Cotidiano

Peixes do litoral paulista têm cocaína e remédios em seus tecidos, revela estudo

Realizado pela Universidade Santa Cecília, o estudo acende um alerta para a contaminação marinha por substâncias químicas através do esgoto

Luna Almeida

Publicado em 25/06/2025 às 07:20

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

O estudo analisou o fígado e o músculo de cinco espécies marinhas / Freepik/luis_molinero

Continua depois da publicidade

Uma pesquisa inédita realizada por cientistas da Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos, revelou a presença de medicamentos e até de cocaína em peixes capturados na costa do estado de São Paulo. 

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

O estudo foi publicado na revista científica Regional Studies in Marine Science e acende um alerta para a contaminação marinha por substâncias químicas que chegam ao oceano por meio do esgoto doméstico.

Continua depois da publicidade

Leia Também

• Não só o camarão, mas cações pescados no litoral também estão contaminados

• Quase todo o camarão pescado no litoral está contaminado, segundo estudo

• Não só um: litoral de SP tem 6 entre os 10 rios mais poluídos do mundo; entenda

Os peixes analisados são espécies consumidas com frequência pela população da Baixada Santista, e os compostos encontrados incluem paracetamol, cafeína, furosemida (um diurético), benzoilecgonina (metabólito da cocaína) e a própria cocaína. 

Embora ainda não existam dados conclusivos sobre os riscos à saúde humana, os pesquisadores chamam atenção para a exposição contínua dessas substâncias, inclusive por meio da alimentação.

Continua depois da publicidade

Além dos peixes, os camarões pescados na região também apresentam sinais de contaminação.

Peixes contaminados em Santos e Guarujá

O estudo analisou o fígado e o músculo de cinco espécies marinhas: Cathorops spixii (bagre-amarelo), Genidens genidens (bagre-marinho), Bagre marinus (bagre-bandeira), Larimus breviceps (oveva) e Pellona harroweri (sardinha). 

Todas foram coletadas em áreas urbanizadas com atividade pesqueira tradicional, como a Praia do José Menino, em Santos, e a Praia do Perequê, em Guarujá.

Continua depois da publicidade

Três espécies foram obtidas diretamente com pescadores locais, no mesmo dia da pescaria em Santos. 

As demais foram capturadas nas proximidades da Ilha do Perequê, em Guarujá. Segundo o artigo, são peixes amplamente distribuídos pela costa brasileira e comumente comercializados como parte da chamada “mistura” – espécies de menor valor comercial, mas muito consumidas.

Como a contaminação foi detectada

As amostras foram transportadas em caixas com temperatura controlada e processadas em laboratórios da Unisanta. 

Continua depois da publicidade

Após identificação e medição dos peixes, os pesquisadores extraíram tecido muscular e hepático, submetendo-os à cromatografia líquida com espectrometria de massas (LC-MS/MS), técnica de alta precisão que detecta compostos mesmo em concentrações muito baixas.

A pesquisa contou com a participação dos professores Luciana Lopes Guimarães, Vinicius Roveri, Ursulla Pereira Souza e do doutorando João Henrique Alliprandini da Costa. 

Os laboratórios envolvidos foram o de Produtos Naturais (LPPNat) e o de Biologia de Organismos Marinhos e Costeiros (Labomac). A colaboração internacional ficou por conta do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR/CIMAR - Portugal).

Continua depois da publicidade

Destaques da análise

Entre os principais achados, o bagre-amarelo (Cathorops spixii) apresentou as maiores concentrações de compostos, tanto no fígado quanto no músculo. 

Paracetamol foi detectado apenas no músculo dessa espécie, justamente a parte consumida pelas pessoas. 

Já a cafeína teve maior presença no bagre-bandeira (Bagre marinus), o que os pesquisadores relacionam com registros prévios de níveis elevados dessa substância na região.

Continua depois da publicidade

Outro dado relevante foi a diferença nas concentrações de cocaína e benzoilecgonina em espécies como C. spixii e L. breviceps. A cocaína se mostrou mais facilmente absorvida e acumulada nos tecidos, devido às suas propriedades físico-químicas.

Riscos e ausência de controle legal

O estudo aponta que a presença dessas substâncias se deve, principalmente, à liberação de esgoto doméstico sem tratamento adequado, lançado ao mar por emissários submarinos. 

Embora o Brasil ainda não preveja monitoramento legal de compostos farmacológicos e ilícitos em ambientes costeiros, os autores reforçam a necessidade de ampliar esse debate e investir em políticas de controle e saneamento.

Continua depois da publicidade

Segundo os pesquisadores, é a primeira vez que a cafeína e o paracetamol são identificados em espécies marinhas capturadas na costa brasileira. Quatro dos fármacos detectados também foram registrados pela primeira vez nos tecidos do bagre-amarelo.

A pesquisa alerta que, embora as concentrações encontradas sejam baixas, a exposição crônica pode representar riscos para a saúde humana, o que reforça a importância de novos estudos na área.

Mais Sugestões

Conteúdos Recomendados

©2025 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software