Cotidiano
Localizada no número 289 da Rua Conselheiro Rodrigues Alves, a vila construída entre as décadas de 1920 e 1930 abriga sete sobrados típicos do início do século 20
A comunidade, ex-moradores e defensores da memória urbana seguem mobilizados / Reprodução/Redes Sociais
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A Vilinha da Vila Mariana, um dos últimos conjuntos residenciais históricos ainda de pé na capital paulista, vive há oito anos um cenário de abandono, incerteza e disputa jurídica. Localizada no número 289 da Rua Conselheiro Rodrigues Alves, a vila construída entre as décadas de 1920 e 1930 abriga sete sobrados típicos do início do século 20, com pátio central, vegetação abundante e clima bucólico raro na metrópole.
Fechada desde 2017, a Vilinha permanece cercada por tapumes, vazia e sem manutenção. O motivo: um conflito que opõe movimentos de preservação, ex-moradores e a incorporadora que comprou o terreno com planos de erguer ali um novo empreendimento imobiliário.
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Até 2017, toda a Vilinha pertencia a um único proprietário, que decidiu vender o conjunto para uma construtora. A negociação levou à desocupação compulsória dos moradores, que receberam comunicado para deixar os imóveis e encerraram ali uma convivência marcada por festas, eventos coletivos e uso livre do espaço, que nunca foi fechado por portões.
Dois anos depois, a demolição chegou a ser marcada. Tratores abriram parte dos muros externos para iniciar o serviço. A ação só foi interrompida graças a uma ordem judicial obtida pelo grupo de ex-moradores, que travaram uma corrida contra o tempo para preservar as casas.
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Logo em seguida, o Conpresp — Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental — abriu o processo de tombamento da área. O pedido, no entanto, existe desde 2006, quando os moradores solicitaram pela primeira vez o reconhecimento histórico.
Mesmo com o processo aberto, o tombamento nunca foi concluído, e as sete casas seguem em um limbo jurídico que impede reformas, ocupação e qualquer intervenção — mantendo o espaço vulnerável à deterioração.
Entre os defensores da preservação está a atriz e cineasta Ana Petta, que viveu 14 anos em um dos sobrados. Ela levou a história da Vilinha para as telas no documentário Amora, filmado após a saída dos moradores.
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A obra acompanha o olhar de seu filho Pedro, que nasceu e cresceu no local, e usa as memórias afetivas da infância para construir uma reflexão sobre pertencimento, perda e abandono histórico. O filme expõe a transformação da vila em um espaço vazio e sem cuidados, ao mesmo tempo em que celebra sua relevância arquitetônica e social.
Amora estreou na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2025 e circulou por festivais no México e Uruguai, ampliando o debate sobre a preservação de vilas antigas — patrimônio que vem desaparecendo da paisagem paulistana.
Com o processo de tombamento parado e o imóvel fechado desde 2017, a Vilinha da Vila Mariana permanece em estado de abandono. A incorporadora que adquiriu o terreno não pode demolir, e a cidade ainda não decidiu se o conjunto será reconhecido oficialmente como patrimônio.
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Enquanto isso, as casas, que resistiram por quase um século, sofrem com infiltração, rachaduras e desgaste do tempo.
A comunidade, ex-moradores e defensores da memória urbana seguem mobilizados. A expectativa é que o Conpresp retome o processo de análise e defina finalmente o destino da Vilinha, que se tornou símbolo da luta pela preservação dos fragmentos históricos ainda existentes em São Paulo.
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