Cotidiano

O mineiro que desbancou o Pão de Açúcar e criou um império bilionário de supermercados

Com foco na periferia e operação enxuta, Pedro Lourenço transformou uma mercearia em um grupo de R$ 21,2 bilhões

Ana Clara Durazzo

Publicado em 30/12/2025 às 10:30

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Em 2024, o Supermercados BH faturou R$ 21,2 bilhões, com 338 lojas em operação e mais de 39 mil funcionários / Divulgação

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Quase três décadas depois, o empreendedor mineiro — conhecido no setor como 'Pedrinho' — está à frente do Supermercados BH, hoje a maior rede de Minas Gerais e a quarta maior do Brasil, superando inclusive o tradicional Grupo Pão de Açúcar (GPA).

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Crescimento que desafiou o mercado

Em 2024, o Supermercados BH faturou R$ 21,2 bilhões, com 338 lojas em operação e mais de 39 mil funcionários. Foi a primeira vez que a rede ultrapassou o GPA no ranking nacional, segundo levantamento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

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O avanço é resultado de uma estratégia pouco glamourosa, mas altamente eficaz: expansão gradual, foco em produtos populares, operação de baixo custo e aquisições oportunistas. Enquanto concorrentes apostavam em grandes centros e formatos sofisticados, o BH crescia 'pelas beiradas'.

'Meus amigos diziam que não ia dar certo vender na periferia, e minha esposa queria que eu desistisse. Mas eu não ligo para o que os outros pensam', afirmou Lourenço em entrevista à revista EXAME, em 2017.

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A lógica de crescer pelas bordas

Desde o início, a rede concentrou esforços em regiões com menor concorrência. Bairros afastados, pequenas cidades e consumidores sensíveis a preço formaram a base do negócio. A aposta era clara: marcas acessíveis, alto giro de produtos e negociação agressiva com fornecedores.

Em 2004, Lourenço vendeu 40% da empresa para dois sócios, usando o capital para acelerar a expansão. O modelo se manteve: comprar mercados menores, incorporar à estrutura existente e crescer sem depender de grandes fundos ou investimentos em tecnologia de ponta.

Essa lógica permitiu ao BH ganhar escala rapidamente, manter margens sob controle e se tornar uma força dominante no varejo mineiro.

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A compra do Bretas muda o jogo

O movimento mais ousado da história da rede veio em fevereiro de 2025, quando o Supermercados BH assinou acordo para comprar as operações do Bretas em Minas Gerais, então controladas pela chilena Cencosud.

Avaliado em R$ 716 milhões, o negócio inclui 54 lojas, oito postos de combustíveis e um centro de distribuição. Sozinha, a operação mineira do Bretas havia faturado R$ 1,5 bilhão nos 12 meses encerrados no terceiro trimestre de 2024.

Além de ampliar presença em praças estratégicas, a aquisição elimina um concorrente direto e fortalece o poder de negociação do BH com fornecedores. A expansão da malha logística também promete ganhos operacionais em um setor marcado por guerra de preços e margens cada vez mais apertadas.

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Um gigante analógico em um setor digital

Apesar do porte, o Supermercados BH segue na contramão de muitas tendências do varejo. A empresa não possui e-commerce próprio, não aposta em delivery e mantém foco quase exclusivo na loja física.

Em entrevista recente à Folha de S.Paulo, Pedro Lourenço afirmou não acreditar no modelo online. Segundo ele, o objetivo é 'colocar as pessoas dentro das lojas', especialmente unidades de médio porte, entre 1.000 e 2.000 metros quadrados.

A estratégia, que funcionou até agora, começa a enfrentar desafios. A digitalização do consumo avança, e a concorrência com atacarejos como Assaí e Mart Minas se intensifica. Esses formatos atraem justamente o público popular que ajudou a construir o império do BH.

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O futuro: varejo pragmático e aposta emocional

Mesmo sem anunciar planos de expansão nacional, o Supermercados BH continua crescendo loja por loja. A incorporação do Bretas é o maior símbolo desse avanço recente.

Fora do varejo, Pedro Lourenço também passou a frequentar outro tipo de vitrine. Em 2024, comprou a SAF do Cruzeiro, clube do qual é torcedor declarado, em uma transação de R$ 600 milhões.

No futebol, a decisão foi movida pela paixão. No varejo, a lógica segue a mesma desde 1996: crescimento cauteloso, foco no básico e domínio do território. Uma estratégia simples que transformou uma mercearia de bairro em um dos maiores grupos supermercadistas do Brasil.

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