Cotidiano

No lugar mais infernal do mundo, as pessoas vivem na miséria e não passam dos 35 anos

Com cerca de 30 mil habitantes, La Rinconada sobrevive em meio a pobreza extrema, frio intenso e ausência total de infraestrutura

Ana Clara Durazzo

Publicado em 20/10/2025 às 10:45

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Conhecida como a cidade mais alta do planeta, o local ganhou um apelido ainda mais sombrio: 'a cidade mais infernal do mundo' / Reprodução/Youtube Ruhi Çenet

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Encravada a 5.100 metros de altitude nos Andes peruanos, La Rinconada é um lugar onde o ser humano parece testar os limites da própria existência. Conhecida como a cidade mais alta do planeta, o local ganhou um apelido ainda mais sombrio: 'a cidade mais infernal do mundo'.

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Com cerca de 30 mil habitantes, La Rinconada sobrevive em meio a pobreza extrema, frio intenso e ausência total de infraestrutura. Não há água potável, rede de esgoto, coleta de lixo, hospitais nem ruas asfaltadas. Ainda assim, milhares de pessoas continuam chegando, movidas por uma promessa que raramente se cumpre: a de encontrar ouro.

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Ouro que brilha entre miséria e morte

La Rinconada nasceu da corrida pelo ouro e vive em função dele. Toda a economia gira em torno da mineração artesanal, marcada pela exploração e pela contaminação.

O método mais comum de trabalho é o chamado 'cachorreo', no qual os mineiros passam 30 dias sem salário e, no último dia do mês, têm o direito de ficar com o ouro que conseguirem extrair. Se não encontrarem nada, ficam sem um centavo.

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Essa busca pelo metal precioso cobra um preço alto. O processo de separação do ouro exige o uso intenso de mercúrio, substância altamente tóxica que envenena o solo, o ar e os rios. Crianças, mulheres e idosos manipulam o metal sem qualquer tipo de proteção, e as consequências são fatais: a expectativa de vida média é de apenas 35 anos.

A contaminação atinge até os rios glaciais que abastecem comunidades vizinhas, ampliando o rastro de destruição ambiental.

Onde falta oxigênio, sobra sofrimento

Viver a mais de cinco mil metros acima do nível do mar significa respirar um ar com metade do oxigênio disponível em regiões baixas. Isso provoca o chamado mal de montanha crônico, que causa fadiga constante, dores de cabeça, insônia e perda de apetite.

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Para sobreviver, o corpo dos moradores desenvolve adaptações impressionantes, como níveis altíssimos de hemoglobina, mas isso também sobrecarrega o coração e os pulmões, aumentando os casos de doenças cardiovasculares e respiratórias.

É um ambiente em que cada respiração é um esforço e cada dia vivido é uma conquista.

Violência, exploração e rituais sombrios

Além da pobreza e da contaminação, La Rinconada convive com violência e exploração sexual. Reportagens internacionais denunciam a existência de centenas de prostíbulos clandestinos, onde mulheres e adolescentes são vítimas de prostituição forçada, atraídas por falsas promessas de emprego.

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O ambiente de ilegalidade também alimenta crenças e rituais. Alguns mineradores fazem oferendas — que vão de folhas de coca a roupas íntimas femininas — para pedir proteção e atrair sorte nas minas.

Com uma taxa de homicídios de 52,9 por 100 mil habitantes, a cidade vive sob uma atmosfera de medo constante, onde a vida humana parece ter o mesmo valor frágil do ouro que todos procuram.

O inferno no topo do mundo

Apesar de tudo, La Rinconada continua crescendo. A cada ano, novos migrantes chegam dos vales e cidades vizinhas, movidos por histórias de riqueza e esperança. Mas o que encontram é um cenário de degradação, onde o Estado está ausente, a lei é substituída pela força, e o ouro dita as regras.

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Em La Rinconada, a sobrevivência é uma batalha diária. Entre o frio que corta, o ar que falta e a miséria que domina, o ouro segue brilhando, não como símbolo de riqueza, mas como espelho cruel da ganância humana.

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