A adaptação começou a ser desenvolvida nos anos 1970 e, desde então, acumulou coincidências trágicas que impediram sua realização definitiva / Divulgação
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Um roteiro promissor, quatro estrelas da comédia americana e uma sequência de mortes que atravessou décadas. Assim nasceu a lenda de The Incomparable Atuk, um filme que nunca foi produzido, mas entrou para o imaginário de Hollywood como uma das obras mais 'amaldiçoadas' da história do cinema.
Inspirado no romance homônimo do escritor canadense Mordecai Richler, publicado em 1963, o projeto narraria a trajetória de Atuk, um jovem inuíte que deixa sua aldeia no Ártico para viver em Toronto.
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A história mistura choque cultural, humor ácido e crítica social ao acompanhar a tentativa do protagonista de se adaptar à vida urbana e à elite intelectual da cidade.
A adaptação começou a ser desenvolvida nos anos 1970 e, desde então, acumulou coincidências trágicas que impediram sua realização definitiva.
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Desde o início, Atuk atraiu grandes nomes da comédia norte-americana. Todos, porém, morreram antes ou durante o envolvimento com o projeto, o que alimentou a fama de maldição.
O primeiro escolhido foi John Belushi, astro do Saturday Night Live e de Os Irmãos Cara de Pau. Em 1982, ele recebeu o roteiro e se preparava para iniciar as filmagens quando morreu de overdose, aos 33 anos, em Los Angeles.
Anos depois, o papel passou para Sam Kinison, comediante conhecido pelo humor agressivo no stand-up. Kinison chegou a filmar algumas cenas no fim dos anos 1980, mas divergências criativas interromperam o projeto. Em 1992, ele morreu em um acidente de carro, aos 38 anos.
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No início da década de 1990, o nome cogitado foi John Candy, um dos maiores ícones da comédia americana, conhecido por filmes como Antes Só do que Mal Acompanhado. Candy morreu de um ataque cardíaco fulminante em 1994, aos 43 anos, no México, antes de iniciar qualquer gravação.
O último ator associado ao papel foi Chris Farley, também ex-integrante do SNL e um dos grandes talentos da comédia dos anos 1990. Farley via em Atuk a chance de amadurecer artisticamente, mas morreu de overdose em dezembro de 1997, aos 33 anos, antes de assinar o contrato.
Após a morte de Farley, o projeto foi abandonado definitivamente.
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O romance de Richler sempre foi visto como material de alto potencial cinematográfico. A obra satiriza a hipocrisia da elite urbana, aborda questões de identidade cultural e expõe o olhar condescendente da sociedade sobre povos originários, tudo embalado por humor ácido.
O roteiro da adaptação foi escrito por Tod Carroll, ex-redator da revista National Lampoon, e chegou a circular amplamente entre estúdios e produtores. Apesar disso, a sequência de mortes acabou se sobrepondo às qualidades artísticas do projeto.
Carroll nunca acreditou na ideia de uma maldição. Em entrevista ao Los Angeles Times, em 1999, afirmou que não era supersticioso e que, com o ator e o tom certos, Atuk poderia ter se tornado um grande filme. Ainda assim, o estigma foi mais forte.
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Com o passar dos anos, The Incomparable Atuk deixou de ser apenas um roteiro engavetado para se transformar em uma das maiores lendas urbanas de Hollywood. O projeto passou a ser citado como exemplo de obra 'proibida', daquelas que ninguém ousa retomar.
Quase meio século depois, Atuk segue existindo apenas no papel e nas histórias contadas nos bastidores da indústria. Para muitos, é o filme que nunca existiu — e que talvez seja melhor assim. Em um meio que vive de narrativas, o roteiro acabou encontrando sua forma definitiva não nas telas, mas no imaginário coletivo do cinema.