliza nanocristais de firocoxibe, princípio ativo já usado em medicamentos veterinários. Em testes com cães da raça beagle, a nova formulação oral líquida dobrou a concentração do firocoxibe no sangue dos animais em comparação aos medicamentos convencionais.
Um pedido de patente foi recentemente registrado pela Agência USP de Inovação (Auspin) no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).
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Uma das vantagens desse potencial tratamento é a forma de apresentação. A formulação líquida desenvolvida é mais fácil de ser administrada em pets.
Além disso, os comprimidos mastigáveis disponíveis no mercado apresentam baixa solubilidade em água, o que limita sua absorção e biodisponibilidade (quantidade que é efetivamente aproveitada para efeitos terapêuticos) no organismo.
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Em entrevista ao Jornal da USP, a autora da pesquisa diz que a nanotecnologia possibilita a produção de nanopartículas ou nanocristais de princípios ativos, o que permite modificar as propriedades físicas e químicas das substâncias e maior controle sobre as características dos medicamentos.
“Em fármacos convencionais, por exemplo, a divisão das partículas é em torno de 20 a 30 micrômetros (μm), já quando é feito o processo de moagem de alta energia da substância ativa há uma redução de partículas entre 250 a 270 nanômetros (nm). O medicamento nanoestruturado resultou em partículas com tamanhos de 200 nanômetros”, diz Luiza de Oliveira Macedo, chamando atenção para a diminuição.
Segundo a professora Nádia Araci Bou-Chacra, orientadora da pesquisa de doutorado que gerou o artigo e que será defendida em breve na FCF, a nova formulação pode tornar o tratamento mais eficaz.
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Isso significa que será possível usar uma dose menor para obter o mesmo efeito, com início de ação mais rápido e intervalos maiores entre as doses — o que facilita o tratamento, tanto para humanos quanto para animais.
A pesquisadora considera a nova formulação um avanço importante na medicina veterinária. Ela destaca que, com o aumento da expectativa de vida dos animais de estimação, cresce também a demanda por medicamentos voltados ao tratamento de doenças relacionadas ao envelhecimento.
“Hoje, os pets são considerados membros da família, e seu bem-estar é uma prioridade para os tutores”, afirma ao Jornal da USP. O setor pet no Brasil está em expansão e, em 2024, movimentou R$ 75,4 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). Desse total, os produtos veterinários, incluindo medicamentos, responderam por R$ 7,8 bilhões, cerca de 10,4% do mercado.
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Ao Jornal da USP, Luiza Macedo conta que a ideia para o desenvolvimento da fórmula surgiu de uma demanda do mercado veterinário por uma versão líquida do firocoxibe, até então disponível como comprimidos mastigáveis.
Ela explicou que os remédios líquidos facilitam sua administração, já que as doses podem ser ajustadas de acordo com o peso do animal, sem a necessidade de dividir comprimidos.
Após uma revisão científica em que se constatou que os nanocristais seriam uma das estratégias mais promissoras na inovação farmacêutica, a pesquisadora iniciou a fase prática de ensaios em laboratório.
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Durante o processo de moagem de alta energia, o fármaco firocoxibe foi disperso em um meio líquido com estabilizantes poliméricos e submetido ao impacto de esferas de zircônia em rápida rotação para promover a fragmentação das partículas maiores.
Ao final, as esferas foram removidas da suspensão e o nanocristal do fármaco estava pronto para ser usado em formulações líquidas, cápsulas e géis.
A avaliação da toxicidade da nova formulação foi realizada inicialmente em larvas de Galleria mellonella, espécie de mariposa amplamente usada como modelo biológico em pesquisas farmacêuticas.
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Considerado um método simples, rápido e de baixo custo, o teste é feito antes de avançar para experimentos com animais vertebrados.
Nesta etapa, mesmo com doses até dez vezes superiores à convencional, não foram observados efeitos adversos significativos nas larvas.
Com os resultados positivos, os ensaios avançaram para cães, a espécie-alvo de um futuro medicamento com o princípio ativo nanoestruturado.
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Um grupo recebeu uma dose única da nova formulação com nanocristais, enquanto o outro foi tratado com o medicamento convencional.
Com dose de 5 mg por quilo, o fármaco tradicional atingiu concentração de 580 ng/mL no sangue após uma hora, caindo para 98 ng/mL em 24 horas. Já a versão com nanocristais alcançou 1.105 ng/mL em apenas 30 minutos, reduzindo para 113 ng/mL no mesmo período.
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Embora a patente já tenha sido depositada, o caminho até a transformação da nova formulação em um medicamento veterinário aprovado é longo e desafiador. Segundo Luiza, o processo envolve testes rigorosos e pode levar anos até que o produto esteja disponível comercialmente.
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O desafio agora passa a ser reproduzir a formulação em escala comercial, com segurança e qualidade uniformes em cada lote. Para isso, será necessário seguir normas internacionais de boas práticas de fabricação, com controle rigoroso de qualidade, rastreabilidade das matérias-primas e padronização de todas as etapas do processo produtivo.
O texto contém informações da Agência SP*