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Cotidiano

Papo de Domingo: ‘O leite materno é padrão ouro na alimentação’

Com a Semana Mundial de Amamentação, mês de agosto é símbolo da luta pelo incentivo ao aleitamento materno

Rafaella Martinez

Publicado em 31/07/2016 às 10:30

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"A amamentação é o ato mais natural que existe. Muito se fala em sustentabilidade e trazer o mundo de volta ao que é natural e isso tem tudo a ver com o aleitamento materno", diz Adriana Vireira / Rodrigo Montaldi/DL

O leite materno é o melhor alimento que um bebê pode receber nos seus primeiros anos de vida, sendo indicado até dois anos ou mais. A amamentação melhora significativamente a saúde, o desenvolvimento e a sobrevivência dos bebês, além de contribuir para melhora, a curto ou a longo prazo, da saúde e do bem estar das mulheres que amamentam.

Desde 1992, entre os dias 1 e 7 de agosto, ações em todo o mundo são voltadas para a Semana Mundial de Amamentação. A data foi criada em 1992 pela Aliança Mundial de Ação pró-amamentação (World Alliance for Breastfeeding Action - WABA) com a finalidade de promover o aleitamento materno e a criação de bancos de leite, garantindo, assim, melhor qualidade de vida para crianças em todo o mundo.

Na edição de 2016, o tema da Semana Mundial de Amamentação é ‘Presente saudável, futuro sustentável’, traçando um paralelo entre a importância do aleitamento materno e o desenvolvimento sustentável.

A ação irá se concentrar nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que os governos ao redor do mundo se comprometeram a alcançar até 2030. Os ODS foram criados a partir dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e cobrem uma gama de questões sobre ecologia, economia e equidade. A proposta é evidenciar que é possível alcançar o desenvolvimento sustentável através da promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno.

Para falar sobre o assunto o Diário do Litoral conversou com a enfermeira especialista em amamentação Sandra Abreu e com a doula e educadora perinatal Adriana Vieira. Elas falaram sobre a importância do aleitamento materno, os mitos da amamentação e a necessidade da preparação da mulher e da família para a chegada do bebê.

Diário do Litoral – O tema da Semana Mundial da Amamentação deste ano está diretamente relacionado a questão da sustentabilidade, algo muito presente na atualidade. Como a amamentação contribui para isso e por qual motivo o mês é conhecido como ‘Agosto Dourado’?

Adriana Vieira – A amamentação é o ato mais natural que existe. Muito se fala em sustentabilidade e trazer o mundo de volta ao que é natural e isso tem tudo a ver com o aleitamento materno. Muitos países desenvolvidos ainda enxergam com preconceito a questão da amamentação.

Sandra Abreu – O aleitamento materno é fonte de sustentabilidade. Não precisa de máquinas ou materiais para acondicionar. O ‘produto’ vem direto do produtor para o consumidor. O Agosto Dourado recebe esse nome pois o leite materno é considerado o padrão ouro em alimentação infantil.

Diário - E uma das ações da Semana Mundial da Amamentação é a ‘Hora do mamaço’, que acontece no próximo dia 6, em Santos. Qual o principal objetivo da iniciativa?

Adriana – O mamaço é um evento para incentivar a amamentação durante a semana do aleitamento. Ele foi criado em 2012, sendo que a partir de 2013 as reuniões passaram a acontecer em praça pública. Santos abraça a causa desde 2013 e essa será a quarta edição do evento.

Sandra – O mamaço surgiu porque uma mulher foi repreendida por amamentar em um lugar público. Em solidariedade a essa mulher foi criada a manifestação, para incentivar a mulher a amamentar em público. É muito legal a evolução, pois hoje toda a equipe de apoio a mulher que amamenta participa do evento.

Diário – É importante destacar que a amamentação envolve uma série de outros fatores, como a humanização no parto, o acompanhamento gestacional e os cuidados com o recém-nascido, certo?

Adriana – Sim. Como doula, por exemplo, posso dizer que a necessidade de trazer de volta o parto é um dos pilares fundamentais para a boa amamentação. É visível o quanto um bom parto reflete em uma boa amamentação. O problema é que hoje em dia muitas mulheres não se acham mais capazes de gerar, parir e amamentar seus filhos. Isso se reflete em um parto agendado e um desmame precoce, que vai influenciar diretamente na qualidade de vida dessas crianças.

Sandra – É preciso saber que o bebê tem um tempo certo para nascer. Um tempo onde ele já estará preparado para a sucção e isso deve ser respeitado. A cesária eletiva e agendada prejudica a criança.

Diário – A campanha ‘Toda gestação dura 1000 dias’, da Pastoral da Criança, destaca a importância dos cuidados nos primeiros dias de vida. A amamentação tem papel importante nesse contexto?

Adriana – Exatamente. Há um termo chamado exterogestação, conhecido também como ‘gestação externa’ que é um momento fundamental para a formação física, emocional e psicológica da criança. A gestação e o contato íntimo da mãe e do bebê deve durar 9 meses no útero e de 3 a 9 meses fora dele. Durante esse período o bebê carece de contato direto com a mãe. O presidente da Associação Brasileira de Pediatria preconiza que o bebê deve ser amamentado por até um ano. No entanto, a legislação do país é discrepante, pois permite uma licença de 4 a 6 meses. Precisamos cuidar do bebê como um ser que ainda está sendo gerado fora do útero e que precisa ter por perto calor humano.

Sandra – O problema, além da legislação deficiente, é que muitas vezes a mulher não se acha preparada. O bebê chega e não enxerga a mãe como uma outra pessoa. Ele se vê como um único ser até o 3º mês, pelo menos.

Diário – E tudo isso é diretamente relacionado com a importância do ato de amamentar.

Sandra – Sim. A amamentação é uma doação física. A mulher passa por inúmeras alterações, pois acontece uma queda significativa de hormônios. A adaptação é difícil para todos os envolvidos. A diferença é que o pai e a mãe sabem o que está acontecendo. O bebê não.

Adriana – É por esse motivo que o tema ‘amamentação’ deve ser discutido antes do parto. Para que as mães quebrem alguns mitos e saibam que algumas situações não são erros.

Diário – Vocês falaram muito sobre a falta de preparo emocional, o que influencia diretamente na amamentação. Com a experiência de vocês, é possível dizer que o índice de desmame aumentou nos últimos anos?

Sandra – Felizmente diminuiu, pois a informação está mais acessível e campanhas como a própria ‘Hora do Mamaço’ estão fazendo a diferença para que os índices melhorem significativamente. Mas também é importante destacar que diminuiu pois chegamos ao caos. Os índices de mortalidade infantil por conta de desnutrição nos primeiros meses de vida são alarmantes. Os leites artificiais, por mais modernos, não conseguem se igualar ao materno.

Adriana – Devemos muito sobre a conscientização à internet e até ao poder de divulgação das redes sociais. No entanto, há pontos positivos e negativos nessa nova realidade. É preciso ter cuidado para definir qual a informação correta. Muitos conselhos de avó, por exemplo, devem ser vistos com cautela. Aquela dica de que o bebe deve mamar 15 minutos em cada mama para ‘desinchar’, por exemplo, é falha, pois isso faz com que o bebe tome apenas o primeiro leite e não chegue na gordura. É disso que se originam outros mitos, como por exemplo o de que o leite é fraco.

Diário - Quais são as propriedades do leite materno?

Sandra – O nível de qualidade do leite materno é tão bom, que ele é conhecido como a primeira vacina do bebê. Ele possui mais de 250 substâncias vivas e anticorpos, que se adequam à necessidade do bebê naquele momento. Além disso, ele traz benefícios também para a mãe. Pesquisas comprovam que a cada ano que a mulher amamenta ela reduz em 7% a probabilidade de desenvolver câncer de mama.

Diário - A cidade de Santos é a primeira na região a sancionar uma lei que garante o direito à mãe de amamentar sem constrangimentos. Qual a importância da legislação?

Sandra – Começamos os preparativos para a lei em agosto de 2015 e em abril ela foi sancionada. Felizmente foi um processo rápido, mas ainda é triste saber que precisamos do respaldo de uma legislação específica e que prevê multas, para que um ato tão simples possa acontecer sem constrangimentos velados.

Adriana – O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que toda criança tem direito a amamentação.

Diário – O ato de amamentar também é cercado de mitos. Vocês podem falar alguns deles e suas contradições?

Sandra – São vários. Um muito frequente é que dependendo do tipo do bico do seio a mulher não consegue amamentar. Sempre é possível, basta que a auréola esteja macia. É possível fazer isso massageando e fazendo a ordenha. Há também o mito de que amamentar sempre dói. Na realidade, não precisa doer.

Diário – E quais são algumas dicas para uma amamentação saudável?

Adriana – Hoje preconizamos a livre demanda, mas nos primeiros dias de vida é indicado que as mães ofereçam o peito de três em três horas, pois a criança precisa se habituar às novas condições de vida, uma vez que na barriga ele não tinha a necessidade de pedir o peito toda hora. Depois dos primeiros dez dias a mãe deve avaliar se o bebê está bem e dar uma relaxada, mas não deve passar de quatro horas.

Agenda – Semana Mundial de Amamentação

01/08 às 20h - Roda das mães e pais da Baixada
Local: Namaskar Yoga, à Avenida Siqueira Campos, 429, sala 11
Para participar basta entrar em contato via e-mail: [email protected]

06/08 às 9h – Curso especial Amamentação
Local: Colégio do Carmo – R. Dr. Egídio Martins, 181 – Ponta da Praia, Santos
Valor :  R$ 30,00 (casal) ou R$ 15,00 (individual) até dia 05/08

06/08 às 15h – Hora do Mamaço
Local: Praça Luiz La Scala, atrás do Aquário Municipal de Santos.

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