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Se o cidadão de classe média baixa paga com a vida pela falta segurança em Guarujá, os endinheirados que moram no Jardim Acapulco — um dos condomínios mais sofisticados do balneário — pagam com milhares de reais pela sensação de segurança.
Segundo relatório de despesas da administradora que gerencia o complexo, adquirido pela Reportagem, até o mês de maio, o custo da segurança e serviço de apoio oferecido aos proprietários, intitulado Operação Verão, foi de R$ 221 mil (R$ 44,2 mil mensais).
Vale a pena lembrar que a Operação Verão, mantida pelo Jardim Acapulco, não tem nada a ver com a do Governo do Estado. Trata-se de um sistema montado pela segurança do condomínio que atua no trecho da Rodovia Cônego Domenico Rangoni, próximo ao bairro de Morrinhos, responsável pela escolta dos milionários até o bairro da Enseada pelo Túnel Juscelino Kubitschek, popularmente conhecido como Túnel da Vila Zilda — local em que ocorrem centenas de assaltos a motoristas.
Conforme folheto distribuído aos proprietários de imóveis do Acapulco, as equipes de apoio têm a missão de orientar os moradores das condições de tráfego do local, de segurança e prestar auxílio aos familiares 24 horas. “Não hesite! Quando estiver chegando ao Guarujá, ligue para nós. Estamos à disposição para atendê-lo sempre”, informa o folheto.
Vale lembrar que em maio de 2011, Paulo Ronaldo da Silva Gomes, de 21 anos, teve a sua foto tirada após tentar assaltar um turista, logo na saída do túnel da Vila Zilda.
O turista dirigia um Hyundai Santa Fé e retornava para a Capital com outras pessoas quando um rapaz se posicionou na frente do veículo com uma arma de fogo apontada para a sua direção. Apesar do risco de iminente disparo, ele não parou e acelerou o carro.
Em seguida, confiante na blindagem do automóvel, ele retornou para testar a ousadia do rapaz. Novamente, ao perceber a aproximação do veículo, Paulo apontou a arma na tentativa de forçar a parada da vítima, que desta vez o fotografou, antes de prosseguir seu trajeto e evitar, pela segunda vez, a consumação do assalto.
Invasão do condomínio
Porém, nem mesmo todo esse cuidado não é suficiente para minimizar a violência em Guarujá. No último dia 29, no próprio Jardim Acapulco, uma quadrilha fortemente armada — com fuzis e pistolas — invadiu e assaltou uma residência.
Após passarem pela guarita do condomínio, os criminosos foram até uma das maiores residências, localizada na parte central do Acapulco, pertencente a um empresário de São Paulo.
No imóvel, a quadrilha rendeu funcionários e recolheu diversos pertences, entre joias e aparelhos eletrônicos. Logo após subtrair os objetos, o bando fugiu levando reféns, que foram abandonados durante o trajeto de fuga.
Câmeras de monitoramento do condomínio devem auxiliar no processo de identificação dos criminosos. As investigações são realizadas pela Delegacia Sede de Guarujá. Na última sexta-feira, a casa em frente a do empresário também foi invadida. Os bandidos agiram da mesma forma.
Prefeitura já se manifestou
A Prefeitura de Guarujá, por intermédio de sua assessoria de imprensa, entende que a atitude do Jardim Acapulco não contribui para os esforços que estão sendo feitos pela Polícia Militar e pela Secretaria Municipal de Defesa Social, no que diz respeito a melhoria das condições de segurança da Cidade. As ações da Administração, em conjunto com o Estado, visam garantir segurança a todos os munícipes e turistas e não só a um grupo específico.
A prefeita Maria Antonieta de Brito (PMDB) havia garantido que vinha mantendo contato com o Governo do Estado solicitando aumento do número de escrivães, investigadores e de policiais militares; a reforma das unidades da Delegacia Sede, dos 1º e 2º distritos de Vicente de Carvalho, da unidade da cavalaria e dos equipamentos da Polícia Militar e a abertura de plantão 24 horas no distrito; aquisição de equipamentos, viaturas e móveis para as polícias Civil e Militar; e implantação de mais uma companhia em Vicente de Carvalho, na região do Morrinhos, contemplando ainda os bairros Vila Zilda, Vila Edna, Vila Selma, Cachoeira e morros.
Nem transporte público escapa
Recentemente, o DL publicou que além do estresse do trânsito, motoristas de ônibus vivem sob o cano do revólver, em Guarujá. A cada 24 horas, dois são assaltados na Cidade.
Somente nos primeiros três meses do ano, foram 200. Os bairros mais atingidos são Morrinhos e Vila Áurea. Os delitos são cometidos entre 21h e 23h e também ocorrem na Av. Santos Dumont — principal acesso à Vicente de Carvalho.
As informações foram dadas pelo secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Santos e Região (Sindrod), Eronaldo José de Oliveira, o Ferrugem. Ele alertava que a situação era crítica e que o Município é o mais problemático da Região com relação a esse tipo de violência contra o trabalhador.
“A categoria está entrando em desespero. A maioria dos motoristas tem receio das últimas viagens”, revelou em março passado.
Segundo Ferrugem, a empresa Translitoral — responsável pelo serviço — também é vítima e até instalou sistema de câmeras, registrou boletim de ocorrência dos assaltos e ofereceu assistência médica e psicológica aos motoristas.
Ele alertou que as ações têm a mesma dinâmica. Os marginais sobem nos ônibus armados de revólveres e facas, abordam os motoristas, anunciam o assalto e levam o dinheiro. Depois descem, sobem no carro seguinte e repetem a operação.
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