A Conferência da ONU sobre o Oceano, que acontece em junho na França, deve impulsionar ainda mais o tema, segundo Turra / Pexels
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Com a COP 30 se aproximando, os oceanos devem ocupar posição de destaque nas discussões climáticas. É o que defende Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da USP e titular da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade dos Oceanos. As informações são do Jornal da USP.
Para ele, é urgente incluir o tema no centro das negociações internacionais. “Não faz sentido discutir a questão climática deixando os oceanos de lado. Eles são o grande regulador do clima no planeta”, afirmou Turra.
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Segundo o professor, os impactos das mudanças climáticas na sociedade e na economia passam, necessariamente, pela mediação dos mares, que oferecem também oportunidades para geração de energia renovável a partir de marés, ondas e gradientes de temperatura e salinidade.
A inclusão dos oceanos nas discussões climáticas começou na COP 26, mas Turra ressalta que ainda há muito a avançar. “O Brasil fez a primeira carta para a COP 30 há um mês e meio, e nela não existia menção ao oceano.
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Houve uma grande mobilização das instituições que participaram do Oceans 20 e isso surtiu efeito”, relatou. Após a pressão da sociedade civil, uma segunda carta foi publicada, incluindo menções ao tema. “Ainda não é o que a gente queria, mas já vemos uma porta para aprofundar a temática.”
O professor revelou ainda a articulação de esforços para criar um pavilhão dedicado aos oceanos durante a COP 30. “A ideia é reunir governo federal, governo do Pará, organizações internacionais e sociedade civil para dialogar sobre o futuro dos oceanos”, explicou.
Turra destacou que as mudanças climáticas estão acelerando a perda de biodiversidade marinha. “Estamos vendo branqueamento dos corais cada vez mais intenso, acidificação da água do mar e eventos extremos com magnitude e frequência maiores”, afirmou.
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Esses efeitos, combinados a pressões locais como poluição e degradação de habitats, criam “uma condição de pressão absoluta sobre a biodiversidade”.
Para enfrentar esse cenário, o professor apontou como essencial o cumprimento das metas estabelecidas pela Convenção da Diversidade Biológica, que prevê a proteção de pelo menos 30% das áreas marinhas até 2030. Também defendeu ações diretas contra fontes de poluição, como esgoto, lixo e vazamento de óleo.
Outro ponto de alerta, segundo Turra, é o risco de ultrapassar limites irreversíveis, como o colapso dos recifes de coral com o aumento de 1,5ºC a 2ºC na temperatura global média.
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Para evitar esse cenário, o professor defende a combinação de mitigação – com redução de emissões e soluções baseadas na natureza, como reflorestamento de manguezais e cultivo de algas – e adaptação de cidades e agricultura para enfrentar a nova realidade climática.
A Conferência da ONU sobre o Oceano, que acontece em junho na França, deve impulsionar ainda mais o tema, segundo Turra. Ele vê o evento como um marco no processo de dar maior centralidade ao oceano na agenda ambiental global.
O professor também destacou a assinatura do documento bilateral Brasil-França como passo estratégico e revelou que o Brasil está pleiteando sediar a Conferência da Década do Oceano em 2027, além de cogitar a candidatura para receber a próxima Conferência da ONU sobre os Oceanos.
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“Por que não dizer que podemos levar para Nice uma proposta de sediar a próxima conferência aqui no Brasil?”, provocou. Para Turra, a ciência terá papel essencial nesse caminho. “Sem ciência, não vamos resolver a crise climática. Ela precisa estar no centro de qualquer estratégia.”