Cotidiano

Pássaros coloridos desaparecem das cidades brasileiras e preocupam especialistas

O desaparecimento dessas aves não é obra do acaso, mas resultado de uma combinação de fatores ecológicos e urbanos

Ana Clara Durazzo

Publicado em 12/09/2025 às 10:00

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Para sobreviver, as aves coloridas precisam de abrigo em áreas densas de vegetação, mas nas cidades elas se tornam mais visíveis e vulneráveis à predação / Freepik

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Avistar pássaros coloridos em áreas urbanas brasileiras tem se tornado um evento cada vez mais raro. O desaparecimento dessas aves não é obra do acaso, mas resultado de uma combinação de fatores ecológicos e urbanos que comprometem a sobrevivência dessas espécies em meio à 'selva de pedra'.

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Por que as aves coloridas estão sumindo?

De acordo com o biólogo Lucas do Nascimento, pesquisador da USP, espécies como a saíra-sete-cores, a saíra-ferrugem e a saíra-militar enfrentam dificuldades específicas. Pequenas e com dieta especializada baseada em frutos carnosos, elas dependem da presença de árvores que se tornaram cada vez mais escassas nas cidades.

Enquanto isso, aves de coloração neutra e mais adaptáveis, como pombos e pardais, prosperam. 'Elas conseguem explorar diferentes recursos, como grãos, insetos, restos de comida, ração e até o lixo urbano', explica Nascimento.

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Outro fator crítico é o tráfico ilegal de aves, que transforma a beleza desses animais em alvo de exploração e captura.

Selva de pedra: desafios da vida urbana

Para sobreviver, as aves coloridas precisam de abrigo em áreas densas de vegetação, mas nas cidades elas se tornam mais visíveis e vulneráveis à predação. Segundo o pesquisador Gabriel de Paula, da UFMG, enquanto pardais se camuflam facilmente no concreto, as aves chamativas ficam expostas.

O desenho urbano também pesa. Cidades pouco arborizadas e com baixa diversidade vegetal criam um ambiente hostil. 

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Além disso, fatores arquitetônicos modernos aumentam os riscos. Vidros espelhados em fachadas funcionam como armadilhas letais, pois as aves não reconhecem o vidro como barreira e colidem fatalmente contra as construções.

Calor e estresse: um inimigo invisível

As ilhas de calor urbanas intensificam o problema. Pesquisas recentes mostram que o aumento da temperatura está associado ao estresse oxidativo, que afeta diretamente a saúde das aves. 'Espécies coloridas já são naturalmente mais sensíveis e podem ser ainda mais vulneráveis ao estresse térmico', aponta Nascimento.

O que pode ser feito?

Especialistas defendem mudanças estruturais no planejamento urbano. Um levantamento do IBGE revela que 34% da população brasileira vive em ruas sem nenhuma árvore. O plantio de espécies nativas, capazes de oferecer frutos, néctar e abrigo, é considerado urgente.

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Para a arquiteta Adriana Sandre, da FAU-USP, a diversidade de vegetação deve ser pensada em múltiplas escalas. Já sua orientanda Maria Fernanda Del Giovannino reforça o papel de soluções simples: 'Bebedouros, caixas-ninho, telhados verdes e até uma única árvore podem ser fundamentais para a sobrevivência dessas aves'.

Arquitetura amiga dos pássaros

Iniciativas internacionais mostram que é possível conciliar urbanização e biodiversidade. Em Nova Iorque, uma lei de 2019 exige que novos prédios com mais de 23 metros usem vidros seguros para aves, com marcadores que reduzem os reflexos.

No Brasil, tramita na Assembleia Legislativa de São Paulo o Projeto de Lei nº 228/2025, que busca obrigar municípios a adotarem medidas contra colisões de aves em edificações.

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A luta para manter o canto e as cores das aves nas cidades brasileiras passa por uma transformação urgente: pensar metrópoles não apenas para humanos, mas também para as demais formas de vida que compartilham o espaço urbano.

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