Cotidiano

O Império do Miojo: Como a Fome Pós-Guerra Criou um Fenômeno Global

Da reconstrução japonesa ao cotidiano moderno, o lámen instantâneo conta a história de uma invenção que virou símbolo de sobrevivência, inovação e conveniência

Ana Clara Durazzo

Publicado em 04/08/2025 às 09:00

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No Brasil, consumimos cerca de 2,3 bilhões de porções por ano, o que nos coloca entre os maiores consumidores fora da Ásia, atrás apenas dos Estados Unidos / Freepik

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Poucos alimentos representam tão bem a dualidade da modernidade quanto o macarrão instantâneo. Rápido, barato e prático, o famoso “miojo” tornou-se sinônimo de refeição simples para estudantes, trabalhadores apressados e sobreviventes de desastres.

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Mas por trás dos saquinhos de tempero e dos blocos de massa desidratada está a história de um homem que, movido pela fome e pela reconstrução do Japão no pós-guerra, criou um dos alimentos industrializados mais consumidos do planeta.

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A gênese do lámen instantâneo

O protagonista dessa história é Momofuku Ando, um empreendedor japonês nascido em 1910. Após perder os pais na infância, Ando passou por diversas tentativas frustradas de empreendimentos e chegou a ser preso em 1948 por evasão fiscal, acusação que ele sempre negou. Libertado dois anos depois, sem dinheiro e com a economia japonesa em ruínas, decidiu recomeçar.

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Foi em uma caminhada em Osaka, no final dos anos 1940, que teve o insight que mudaria sua vida, e a forma como o mundo se alimenta. Ele viu uma longa fila de pessoas malvestidas e com frio, aguardando por uma tigela de lámen, a tradicional sopa japonesa. Naquele momento, percebeu que o Japão precisava de um alimento nutritivo, barato, fácil de preparar e de longa durabilidade.

Ando passou um ano trancado em uma cabana, testando fórmulas com farinha doada pelos Estados Unidos, até desenvolver um método revolucionário: desidratar o macarrão por fritura rápida em óleo, o que permitia sua reidratação em apenas alguns minutos com água quente.

Nascia, em 1958, o “Chikin Rámen”, o primeiro macarrão instantâneo do mundo. A invenção, que a princípio custava mais do que o lámen fresco, foi pensada para um Japão em recuperação. Mas foi o ritmo acelerado da vida moderna que impulsionou seu sucesso: com os trabalhadores tendo apenas minutos para almoçar, o produto encontrou seu lugar ideal.

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De alimento de emergência à cultura pop

O sucesso do “lamen mágico” no Japão logo se espalhou. Em 1971, Ando lançou o Cup Noodle, macarrão em copo descartável, e iniciou a expansão internacional da Nissin, empresa que fundara. O alimento chegou ao Brasil em 1965 pelas mãos de um empresário chinês e ficou conhecido como miojo, uma adaptação da concorrente japonesa Myojo Foods. Em 1975, a própria Nissin se estabeleceu no país, assumindo o controle da marca e popularizando ainda mais o produto.

Ao longo dos anos, o miojo ganhou sabores locais, de curry tailandês a pizza indiana, e se adaptou a diferentes culturas. Ele já foi levado ao topo do Everest, a prisões nos Estados Unidos (onde é uma das moedas mais valiosas) e até ao espaço: em 2005, o astronauta japonês Soichi Noguchi levou Cup Noodles na missão do ônibus espacial Discovery, realizando o sonho do criador.

Sucesso com ressalvas

A invenção de Ando não é isenta de críticas. Com altos níveis de sódio e gordura saturada, o consumo excessivo pode trazer riscos à saúde, como apontam estudos da Universidade de Harvard. Ambientalistas também alertam para o impacto das embalagens plásticas e do uso de óleo de palma na produção.

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Ainda assim, a praticidade do miojo continua imbatível. Ele é considerado um alimento essencial em situações de emergência, como terremotos, e um símbolo da capacidade humana de inovar diante da adversidade.

Um legado duradouro

Momofuku Ando morreu em 2007, aos 96 anos, mas sua criação segue viva, e fervendo em panelas pelo mundo. Em 2017, foram consumidas mais de 100 bilhões de porções de macarrão instantâneo, o que equivale a mais de 3 mil pacotes por segundo.

No Brasil, consumimos cerca de 2,3 bilhões de porções por ano, o que nos coloca entre os maiores consumidores fora da Ásia, atrás apenas dos Estados Unidos. Já os sul-coreanos lideram o ranking per capita, com uma média impressionante de 69 porções por pessoa ao ano.

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De uma cabana improvisada no quintal de casa a prateleiras de mercados em todos os continentes, o miojo é mais do que uma refeição instantânea. É um retrato da resiliência humana, e do gênio de um homem que viu na fome uma oportunidade de mudar o mundo.

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