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Pelo menos 42 pessoas foram mortas de 332 feridas em confrontos armados entre soldados e partidários do presidente deposto do Egito, Mohammed Morsi, nesta segunda-feira
Em comunicados divulgados logo depois do ataque de hoje, a Irmandade Muçulmana, que apoia Morsi, disse que soldados abriram fogo com munição de verdade contra partidários do ex-presidente, quando eles participavam de uma oração durante a madrugada. O grupo chamou as mortes de "massacre" de pediu a seus seguidores que lancem um "levante" contra "aqueles que roubaram a revolução", uma referência ao Exército egípcio.
Porta-vozes militares disseram à Associated Press que homens armados abriram fogo contra as tropas que estavam no prédio, matando pelo menos cinco partidários de Morsi e um militar.
Desde o golpe militar que derrubou Morsi, cinco dias atrás, a Irmandade tem realizado protestos regulares do lado de fora do prédio da Guarda Republicana, onde, acredita-se, o ex-presidente é mantido.
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As duas últimas semanas têm sido marcadas por grandes protestos contra Morsi, além de manifestações exigindo sua volta ao poder e confrontos isolados entre opositores do ex-presidente e seus partidários islamitas.
Os dois lados se apresentam como vítimas do confronto desta segunda-feira. A Irmandade enviou, por e-mail, links para vídeos no YouTube que mostram vítimas civis sendo retiradas do local onde ocorreram os disparos antes do amanhecer.
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A televisão estatal egípcia mostrou imagens de civis disparando contra soldados e policiais, ao mesmo tempo que afirmava que os soldados em frente à sede da Guarda Republicana agiram em autodefesa.
A violência desta manhã já abalava as afirmações do novo governo, segundo as quais o golpe da semana passada foi uma resposta aos desejos do povo egípcio. O porta-voz do Partido Nour, que representa políticos salafistas e foi o único grupo islamita a apoiar o golpe militar, anunciou na manhã desta segunda-feira em sua página no Facebook que estava se retirando as negociações sobre um novo governo em protesto contra as mortes.
"Não ficaremos em silêncio a respeito do massacre na Guarda Republicana hoje", disse Nadar al Bakkar. "Nós queríamos o fim do derramamento de sangue, mas agora o sangue forma rios. Nós nos retiramos de todas as negociações com o novo governo."
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Na medida em que as informações sobre os confrontos eram divulgadas na manhã desta segunda-feira, a violência parecia aumentar. O Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana, pediu que o "grande povo do Egito se levante contra aqueles que querem roubar a revolução".
Logo após o confronto, dois soldados foram sequestrados no bairro de Ain Shams, no Cairo, segundo a rádio estatal egípcia.
Mohamed ElBaradei, líder da oposição egípcia que foi indicado como vice-presidente na noite de domingo, disse em sua página no Twitter nesta segunda-feira que "violência gera violência e deve ser fortemente condenada. Uma investigação independente deve ser realizada. A transição pacífica é o único caminho."
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A Frente de Salvação Nacional, agrupamento de partidos políticos liderado por ElBaradei, expressou sua "profunda tristeza" por causa da violência e exigiu uma investigação independente.
No final da manhã, a calma havia voltado à região dos ataques. Testemunhas e sobreviventes disseram que o ataque começou por volta das 3h30, quando os manifestantes encerravam uma oração. As primeiras indicações de problemas foram ouvidas quando o comitê civil de segurança começou a fazer um barulho metálico, usado para advertir sobre perigo.
"Nós ouvimos o barulho e o imã que coordenava a oração acelerou os trabalhos e logo após estava um caos", disse Ayad Sayed, ceramista de 30 anos que tinha um curativo no tronco e falou sobre ferimentos provocados por tiros de chumbinho em suas costas e no peito.
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Segundo testemunhas, primeiro foi usado gás lacrimogêneo, seguido por disparos com balas de verdade e de chumbinho.
O médico El Hassan Ahmed, que trabalha na emergência do hospital Kasr el Aini e estava no hospital de campanha da mesquita Raba quando vários feridos chegaram, disse que cuidou de "uma série de ferimentos" provocados por disparos de grande calibre, além de traumas provocados por cassetetes e botas. Segundo ele, as idades dos pacientes vão de uma criança de 10 meses até um homem de 65 anos.
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