Cotidiano
O olhar clínico é fundamental nesta hora e deve se concentrar menos no rótulo e mais na história que aquele comportamento pode vir a revelar
Motivos de adoção variam de pessoa para pessoa e não podem ser generalizados / Imagem gerada por ImageFX
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Nas últimas semanas, a moda de 'adotar' um bebê reborn, bonecos hiper-realistas semelhantes a uma criança recém-nascida, ganhou força no Brasil e nas redes sociais o assunto virou tendência. Por mais que possa parecer um hobby, eles acabaram gerando alguns episódios inusitados como levá-los ao pediatra ou à escola.
Segundo a psicóloga Melissa Tenório dos Santos Campinas, os motivos de adoção variam de pessoa para pessoa e não podem ser generalizados. "Em muitos casos, o bebê reborn funciona como um objeto simbólico de afeto, conforto ou elaboração emocional", comentou.
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O interesse cada vez mais recorrente em ter um bebê reborn pode estar relacionado a situações mais delicadas, e as motivações podem ser terapêuticas, simbólicas, afetivas ou até mesmo por estética.
"Algumas pessoas se interessam por eles devido a processos de luto não elaborados, transtornos afetivos, solidão, dificuldades em ter filhos, ou mesmo como forma de preencher ausências emocionais".
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De acordo com Melissa, ele ainda pode funcionar como um objeto transicional, conceito proposto por Winnicott. "Ele auxilia o sujeito a lidar com a dor, o vazio ou a ausência, sem que isso represente necessariamente um adoecimento psíquico".
Por mais que algumas situações tenham se tornado polêmicas aos olhos da sociedade, de acordo com Melissa não existe um único quadro psicológico associado aos bebês reborn. "Esse interesse por si só não é um indicativo de patologia".
Entretanto, existem algumas situações mais graves por conta de se tratar de um boneco hiper-realista. "Pode haver vínculos com transtornos psicóticos ou delírios, especialmente quando o sujeito acredita que o boneco é um bebê real e estrutura toda sua vida em torno disso".
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A psicóloga deixa claro que o olhar clínico é fundamental nesta hora, e ele deve se concentrar menos no rótulo e mais na história e do sofrimento que aquele comportamento pode vir a revelar.
Com o cenário de lockdown, causado pela COVID-19, em 2020, muitas pessoas passaram a desenvolver sentimentos de solidão, medo, luto e instabilidade emocional.
Segundo Melissa, a pandemia pode ter sido um "fator catalisador" para a proximidade de algumas pessoas que se aproximam dessa prática.
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"Diversas pessoas passaram a buscar formas alternativas de conexão emocional, apoio simbólico ou até mesmo substitutos temporários para vínculos perdidos. Neste cenário, o bebê reborn pode ter emergido como uma resposta subjetiva a essa falta: uma tentativa simbólica de manter vínculos, cuidar e ser cuidado, em um momento marcado por distanciamento social e inseguranças emocionais".
Veja um vídeo com Melissa explicando mais sobre a situação:
Na região do litoral de São Paulo, os bebês reborn são fabricados por alguns profissionais. Entre eles a artista plástica Andretzza Reis, de 45 anos, em Itanhaém.
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Ela tem o dom de transformar um molde simples com rosto, braços e pernas em bebês “reborn” (renascido), quase reais para os seus clientes.
O Diário do Litoral fez uma matéria sobre o assunto.
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