Cotidiano

Papo de Domingo: Rodrigão mantém sonho de criar time de vôlei na região

Ex-jogador fala sobre a busca por patrocinadores para projeto, seleção brasileira e pôquer

Publicado em 06/03/2016 às 10:30

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Criação de time profissional esbarra na falta de patrocínio / Matheus Tagé/DL

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Foram 13 anos de seleção brasileira. No currículo, três medalhas olímpicas, oito vezes campeão da Liga e tricampeão do Campeonato Mundial. A vida do ex-meio de rede Rodrigo Santana, o Rodrigão, se mistura à seleção masculina vôlei.

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Aos 36 anos, ele deixou as quadras profissionalmente. Vôlei, hoje, só na praia. Mas, mesmo assim, a disputa é mais como forma de lazer do que competição.

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Atualmente, Rodrigão concentra forças em um sonho antigo. Montar um time de vôlei profissional na Baixada Santista, mas esbarra na falta de patrocínios.

Neste Papo de Domingo, o ex-jogador analisa a seleção brasileira, fala sobre a polêmica do Mundial de 2010, comenta sobre a relação com Bernardinho e como se dedica a um outro hobby, o pôquer. Confira:

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Diário do Litoral: Rodrigão, aos 36 anos, o adeus às quadras é definitivo?

Rodrigão: Sempre há a oportunidade de voltar, né. Inclusive, nesta semana, estive em São Paulo vendo o Campeonato Paulista de vôlei de praia. Me convidaram para participar da temporada. Devo jogar algumas etapas, mas nada profissional, de dedicação exclusiva ao esporte, como sempre fiz. A gente não consegue ficar longe das quadras, da bola. É muito bacana poder estar praticando o esporte, mas como lazer. A competição é só uma parte disso, não a vida profissional como era anteriormente.

DL: Então nas quadras, atuando por equipes, parou...

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Rodrigão: Sim. Já. Não tenho condições. Meus planos são outros. Estou fazendo muitos projetos aqui em Praia Grande para termos o esporte na cidade, ter equipes de competições. Protocolei vários projetos e estou esperando que dê resultados tanto em 2016 quanto para 2017.

DL: Ano passado você tinha iniciado um projeto com atletas de base...

Rodrigão: Eu tenho um contato com os jovens. A gente ajuda, faz uma orientação de carreira. Eu não parei com isso, até porque tenho um filho que está na mesma idade. Não é um trabalho em si, mas é um encaminhamento para esses atletas jovens chegarem em uma equipe adulta, para buscar resultados e se tornarem profissionais. Tenho alguns atletas na faixa de 17 e 18 anos, que ainda não são profissionais, onde eu tento ajudar eles da melhor forma possível.

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DL: Você tem um grande sonho que é montar um time profissional de vôlei na região. Como está essa busca?

Rodrigão: É muito difícil. A situação do Brasil é cada vez mais complicada. Para você arrumar patrocinadores quem comprem esse sonho e viver junto é muito difícil. Apesar da região ser riquíssima em conteúdo, tanto de ginásio quanto de cidades que apoiam o esporte. Mas para você ter um patrocinador para isso está caro. Os projetos que eu protocolei são todos incentivados para ver se conseguimos dar início a algo. É passo de formiga mesmo para, quem sabe um dia, encontremos um grande patrocinador para ter esse sonho realizado.

DL: Há alguma alternativa para que isso caminhe mais rápido?

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Rodrigão: É difícil. Hoje tem muita política envolvida e muitos patrocinadores não entram só com interesse em aparecer pela sua marca e fazer a propaganda. Às vezes tem alguns interesses políticos envolvidos nisso. Eu acho que, talvez, seja esse o caminho. Já estou até pensando em uma pré-candidatura em Praia Grande como vereador e tentar, através do meio político, realizar os sonhos esportivos da nossa região para que isso realmente aconteça. Já venho com essa ideia quando eu vim da Itália para cá, em 2009, e até hoje não consegui realizar. Estou procurando todos os meios para que isso seja possível. Acredito que quando isso acontecer será uma duradouro, vamos tratar com o maior carinho para que não acabe.

DL: Existe a possibilidade de trabalhar como técnico?

Rodrigão: Existe. Eu aprendi muito com o Bernardo. Tive uma convivência muito boa e aprendi muito. Apesar da fama dele ser durão, muito briguento e vibrador, ele é um cara muito aberto a ouvir opinião. A gente trocava muita ideia, tanto na parte técnica quanto a jogos, qual o melhor caminho a seguir e como a gente faz para atingir o melhor modo de toda a equipe. Aprendi muito com ele e tenho essa vontade. Mas, hoje, para você ser treinador é necessário o Cref e, para isso é preciso ter a faculdade de Educação Física e eu ainda não comecei. Tenho a possibilidade, talvez, de ter o Cref provisionado, só podendo atuar em vôlei. Acho que o Giovane e o Anderson, que jogaram comigo, conseguiram o provisionado. Eu estou buscando para quem sabe um dia estar pronto. Não sei se serei treinador, mas a documentação tem que estar pronta para, se um dia eu receber o convite, estar pronto.

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DL: Como você enxerga o momento atual da seleção brasileira masculina?

Rodrigão: A seleção sofreu uma renovação muito grande. Apesar dos resultados, às vezes no detalhe, um pouco mais de coragem e paciência, a seleção se perdeu. A volta do Sérgio, do nosso líbero, foi exatamente por isso. Não só pela pessoa extraordinária e excelente jogador que é, mas acho que ele serve para dar essa coragem, essa paciência nos momentos decisivos. Hoje é a peça-chave desse time para que mude de um vice-campeonato para uma medalha de ouro esse ano.

DL: No ano passado a seleção tropeçou. Qual a sua expectativa para a Olimpíada?

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Rodrigão: Vão ser Jogos difíceis. Até por ser no Brasil é mais complicado porque a concentração tem que ser muito maior.  Tem vários fatores extra quadra que podem complicar. Para blindar esses jogadores, e não falo só no vôlei, vai ser muito difícil. Principalmente aqueles que são favoritos ao título. Esse assédio pode atrapalhar muito porque você não está com foco no que tem que fazer. Se você disputa uma Olimpíada em Pequim, em Londres, você só tem o foco em treinar, jogar e fazer o máximo para trazer a medalha. No Brasil, muita coisa extra atrapalha. Espero que a imprensa tenha a consciência de ajudar a esses atletas porque a gente vai precisar de todo mundo.

DL: Você falou da influência do Bernardinho. Qual análise você faz dele e você acredita que o técnico pode estar chegando ao fim do ciclo na seleção?

Rodrigão: É difícil falar se ele se mantém ou não. Tudo depende de resultados, e até da vontade dele de querer estar ali 100%. O desgaste dele é enorme. Ele tem família, criança pequena e estar sempre se dedicando ao clube e a seleção brasileira, viajando constantemente, não é fácil. Não sei se ele aguenta mais um ciclo. Mas ele é fantástico. Totalmente voltado a vencer, muito detalhista. Como treinador, além da parte tática ser muito boa, a parte técnica, de treino, ele consegue fazer todo quererem treinar. O clima era tão bom que a nossa preparação era muito melhor do que muitos jogos. Ele lida com o grupo de uma forma que ele tem todos na mão e motivados. Ele colocou Maurício, Giba, Nalbert no banco, e eles sempre ali motivados seja para fazer um saque, um bloqueio. Sempre dispostos a ajudar. Às vezes você tira uma estrela do time, o atleta fica emburrado, quando entra não faz o 100%. Essa parte de ego e de vaidade não existia na seleção e isso vem por causa da gestão do grupo do Bernardo.

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DL: No ano passado, o Giba revelou que o Brasil entregou a partida contra a Bulgária, no Mundial de 2010, para fugir do grupo de Cuba e Espanha e ter um caminho mais fácil para a final. O que aconteceu naquele 2 de outubro de 2010?

Rodrigão: Não foi nem a questão de entregar ou não. A gente estava num campeonato com dois levantadores, sendo que um estava machucado o tempo todo, em um jogo que não valia nada. Não tinha porque entrar com a equipe máxima. A gente poupou o Bruno, que era o único levantador que a gente tinha, e o resultado foi o que aconteceu. O problema maior nisso tudo é existir uma tabela onde você tem jogos desse tipo. É ruim para o público, para jogadores, para a televisão. Os organizadores fizeram esse jogo que não valia nada e quem fosse pior era o melhor beneficiado. É um absurdo isso. Eles fizeram uma tabela para beneficiar a Itália e colocar ela na semifinal. Todos viram isso. Nós sabíamos que se não déssemos 100% naquele jogo, a chance de nós estarmos numa final era muito grande. Sabíamos que se tivesse uma semifinal contra a Itália, a gente não perdia. Nós, jogadores, sabíamos o caminho, não o mais fácil, mas quais adversários a gente tinha vantagem física e técnica. Do outro lado não. A gente podia ganhar de Cuba, Rússia e Sérvia, mas a chance era menor. Eu acho que você tem que ser humilde suficiente para saber quais adversários tem uma vantagem sobre você e achar o melhor caminho para vencer.

DL: Qual momento mais alegre que você teve na seleção?

Rodrigão: A conquista da medalha de ouro foi um sonho realizado. Jamais imaginei disputar uma final olímpica, vencer em Atenas, onde começou tudo. Tem muita particularidade nisso. Você olha pra trás, vê como você começou e o final disso tudo. A parte melhor é você olhar para trás e ver tudo que você fez. Todos os anos que você passou, as brigas, as dificuldades, estar longe da família. Eu olho para trás, vejo esse tempo que fiquei lá e vivi da melhor maneira possível. Não tenho nada para me arrepender e não queria que acabasse nunca. Ver a despedida do Emanuel me comove demais porque eu vivi aquilo ali. As pessoas brincam que o atleta morre duas vezes. A primeira vez é quando para de competir, de jogar. É muito triste.

DL: E o mais dolorido?

Rodrigão: Tive uma lesão no joelho em fevereiro de 2008. Estava na Itália e voltei correndo para o Brasil. Operei em março. Todos falavam que era, no mínimo, seis meses para voltar. Uma lesão no ligamento cruzado. Foi o ano que eu mais sofri e me dediquei. Acordava às 8 horas para fazer fisioterapia, quatro vezes por dia. Me recuperei em Praia Grande por um mês. Voltei para o CT em Saquarema, em dois meses e meio eu estava treinando e em quatro meses estava competindo. Eu consegui voltar um mês antes da Olimpíada. Foi um trabalho exaustivo demais. Tinha muita dor envolvida, muito medo de romper novamente porque não estava totalmente cicatrizado. Uma adrenalina a cada movimento do joelho para não quebrar, senão eu não ia mais para a Olimpíada.

DL: Tem alguma história engraçada da seleção?

Rodrigão: Teve uma entrevista do André Nascimento, em Atenas. Estava falando o inglês dele, todo enrolado. Só que tinha um delay o jogo. Quando chegamos no hotel estava terminando a partida e ele apareceu dando a entrevista, teoricamente, ao vivo. A gente assistindo na hora da janta e todos rolando de rir porque era um absurdo atrás de absurdo (risos). A gente entendeu porque somos brasileiros, mas não sei o que eles entenderam do inglês dele. Doía a barrida de tanto rir. Ele já não falava muito e pegaram ele para dar entrevista em inglês. Foi algo hilário (risos).

DL: Ele voltou a dar entrevista depois?

Rodrigão: Em inglês, eu nunca mais vi. Acho que essa foi a primeira e a última (risos).

DL: E o pôquer?

Rodrigão: Continuo jogando, participando de campeonatos brasileiros. Tenho estudado constantemente. É um esporte que eu gosto de praticar. Não tenho tanto tempo quanto gostaria, mas sou convidado para alguns eventos. Já fui em evento beneficente do Neymar, teve um outro evento no Mineirão com atletas e ex-atletas. São momentos que a gente consegue brincar, lembrar das histórias, conviver com outros esportes, ouvir as histórias deles. Aprendo muito no pôquer tanto na parte técnica do jogo quanto com a vivência de outras pessoas, a troca de informação. Isso é muito rico e eu gosto de participar cada dia mais. Não gosto de torneios com inscrições altas porque não é esse meu objetivo. Não é ganhar dinheiro, viver disso. Prefiro torneios beneficentes. Coisas para ajudar o próximo. É a troca de experiências e jogar pôquer que me fazem feliz.

DL: Que lições do pôquer você leva para o dia a dia?

Rodrigão: O pôquer é tomada de decisão. Na vida existe muito. Qual o melhor caminho, melhor jeito, o que posso fazer. Até mesmo ver o que os adversários podem fazer. Você tem que pensar muito. Fiz um curso em São Paulo com o Felipe Mojave, que é o mesmo instrutor do Neymar. O Mojave fala que o principal é você ter que parar para pensar o tempo todo. Não tomar decisões sem pensar porque depois você vai se arrepender. Tentar seguir o melhor caminho possível. Às vezes, quando eu erro no pôquer, eu fico chateado porque, na empolgação, eu apostei as fichas e se eu tivesse pensado mais, talvez eu saberia qual a intenção da adversário. Eu me chateio não é porque perdi, mas porque eu joguei errado. Isso é complicado. Você saber que fez errado.

 

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