A embarcação foi encontrada na costa búlgara do Mar Negro; idade foi determinada por meio da técnica do carbono 14 / Divulgação/Black Sea MAP
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Imagine mergulhar em um local onde o tempo parou por dois milênios. Foi exatamente isso que uma equipe de arqueólogos marítimos do projeto Black Sea MAP encontrou ao explorar as profundezas do Mar Negro.
Repousando na escuridão total, a mais de 2.000 metros de profundidade, está um navio mercante grego de 23 metros que parece ter acabado de afundar.
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Diferente da maioria dos naufrágios, onde a madeira é devorada por organismos marinhos em poucas décadas, este navio permaneceu inteiro. O segredo? A química única do Mar Negro.
Abaixo de certa profundidade, a água é anóxica (totalmente sem oxigênio). Sem oxigênio, as bactérias e criaturas que normalmente destroem a madeira não conseguem sobreviver. Isso transformou o fundo do mar em uma "cápsula do tempo" biológica, preservando o navio exatamente como ele era no século IV a.C.
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Antes desta descoberta, esse tipo de embarcação só era conhecido através de desenhos em cerâmicas antigas, como o famoso "Vaso de Ulisses", exposto no Museu Britânico. Os arqueólogos ficaram chocados ao notar que o design real é idêntico às ilustrações históricas, confirmando a precisão dos artistas da Antiguidade.
Embora a estrutura esteja intacta, os pesquisadores optaram por não trazer o navio à superfície para evitar que o contato com o oxigênio o desintegre. Uma pequena amostra foi coletada para a datação por carbono-14, que confirmou a idade de 2.400 anos.
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A carga ainda é um mistério, mas navios similares da época costumavam transportar vinho, azeite e grãos entre as colônias gregas.
"Um navio que sobrevive intacto desde o mundo clássico é algo que eu nunca teria acreditado ser possível", afirmou o professor Jon Adams, líder da expedição. "Isso vai mudar nossa compreensão sobre a construção naval e a navegação no mundo antigo".
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A "necrópole de navios" no Mar Negro é considerada um dos maiores arquivos de arqueologia marítima do mundo. Confira abaixo as tecnologias revolucionárias que permitiram "enxergar" no escuro total a 2 km de profundidade e outros tesouros encontrados pela mesma expedição.
Para encontrar e documentar o navio grego de 2.400 anos, os cientistas do projeto Black Sea MAP não usaram mergulhadores (que não suportariam a pressão), mas sim dois ROVs (Veículos Operados Remotamente) equipados com tecnologia de ponta:
Fotogrametria 3D: Esta é a "mágica" por trás das imagens nítidas que vemos. Os robôs capturam milhares de fotografias de alta resolução de todos os ângulos. Depois, um software processa essas fotos para criar um modelo digital em 3D ultra-detalhado. É como se pudéssemos "escanear" o navio sem tocá-lo.
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Sonar de Varredura Lateral: Utilizado para mapear o leito marinho e localizar formas anómalas (como cascos de navios) em grandes áreas.
Câmeras de Baixa Luminosidade: O Mar Negro é completamente escuro nessas profundezas. As câmeras utilizadas são capazes de captar detalhes com o mínimo de iluminação artificial, revelando texturas da madeira que parecem ter sido esculpidas ontem.
O navio grego foi a descoberta mais famosa, mas a expedição encontrou mais de 60 naufrágios que contam a história do comércio mundial:
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Frotas do Império Romano: Foram encontrados navios mercantes romanos com carregamentos de ânforas (vasos de barro) que ainda podem conter vestígios de vinho ou azeite de 2.000 anos atrás.
Navios Bizantinos: Embarcações da época em que Constantinopla era o centro do mundo, revelando como as rotas comerciais ligavam a Europa à Ásia através da Rota da Seda.
A "Flor do Mar Negro": Um navio otomano (séculos XVII-XIX) incrivelmente ornamentado, apelidado assim por causa das esculturas decorativas em sua madeira, que incluíam pétalas de flores esculpidas nos postes do convés.
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Navios de Guerra Cossacos: Pequenas e rápidas embarcações do século XVII usadas em incursões militares, mostrando a evolução da engenharia para fins bélicos.
Em quase todo o mundo, os navios antigos desaparecem porque a madeira apodrece ou é consumida pelo "teredo" (o cupim-do-mar). No Mar Negro, a ausência de oxigênio cria um ambiente estéril onde nada sobrevive para destruir a história. É o único lugar da Terra onde podemos ver um leme de madeira de 400 a.C. ainda preso ao seu suporte original.